ÁGUA SEM FLORESTAS?
Sibylla Schneider Dietzold e Nelson Luiz Wendel

As
florestas têm importância vital para o equilíbrio ambiental e ecológico do planeta. Elas promovem a amenização do clima, a troca atmosférica, a manutenção da biodiversidade e a reciclagem dos solos. Florestas, além de proporcionarem condições fundamentais para a existência da vida, também apresentam enorme importância para os interesses socioeconômicos e culturais, fornecendo inúmeros produtos, desde madeiras, energia, alimentos e remédios, até valores edílicos e turísticos, tais como belas paisagens. Entre as mais importantes funções desempenhadas pelas florestas está a proteção e preservação que proporcionam aos mananciais de água potável, cada vez mais escassos.
A eficiência e produtividade de mananciais em florestas estão em relação direta com o grau de integridade do ecossistema florestal, constituído por fauna, flora, e inúmeras relações entre os seres que ali convivem. Nas florestas, a água da chuva é interceptada pelas árvores, armazena-se nas folhas mortas sobre o solo e lentamente esta água se infiltra nos lençóis subterrâneos, abastecendo os mananciais. Com a destruição florestal, toda essa dinâmica é comprometida. Sem árvores, a energia da chuva desagrega e arrasta o solo em processos de erosão, assoreando rios e provocando enchentes; com a redução da infiltração de água no solo reduz-se drasticamente a produtividade dos mananciais. Portanto, destruir florestas é destruir mananciais, comprometendo a disponibilidade de água potável.
Apesar de sua importância, as florestas do planeta não estão recebendo a atenção devida. Vêm sendo destruídas num ritmo acelerado, e calcula-se que cerca de dois terços já não existem mais. Nesse quadro trágico, o Brasil figura como o país que mais destrói suas matas. Após a histórica devastação da mata atlântica, que continua sendo atacada, apesar de resumida a apenas 7,8% de sua área original, prossegue o saque predatório à floresta amazônica, ao cerrado e à caatinga. Em razão desse imprevidente, e por que não dizer irracional comportamento, tornam-se cada vez mais freqüentes as crises de falta d'água que afetam o bem-estar das populações e comprometem a economia. A conseqüência é a elevação dos custos sociais, principalmente nos territórios da mata atlântica, na qual concentra-se uma população superior a 100 milhões de habitantes e 70% do PIB nacional.
Florestas nativas devem ter sua real importância reconhecida. Precisam ser valorizadas como produtoras de água, além de sua função na perpetuação da biodiversidade e do equilíbrio ecológico. São essenciais para um desenvolvimento sustentável a longo prazo, agregando produtividade ecossistêmica (água, ar, biodiversidade, estabilidade geomorfologica). Um vigoroso programa de florestas nativas, além de garantir a disponibilidade de água, criaria milhões de empregos e melhores perspectivas para as gerações futuras.
Se quisermos construir uma nação sustentável e justa, com adequado provisionamento de água em quantidade e qualidade, precisamos - sociedade civil e poder público - aprender a valorizar e gerenciar eficientemente os recursos naturais. Capacitar os órgãos ambientais, promover a conscientização da sociedade sobre as relações entre florestas e água, incentivar o desenvolvimento efetivo dos comitês de bacias hidrográficas e implementar planos regionais e nacional de recursos hídricos são algumas das medidas urgentes a serem implementadas. Acima de tudo, devemos aprender a abordar a temática água e florestas de maneira integrada, ou seja, da única forma que sempre deveria ter sido tratada. E, antes de mais nada, fazer cessar, os vergonhosos desmatamentos.

Sibylla Schneider Dietzold, presidente da ONG Associação Ecológica Joinvilense VidaVerde e vice-presidente da Ciser S. A.

sibylla@ciser.com.br
Nelson Luiz Wendel, diretor-técnico da VidaVerde e presidente da Aprema-SC/nelsonwendel@estadao.com.br