CLASSIFICAÇÃO DA VEGETAÇÃO BRASILEIRA

Fonte: http://www.ambientebrasil.com.br em 27/09/02

 

Conceituação fitogeográfica brasileira (IBGE, 1992).

A vegetação do Brasil, compreendida na Zona Neotropical, pode ser dividida, segundo o aspecto geográfico em dois territórios: o amazônico e o extra-amazônico.

No território Amazônico (área ombrófila), o sistema ecológico vegetal responde a um clima de temperatura média em torno de 25ºC e de chuvas torrenciais bem distribuídas durante o ano, sem déficit hídrico mensal no balanço ombrotérmico anual. No território extra-amazônico (área ombrófila e estacional), o sistema ecológico responde a dois climas - um tropical com temperaturas médias em torno de 22ºC e precipitações atmosféricas marcadas por um déficit hídrico, superior a 60 dias no balanço ombrotérmico anual, e um subtropical, com temperaturas suaves no inverno, que amenizam a média anual situada em torno de 18ºC. As chuvas são moderadas e bem distribuídas durante o ano, não ocorrendo, por isso, déficit hídrico mensal no balanço ombrotérmico anual. Contudo, há uma fase de dormência vegetativa, provocada pelas baixas temperaturas dos meses mais frios do ano.

Em cada uma dessas áreas climáticas, deu-se, através do tempo, uma adaptação da forma e do comportamento das plantas às características da estação desfavorável, seja seca ou fria ou ambas simultaneamente.

As plantas brasileiras apresentam-se em todas as formas de vida, conforme a posição e proteção dos órgãos de crescimento em relação aos períodos climáticos, pois o País localiza-se entre 5º de latitude N e 32º de latitude S, com altitudes que vão do nível do mar a mais de 3000 m. Em conseqüência, apresenta condições ecológicas variadíssimas, desde o ambiente equatorial ao temperado do Planalto Meridional, onde chegam a ocorrer nevascas nos pontos mais altos da sua porção sul.

Distribuição da Flora Neotropical Brasileira (IBGE, 1992)

Este estudo fitoecológico foi alicerçado em dois princípios da lógica científica - a deriva das placas continentais e a evolução monofilética dos seres vivos. A hipótese da deriva das placas continentais foi inicialmente atribuída a Weneger, na década de 20, para o período Permocarbonífero e somente foi novamente aceita, sem restrições, após os trabalhos publicados na revista American Geographic, nas décadas de 60 e 70.

Esta reunião de estudos geofísicos e paleontológicos comprovou a existência de dois eventos tectônicos de movimentos de placas. O primeiro corresponde à separação do grande continente da Pangéia, circundado pelo mar de Tetys, em dois continentes menores - o Gondwânia, no hemisfério Sul e o Laurásia no hemisfério Norte. O segundo corresponde ao movimento das atuais plataformas continentais que vem se realizando desde o fim do Período Cretáceo até os nossos dias.

Embora tais eventos paleogeográficos continuem ainda sendo debatidos, o que não mais se discute é a origem monofilética dos seres vivos, pois a evolução das plantas teve, como a dos animais, um tronco biológico único que se dividiu através do tempo.

A vegetação brasileira recebeu, antes da deriva das placas continentais, o concurso de plantas pantropicais que, após este evento, formaram endemismos em famílias, gêneros e espécies, constituindo, assim, os Domínios Florísticos e as Regiões da Zona Neotropical.

 

CLASSIFICAÇÕES BRASILEIRAS (VELOSO et alii, 1991)

Classificação de Martius

Classificação de Gonzaga de Campos

Classificação de Alberto J. Sampaio

Classificação de Lindalvo Bezerra dos Santos

Classificação de Aroldo de Azevedo

Classificação de Edgar Kuhlmamn

Classificação de Andrade-Lima e Veloso

Classificação do Projeto RADAM

Classificação de Rizzini

Classificação de George Eiten

Classificação de Martius

A história da Fitogeografia Brasileira iniciou-se com a classificação de Martius em 1824, que usou nomes de divindades gregas para sua divisão botânica. Esta classificação continua até hoje, após tantos anos de tentativas de novas classificações, sem uma definição de aceitação dentro do consenso geográfico brasileiro.

O mapa fitogeográfico de Martius foi anexado por Gisebach no volume XXI da Flora Brasiliensis em 1858 e nele há cinco regiões florísticas:

1. Nayades (flora amazônica)

2. Hamadryades (flora nordestina)

3. Oreades (flora centro-oeste)

4. Dryades (flora da costa atlântica)

5. Napeias (flora subtropical)

Esta divisão florística permanece, pois, além de apresentar ligações filogenéticas bastante confiáveis, foi baseada em coletas botânicas classificadas pelos maiores especialistas da época (VELOSO et alii, 1991).

Classificação de Gonzaga de Campos

Passaram-se 102 anos até aparecer nova classificação fitogeográfica brasileira, que foi a de Gonzaga de Campos (1926), não mais florística, mas sim fisionômico-estrutural.

1 – Florestas

Floresta Equatorial

a) das várzeas

b) das terras firmes

Floresta Atlântica

a) das encostas

b) dos pinheiros

Floresta pluvial do interior

a) savana

b) cerradão

Matas ciliares

Capoeiras e Capoeirões

2 – Campos

Pastos

Campinas

Campos do Sul

a) limpos

b) sujos

Campos Cerrados

Campos alpinos

3 – Caatingas

Classificação de Alberto J. Sampaio

O botânico Alberto J. Sampaio (1940) divide a vegetação brasileira em Flora Amazônica ou Hylae Brasileira e Flora Geral ou Extra Amazônica. Retoma, do seguinte modo, o conceito florístico para uma classificação fitogeográfica.

I - Flora Amazônica ou Hylae brasileira

do Alto rio Amazonas

do Baixo rio Amazonas

II - Flora Geral ou Extra - Amazônica

Zona dos Cocais

Zona das Caatingas

Zona das Matas Costeiras

Zona dos campos

Zona dos Pinhais

Zona Marítima

Classificação de Lindalvo Bezerra dos Santos

Lindalvo Bezerra dos Santos, em 1943, apresentou uma divisão fitogeográfica puramente fisionômica, acompanhada de terminologia regionalista. Pode-se, assim, considerar esta classificação como a primeira baseada no caráter fisionômico das formações vegetais, segundo o conceito de Grisebach (Veloso et alii, 1991).

I - Formações florestais ou arbóreas

Floresta amazônica ou hylae brasileira

Mata Atlântica

Mata dos Pinhais ou Floresta Araucária

Mata do Rio Paraná

Babaçuais ou Cocais de Babaçu

Mata de Galeria

II - Formações arbustivas e herbáceas

Caatinga

Cerrado

Campos gerais

Campinas ou Campos limpos

III - Formações complexas

Formação do Pantanal

Formações litorâneas

Classificação de Aroldo de Azevedo

Aroldo de Azevedo (1950) usou, em São Paulo, a mesma classificação de L. B. dos Santos, geógrafo do IBGE no Rio de janeiro, como se vê a seguir:

A - Formações florestais ou arbóreas

I - Floresta amazônica ou Hylae brasileira

II - Mata Atlântica

III - Mata do Rio Paraná

IV - Mata dos Pinhais ou Floresta Araucária

V - Mata de Galeria

VI - Babaçuais

B- Formações arbustivas e herbáceas

I - Caatinga

II - Cerrado

III - Campos gerais

IV - Campinas ou campos limpos

C- Formações complexas

I - Formação do Pantanal

II - Formações litorâneas

Classificação de Edgar Kuhlmamn

Em 1960, Edgar Kuhlmamn apresentou nova divisão fitogeográfica brasileira, baseando-se em conceitos climatoestruturais e terminológicos regionais, retornando, assim, a uma divisão de tipos estruturais.

I - Tipos arbóreos

A - Floresta trópico equatorial

B - Floresta semidecídua tropical

C - Floresta de araucária

D - Manguezal

II - Tipo herbáceo

E - Campo limpo

III - Tipos arbóreo-herbáceos ou intermediários

F - Cerrado

G - Caatinga

H - Complexo do Pantanal

I - Praias e dunas

 

Classificação de Andrade-Lima e Veloso

Andrade-Lima (1966) e Veloso (1966), o primeiro no Atlas Geográfico do IBGE e o segundo no Atlas Florestal do Brasil (Serviço de Informação agrícola – SIA), usaram um novo sistema de classificação da vegetação brasileira. Voltaram a empregar o termo formação para dividir os grupos maiores de vegetação e uma terminologia estrutural ecológica nas subdivisões florestais, seguida da terminologia regionalista para as subdivisões não-florestais (Veloso et alii, 1991):

A - Formações florestais

I - Floresta pluvial tropical

II - Floresta estacional tropical

III - Floresta caducifólia tropical

IV - Floresta subtropical

B - Formações não- florestais

I - Caatinga

II - Cerrado

III - Campo

C - Formações edáficas

Classificação do Projeto RADAM

Na década de 70, o grupo do projeto RADAM, encarregado de equacionar o mapeamento da vegetação amazônica e parte da nordestina, criou uma escola fitogeográfica baseada em Ellemberg e Mueller-Dombois. Ao longo de dez anos, as várias tentativas de classificação da vegetação brasileira sofreram alterações que culminaram com a apresentação da "Classificação fisionômica-ecológica das formações neotropicais" (Veloso e Góes-Filho, 1982), por Veloso et alii (1991).

1 - Região Ecológica da Savana

Arbórea densa

Arbórea aberta

Parque

Gramíneo-lenhosa

2 - Região Ecológica da Estepe (Caatinga e Campanha Gaúcha)

Arbórea densa

Arbórea aberta

Parque

Gramíneo-lenhosa

3 - Região Ecológica da Savana estéoica (vegetação de Roraima, Chaquenha e parte da Campanha Gaúcha)

Arbórea densa

Arbórea aberta

Parque

Gramíneo-lenhosa

4 - Região Ecológica da Vegetação Lenhosa Oligotrófica Pantanosa (Campinarana)

Arbórea densa

Arbórea aberta

Gramíneo-lenhosa

5 - Região Ecológica da Floresta Ombrófila Densa (Floresta Pluvial Tropical)

Aluvial

Das Terras Baixas

Submontana

Montana

Alto-montana

6 - Região Ecológica da Floresta Ombrófila Aberta (4 faces da floresta densa)

Das Terras Baixas

Submontana

Montana

7 - Região Ecológica da Floresta Ombrófila Mista (Floresta das Araucárias)

Aluvial

Submontana

Montana

Alto-montana

8 - Região Ecológica da Floresta Estacional Semidecidual (Floresta subcaducifólia)

Aluvial

Das Terras Baixas

Submontana

Montana

9 -Região Ecológica da Floresta Estacional Decidual (Floresta caducifólia)

Aluvial

Das Terras Baixas

Submontana

Montana

10 - Áreas das Formações Pioneiras

com influência marinha

influência fluvio-marinha

influência fluvial

11 - Áreas de Tensão Ecológica (contato entre regiões)

com misturas florísticas (ecótono)

com encraves florísticos (encrave)

12 - Refúgios Ecológicos

13 - Disjunções Ecológicas

Classificação de Rizzini

Em 1963, o botânico Rizzini, naturalista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, apresentou a seguinte classificação (Veloso et alii, 1991):

· Floresta Amazônica

· Floresta Atlântica

· Complexo do Brasil Central

· Complexo da Caatinga

· Complexo do Meio norte

· Complexo do Pantanal

· Complexo da Restinga

· Complexo do Pinheiral

· Campos do Alto Rio Branco

· Campos da Planície Rio-grandense

Posteriormente, em 1979, Rizzini, usando o caráter fisionômico das formações, classificou a vegetação brasileira do seguinte modo:

I - Matas ou Florestas

Floresta paludosa

amazônica

litorânea

austral

marítima

Floresta pluvial

amazônica

esclerófila

montana

baixo-montana

dos tabuleiros

de araucária

ripária ou em manchas

Floresta estacional

mesófila perenifolia

mesófila semidecídua

de Orbignya (babaçu)

mesófila decídua

mesófila esclerófila

xerófila decídua

Thicket (scrub)

lenhoso-atlântico

esclerófilo-amazônico

esclerófilo

lenhoso-espinhoso

suculento

em moitas

Savana

central

litorâneo

II - Campo ou grassland

Limpo de quartzito

Limpo de canga

Gerais

Pampas

Alto-montano

Brejoso

do alto Rio Branco

 

Classificação de George Eiten

George Eiten, da Universidade de Brasília, em 1983, desconheceu a proposta elaborada pelo RADAM BRASIL e apresentou uma nova classificação da vegetação brasileira. A classificação deste fitogeográfo contém 24 itens principais, subdivididos de modo regionalista e muito detalhado, impossíveis de serem utilizados em mapeamento de detalhe (Veloso et alii, 1991).

- Floresta Tropical Perenifólia

de várzea estacional

de várzea de estuário

pantanosa

nebulosa

de terra firme

latifoliada perenifólia

II - Floresta Tropical Caducifólia

mesofítica latifoliada semidecídua

mesofítica latifoliada semidecídua e de babaçu

mesofítica latifoliada decídua

III. Floresta Subtropical Perenifólia

de araucária

latifoliada perenifólia com emergentes de araucária

de podocarpus

latifoliada perenifólia

arvoredo subtropical de araucária

savana subtropical de araucária

IV. Cerrado

cerradão

cerrado

campo cerrado

campo sujo de cerrado

campo limpo de cerrado

V. Caatinga

florestal

de arvoredo

arbóreo-arbustiva fechada

arbóreo-arbustiva aberta

arbustiva aberta

arbustiva fechada

savânica

savânica lajeada

VI. Pradaria Subtropical

VII. Caatinga amazônica

arbórea

arbustiva fechada

arbustiva aberta

savânica

campestre

VIII. Campo rupestre

IX. Campo Montano

X. Restinga Costeira

arbórea

arbustiva fechada

arbustiva aberta

savânica

campestre

XI - Campo praiano

XII - Manguezal

arbóreo

arbustivo

XIII – Vereda

XIV – Palmeiral

XV – Chaco

XVI - Campo litossólico

XVII - Brejo estacional

XVIII - Campo de murunduns

XIX – Pantanal

XX - Campo e savana amazônicos

XXI – Bambuzal

XXII - Brejo permanente (de água doce, salobra ou salgada)

XXIII - Vegetação aquática

XXIV - Vegetação de afloramentos de rocha