Pobres na AL sofrerão mais com mudança climática, diz ONU
Guido Nejamkis
BRASÍLIA (Reuters) - Tempestades
mais intensas, escassez de água, redução da produtividade agrícola e
desaparição de numerosas praias do Caribe seriam alguns dos desastrosos efeitos
do aquecimento global na América Latina, segundo um relatório divulgado na
terça-feira.
O Relatório sobre o Desenvolvimento
Humano 2007-2008, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud),
indicou também que esses efeitos podem provocar um grave retrocesso social numa
região onde a pobreza já é endêmica e onde há pouca capacidade de manejo dos
riscos climáticos.
"Os lares pobres se vêem obrigados
a enfrentar as crises geradas pelo clima em circunstâncias desfavoráveis,
situação que aprofundará as desigualdades econômicas e sociais e agravará as
condições de privação em que vivem", disse o relatório divulgado em
Brasília.
"Serão os pobres que sofrerão
as piores consequências e quem terão de enfrentar esta crise com os escassos
recursos que possuem", disse o texto, prevendo maior intensidade e
tempestades tropicais e um aquecimento da água do mar.
"As regiões da América Central
e Caribe são especialmente vulneráveis a estes fenômenos. O aumento de 50
centímetros no nível do mar provocaria a perda de mais de um terço das praias
do Caribe", afirmou o trabalho, num alerta sobre os danos ao setor
turístico.
Outro problema citado é a
infiltração de água salgada na rede de abastecimento, o que obrigaria os
governos a fazerem pesados investimentos em dessalinização.
O Pnud advertiu no relatório que o
aquecimento global pode criar riscos à produção agrícola e à segurança
alimentar da América Latina, por causa das mudanças nos regimes de chuvas e
temperaturas, afetando a disponibilidade de água para os cultivos.
"Podem-se esperar perdas
consideráveis na produtividade agrícola, o que terá efeitos negativos diretos
na redução da pobreza", afirmou o texto.
Os alertas se baseiam em estudos
sobre os efeitos de diferentes furacões nos últimos anos na América Central e
Caribe, em que famílias rurais pobres foram as mais afetadas por perdas na
safra e na renda.
Em relação ao Brasil, o relatório
diz que o país é o quinto maior emissor mundial de gases do efeito estufa,
especialmente por causa da devastação da Amazônia.
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA EM RISCO
O aquecimento global ameaça também a
disponibilidade futura de água na região, devido particularmente ao degelo dos
glaciais na zona andina.
"Os glaciares se derretem com
rapidez no Peru e na Bolívia, e se projeta a desaparição daqueles localizados a
baixa altitude em poucas décadas. O recuo dos glaciares ameaça diminuir a
disponibilidade de água para milhões de pessoas", afirmou o Pnud.
No Peru, os glaciares fornecem 80
por cento da água consumida nas principais cidades.
Novos surtos de dengue, doença
epidêmica em países como Brasil, Honduras, El Salvador e Venezuela, poderiam
ocorrer por causa da mudança climática, chegando inclusive a regiões do
continente hoje imunes à infecção.
O colapso dos ecossistemas marítimos
também poderia provocar um sem-número de problemas, afetando desde a nutrição
da população até o setor turístico.
O trabalho do Pnud propõe que os
países em desenvolvimento recorram à cooperação internacional para a
transferência e financiamento de novas tecnologias que ajudem a mitigar o
impacto da mudança climática e recomenda aos países pobres incluir a adaptação
ao aquecimento global em suas estratégias de redução da pobreza.
(Com reportagem adicional de Raymond
Colitt)