10/02/2005
CIENTISTAS QUEREM COLOCAR CÓDIGO DE BARRA EM TODAS AS ESPÉCIES
Jonathan Amos da BBC Brasil
Cientistas querem criar um enorme catálogo de toda a vida existente na Terra,
estabelecendo "códigos de barra" para cada espécie --do menor plâncton
à gigantesca baleia azul.
A idéia foi divulgada em Londres na Conferência Internacional para Codificação
em Barras da Vida.
A etapa inicial prevê a catalogação de todos os tipos de peixe conhecidos
--atualmente 15 mil que vivem no mar e 8.000 em água doce. O grupo seguinte
deverá ser o dos pássaros.
Para tanto, os cientistas vão registrar detalhes da composição genética dos
seres que podem ser usados para diferenciar uma espécie da outra. Os
pesquisadores admitem que deverão demorar anos para completar o projeto.
"Cerca de 1,7 milhão de espécies são conhecidas e nós suspeitamos que existam
entre dez milhões e 30 milhões de espécies na Terra", afirma o diretor do
Museu de História Natural de Londres, Richard Lane.
"Nós descobrimos que é bastante possível haver uma pequena seqüência de DNA
que caracteriza vários tipos de vida no planeta."
Código de barra
Vários representantes de uma mesma espécie serão analisados para que os pesquisadores
possam extrair a sua informação genética "em código de barras". Cada
um desses testes deverá custar uma libra esterlina (ou cerca de R$ 4).
O passo seguinte será colocar todos os dados em um grande banco de dados que o
CBOL (Consórcio para a Codifição em Barra da Vida, em inglês) espera poder ser
usado em combinação com todo o conhecimento científico acumulado.
O consórcio reúne uma série de museus, zoológicos, instituições de pesquisa e
empresas envolvidas com taxonomia (classificação dos organismos) e
biodiversidade.
"É como um policial que vê um carro infringindo a lei e tudo o que ele tem
é o número da placa, mas com esse número ele sabe quem é o proprietário e a
data em que o carro foi comprado", explica o professor da Universidade de
Pensilvânia Dan Janzen.
"Um código de barras é isso --é o que liga você ao corpo de informações que
os taxonomistas, os historiadores naturais e os ecologistas vêm acumulando nos
últimos 200 anos."
Os códigos de barras de DNA em princípio facilitariam o reconhecimento de
espécies em campo, especialmente em casos em que os métodos tradicionais de
identificação não são nada práticos. Além disso, o processo seria mais
confiável, principalmente para leigos.
O conhecimento da existência de todas as espécies que existem no planeta nos
ajudaria a responder questões fundamentais sobre a evolução e a ecologia. Com
essa informação, poderíamos ter melhores políticas para gerir e conservar o
mundo à nossa volta.
O segmento de DNA a ser usado no projeto é encontrado num gene conhecido como
citocroma c oxidase I ou COI.
O gene está envolvido na metabolização de todas as criaturas mas é codificado
de formas ligeiramente diferentes de espécie para espécie.
Nos seres humanos, os códigos de barra diferem de um indíviduo para outro por
apenas uma ou duas "letras" no DNA --a sequência do código genético é
composta por 648 "letras". Em relação aos chimpanzés, nós nos diferenciamos
em 60 pontos da sequência e em relação aos gorilas, em 70.
Depois dos peixes e dos pássaros, grupo que abrange mais 10 mil espécies, os
cientistas pretendem "etiquetar" geneticamente as cerca de 8.000
plantas existentes na Costa Rica.
Críticas
A catalogação por código de barras é recebida com resistência com parte da
comunidade científica. Alguns pesquisadores temem a perda do conhecimento de
métodos tradicionais de identificação e questionam a credibilidade do novo
sistema.
O especialista em borboletas da University College de Londres James Mallet
apóia o projeto, mas questiona o conceito de código de barras, que considera
inadequado para espécies novas ou híbridas.
"Eu só gostaria que o projeto não fosse chamado de código de barra porque
isso implica que as coisas são idênticas --é assim que você um produto. Isso
não é verdade no DNA mitocondrial e, num contexto evolutivo onde as espécies se
desdobram em outras, isso é muito mais complicado."
Segundo Mallet, quanto mais próximas duas espécies são, mais informações você
precisa para diferenciá-las.