CONTROLE BIOLÓGICO DE INSETOS-PRAGA NA SOJA ORGÂNICA

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A soja orgânica

A produção de soja em sistemas orgânicos tem apresentado crescente demanda por parte de países da comunidade européia e Japão tanto para consumo humano como para a alimentação de animais em sistemas orgânicos. As vantagens econômicas, através de preços de compra diferenciados, aliadas ao crescente apelo em relação à conservação ambiental e aumento na demanda mundial por alimentos de melhor qualidade têm atraído o interesse de vários produtores na região do Distrito Federal.

A certificação da produção de soja em sistemas orgânicos depende da adoção de técnicas que estejam de acordo com as normas de entidades certificadoras e do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Nesse sistema o controle de pragas deve ser baseado em métodos naturais , sem o uso de agrotóxicos.

A equipe de controle biológico da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, juntamente com os técnicos da Emater DF acompanharam unidades de observação de soja orgânica na região do PAD-DF para propor recomendações de controle biológico para os insetos praga.

A lagarta da soja

A lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis, é a principal praga da cultura durante a fase vegetativa, podendo causar graves perdas devido ao desfolhamento das plantas.

A ocorrência de chuvas regulares entre dezembro e fevereiro favorece o ataque natural da "doença branca" causada pelo fungo Nomureae rileyi. A observação de lagartas cobertas com pó verde (mofo) indica que não há necessidade de aplicar outros métodos de controle.

O produto biológico mais utilizado para o controle da lagarta da soja é Baculovirus anticarsia. Este vírus, após ser ingerido pelas lagartas, faz com que estas parem de se alimentar em cerca de 4-7 dias e morram em 7-10 dias e é mais eficiente em lagartas pequenas.

A ação relativamente lenta do produto é compensada pela sua ação persistente no campo, devido à re-inoculação do vírus pelas lagartas mortas.

O vírus deve ser aplicado quando se detectam no pano de batida um número médio de 40 lagartas pequenas (menores que 1,5 cm) ou 30 lagartas pequenas e 10 lagartas grandes.

Outro produto biológico muito eficiente contra a lagarta da soja é o Bacillus thuringiensies subesp. kurstaki (ex.: Dipel). Este produto é encontrado no comércio local nas formulações "Pó Molhável" e "Suspensão Concentrada".

O bacilo age rapidamente após ser ingerido pelas lagartas que param de se alimentar em 1-2 dias e morrem em cerca de 3-4 dias. Embora B. thruringiensis atue rapidamente, a persistência de sua ação no campo é curta não sendo visível a re-incidência natural do agente após a morte das primeiras lagartas.

Na ocorrência de outras pragas como a lagarta enroladeira de folhas, Omiodes (Hedylepta) indicata e a brroca das axilas, Epinotia aporema, na área, recomenda-se o uso de Bacillus thuringiensis associado a um agente irritante como a pimenta.

Os percevejos da soja

Após a floração da soja, percevejos (Heteroptera: Pentatomidae) são as pragas mais importantes na fase de formação e desenvolvimento dos grãos.

Os primeiros percevejos observados pertencem à espécie Edessa meditabunda. As espécies mais importantes na região são o percevejo marrom, Euschistus heros, o percevejo verde pequeno, Piezodorus guildinii, e o percevejo verde, Nezara viridula.

O controle dos percevejos pode ser feito através da liberação preventiva de vespinhas parasitas de ovos dos percevejos, Telenomus podisi (Hymenoptera: Scelionidae). Foram liberadas 5.000 vespinhas por hectare divididas em duas aplicações com um intervalo de duas semanas seguindo a recomendação da Embrapa Soja.

Recomendações

O levantamento populacional semanal é um componente fundamental no manejo das pragas na soja. O conhecimento das densidades populacionais permite a aplicação dos métodos de controle somente quando as populações dos insetos alcançam densidades que podem causar danos econômicos à soja. Dessa forma, promove-se o uso racional dos produtos e a economia de recursos.

O uso de bioinseticidas à base de Bacillus thuringiensies subesp. kurstaki (Dipel SC) na dosagem de 0,5 l/ha contra lagartas grandes e pequenas e do Baculovírus anticarsia na dosagem de 20 g/ha contra lagartas pequenas foram eficientes no controle biológico da lagarta da soja, sendo que o primeiro também controla satisfatoriamente a lagarta enroladeira das folhas e a broca das axilas.

As vespinhas parasitas de ovos, Telenomus podisi, aplicadas na dose de 5.000 vespas/ha contra percevejos -praga evitaram a ocorrência de danos econômicos.

Os métodos de controle propostos apresentaram custos compatíveis com o custo total da cultura e sua rentabilidade.