SOLTURA AJUDARÁ NA
RECOMPOSIÇÃO DE CORREDOR BIOLÓGICO DA ESPÉCIE
Com a reintrodução na natureza de Aldo e
Pipinha na Praia do Patacho, em Alagoas, o Centro Peixe-boi/Ibama está
recompondo o corredor biológico da espécie Trichechus manatus. Nesse trecho do
litoral do Nordeste não se tinha mais registros da presença de peixe-boi
marinho. Esses mamíferos aquáticos, tão gigantescos quanto dóceis, foram quase
dizimados do litoral do Nordeste. Estima-se que a população desses sirênios na
costa nordestina não ultrapasse 250 exemplares.
Aldo foi resgatado no dia 21 de fevereiro
de 1996 na praia de Quixaba, Ceará. Pipinha chegou ao Centro Peixe-boi, em
Itamaracá, no dia 5 de novembro do mesmo ano, salva de um encalhe na praia de
Pipa, no Rio Grande do Norte. Até se adaptarem ao ambiente marinho, Aldo e
Pipinha podem encalhar novamente, assim como aconteceu com o casal Astro e Lua,
soltos na natureza em outubro de 94, antes de se acostumarem com o movimento do
mar.
Uma equipe da base do Centro Peixe-boi em
Alagoas está acompanhando as primeiras semanas do casal na natureza.
"Contamos com o apoio da comunidade de Porto de Pedras", diz Régis
Pinto de Lima, chefe nacional do Centro Peixe-boi. A soltura de Aldo e Pipinha
faz parte do Projeto de Manejo Integrado de Ambientes Recifais, desenvolvido na
APA dos Corais com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
TIGRES E
ELEFANTES GANHAM PASSAGEM MAIS FÁCIL PELA FRONTEIRA DO NEPAL
Kathmandu,
Nepal -
Uma equipe de observadores confirmou que tigres de bengala e elefantes
asiáticos estão usando o corredor biológico de Khata - que liga o Parque
Nacional Real de Bardia, no Nepal, ao Santuário Selvagem de Katarniaghat, na
Índia. Moradores da região também confirmaram a movimentação das duas espécies
no corredor.
O corredor florestal de três quilômetros está localizado em uma área de
planície de savana e gramíneas, o arco de Terai, que fica na fronteira entre o
Nepal e a Índia. Tigres, elefantes e rinocerontes de um chifre habitam a
região, juntamente com cerca de 6 milhões de pessoas que dependem de seus
recursos para a sobrevivência. A vida selvagem normalmente é restrita a parques
nacionais e reservas naturais, várias das quais são muito pequenas para abrigar
populações muito grandes de animais.
Um dos principais objetivos do Programa do Arco do Terai iniciado pelo WWF é
restaurar os corredores florestais que ligam as áreas protegidas das planícies
do Nepal e as áreas protegidas na Índia, para facilitar a movimentação das
espécies. O WWF se uniu a organizações governamentais e não-governamentais na
iniciativa, bem como grupos comunitários locais, lançando programas integrados
de conservação e desenvolvimento para restaurar os corredores por meio de
atividades florestais comunitárias, plantações e programas de regeneração
natural das áreas afetadas.
O corredor Khata foi identificado como uma área crítica para o trabalho de
restauração iniciado em 2001. O corredor consiste de áreas com boa cobertura
florestal, áreas degradadas e áreas agrícolas, sendo cercada por 11 comunidades
florestais. Cerca de 300 famílias vivem na região. O Departamento Nacional de
Parques e Conservação Selvagem do Nepal estima que existam cerca de 40 tigres
em idade de reprodução no vizinho Parque Nacional de Bardia.
O WWF-Nepal e o departamento florestal local trabalharam juntos para passar as
áreas de floresta degradada para as comunidades locais, por meio de um programa
florestal comunitário. O reflorestamento e a regeneração natural foram
melhorados para aumentar a cobertura florestal no corredor.
"Cinco comunidades florestais já foram registradas e entregues às
comunidades interessadas, com a entrega das demais florestas encontrando-se em
andamento", informa Dhana Rai, co-responsável pelo Programa do Arco do
Terai, do WWF.
As florestas plantadas e recuperadas contribuíram significativamente para a
região, permitindo que mamíferos de grande porte passassem a usar o corredor
Khata em sua movimentação sazonal. Segundo a população local, os animais chegam
ao corredor vindos de áreas florestais próximas localizadas ao sul durante a
estação chuvosa, quando os afluentes do rio Karnali transbordam e inundam a
região fronteiriça.
O Arco do Terai é uma das ecorregiões do Global 200 do WWF, um ranking
científico global dos hábitats mais importantes em termos biológicos de todo o
mundo, nos quais o WWF concentra seus esforços. Também é uma área prioritária
para o Fundo Salve o Tigre, incluindo dois Patrimônios Naturais da Humanidade
das Nações Unidas. No Nepal, a ecorregião cobre uma área de 22.288 km2, incluindo
quatro áreas protegidas: Reserva Natural de Parsa, Parque Nacional Real de
Chitwan, Parque Nacional Real de Bardia, e Reserva Natural Real de Suklaphanta.
Mesoamérica:
Ressussitar a Natureza como Meio de Vida
Por Frank A. Campbell — Tradução por Regina
Whitaker*
Imagine uma floresta começando na América
do Sul, passando pela América Central e continuando até a América do Norte e
você acabou de imaginar como era no passado. Hoje, infelizmente, esta rica
mainifestação da natureza está reduzida a um grande número de florestas
isoladas enfrentando o fantasma da destruição.
Só na Mesoamérica – Sul do México e os sete
países da América Central – 44 hectares de florestas são perdidos a cada 60
segundos, principalmente para satisfazer a demanda por madeira. Se isto
continuar sem freios, a área ficará virtualmente sem florestas em uma década e
meia. Pelo menos 42 espécies de mamíferos, 31 espécies de aves e 1.541 espécies
de plantas altas (sem contar algas por exemplo) acreditamos estar correndo
risco de extinção.
Esta é uma perda potencial da
biodiversidade que nem a região nem a comunidade global podme suportar. Apesar
de medir somente 768.990 km, ou seja, aproximadamente 1% das terras acima do
mar, esta área constitue 8% da biodiversidade da Terra e está entre as mais
ricas do mundo.
O Panamá sozinho tem 929 espécies de aves,
mais que o Canadá e os Estados Unidos juntos. Belize tem somente 22.965 km2 em
área, mas é o lar de mais de 150 espécies de mamíferos, 540 espécies de aves e
151 espécies de anfibios e répteis. Costa Rica, com uma área menor que a
Dinamarca, contém mais de 55 unidades de biotas distintas – comunidades de
plantas e animais com formas de vida e condições ambientais similares. Esta
região abriga mais de 365.000 espécies de arthropods (um grande número de
invertebrados, variando de pequenas aranhas a grandes carangueijos). Sim, são
1.000 espécies para cada dia do ano! Há mais de 800 espécies de orquídeas na
Nicarágua. Quase 70% da flora vascular das altas montanhas da Guatemala são
endêmicas daquele país.
A América Central sozinha tem de 20.000 a
25.000 plantas da espécie vascular. A mesma quantidade é encontrada no Peru,
que é 4 vezes maior, ou nos Estados Unidos, que é 15 vezes maior. Ainda mais, o
principal centro arqueológico remanescente da civilização dos Maias está
localizado no Corredor Biológico da Mesoamérica.
A notícia ruim é que a situação de
conservação de um terço da Mesoamérica, ou seja 33 ecoregiões, está sendo
considerada como "crítica", e outro terço está sendo visto como
"em perigo". Sobra apenas um terço de área considerada como
"aceitável" em termos de saúde ecológica.
Felizmente, um importante programa foi
iniciado, denominado "Corredor Biológico da Mesoamérica" a fim de
ajudar a salvar a biodiversidade deste importante pedaço da superfície da
Terra. "Hoje", informa uma declaração de 11 de Abril de 2000, feita
pelo departamento de comunicações do programa, "se inicia um dos mais
ambiciosos programas sociais e ambientais da América Central e região do Sul do
México". O objetivo do programa, a nota informa, é a recuperação da
"cadeia de florestas que até poucos anos atrás ligava a América do Sul com
a América do Norte e que agora se parece mais com uma série de conglomerado
inútil ameaçada por sentimentos indiscriminados."
Este programa, com sede em Nicaragua,
representa mais do de um projeto de esperança na área ambiental. Projeta uma
nova América Central no cenário político. Na abertura oficial em 11 de Abril, o
Ministro do Meio Ambiente e Recursos Naturais da Nicaragua, Roberto Stadhagen,
declarou que "Esta iniciativa reintroduz a região da América Central aos
olhos do mundo como uma região de progresso e desenvolvimento sustentável. Após
ser conhecida por conflitos e guerras, emergimos agora como um exemplo
brilhante de cooperação internacional para a paz, democracia e meio
ambiente."
Sem dúvida, o programa do Corredor
Biológico da Mesoamérica representa o estudo internacional de cooperação em
altos níveis. Em seu discurso de abertura, o Presidente da Nicaragua Arnoldo
Aleman expressou reconhecimento especial e apreciação pelo Global
Environment Facility (GEF), o United Nations Development Programme
(UNDP) e ao governo alemão pelo suporte ao programa. O GEF, por exemplo, está
contribuindo com quase US$ 11 milhões e este investimento está sendo cuidado
pelo UNDP. Entre outras fontes de suporte ao programa estão o Banco Mundial e o
DANIDA, a agência de ajuda do Governo Dinamarquês.
A necessidade de colaboração internacional
para salvar a natureza daquela região se tornou mais evidente com passar dos
anos, cada vez que cada país criava uma instituição, normalmente em nível
ministerial, visando a união de esforços para enfrentar os dois problemas
gêmeos: a economia pobre e a degradação ambiental. No curso dos últimos 30
anos, os governos da Mesoamérica estabeleceram 461 área protegidas. Esta região
compreende quase 31% do território (em Belize) e 2% (em Honduras, Nicaragua, El
Salvador e México).
Regionalmente, estas áreas totalizaram 18
milhões de hectares. Somente metade das áreas protegidas tem qualquer tipo de
funcionários. Cerca de 88% encontra-se sem qualquer espécie de projeto de
administração. A maior parte do território ainda não foi demarcado. Apenas
cerca de 40 dos 461 hectares foi beneficiado com programas de pesquisas.
Poucos têm à sua disposição os benefícios legais e institucionais para
facilitar a conservação da biodiversidade ou a produção sustentável de produtos
e serviços para manter o desenvolvimento da demanda da região.
Ainda mais, 270 hectares – mais da metade –
é muito pouco para causar um impacto significativo na biodiversidade, se não se
unir a outras área protegidas. Então a importância do trabalho de cooperação
regional conjunta da Mesoamérica. Esta iniciativa se volta para 1989 quando os
Presidentes da América Central assinaram o Acordo de Proteção Ambiental da
América Central e estabeleceram a Comissão Ambiental de Desenvolvimento da
América Central (CCAD). Desde então, uma cultura de cooperação caracterizou os
trabalhos dos ministérios na região. Hoje a região fala em uníssono a respeito
de assuntos ambientais, o tem sido imprescindível para o desenvolvimento da
Agenta Ambiental da América Central. Esta Agenda formou as bases para o
trabalho regional no Rio Summit 1992.
O CCAD, elevado a categoria de secretaria
ambiental dentro do Sistema de Ingtegração Ambiental da América Central (SICA),
um movimento de integração regional, foi instrumental na coesão das vozes
regionais e internacionais. Também ajudou a fortalecer os ministros do meio
ambiente dos países e foi o marco inicial de várias atividades regionais,
incluindo a iniciativa do Corredor Biológico Mesoamericano.
Enquanto dirigido à revitalização do
corredor natural do norte do México ao sudoeste do Panamá, a iniciativa, de
acordo com sua fonte no web, "não está focada exclusivamente na proteção
de animais, plantas e microorganismos que habitam as florestas tropicais, mas
acarretará em benefícios numa sequência de prioridades ao povo que lá habita, a
todos os Mesoamericanos e, por extensão, a todo o mundo".
Para conseguir todas estas coisas, o
programa está sendo construido sobre dois pilares mestres. O primeiro e mais
conhecido, a conservação da biodiversidade. Isto inclui o fortalecimento das
áreas protegidas e a construção de integração entre elas.
O segundo pilar é o uso sustentável dos
recursos da região. Mais do que criar normas de política informando ao povo o
que não devem fazer com as florestas, por exemplo, o programa vai educá-lo em
como e o quê podem fazer sem causar danos ecológicos. Agricultura ambiental –
incluindo produção de produtos orgânicos – como também ecoturismo, proteção à
pesquisa farmacológica e reflorestamento foram identificados como possíveis
areas de atividades e investimentos.
O governo da região espera que, com a
revitalização das florestas, venha a contribuir com um "grão de
areia", para citar as palavras do Ministro Stadthagen, a fim de reverter a
tendência de aumento da temperatura global.
Resumindo, os patrocinadores e responsáveis
pelo programa acreditam que, com seus esforços para recriar o futuro, ele se
torne mais fácil. Carmelo Angulo do UNDP pensa ter capturado a visão do futuro,
já benefíciando os participantes do lançamento do programa.
"Pessoalmente", disse Angulo,
"quero acreditar que muitos estarão presentes nos próximos seis anos,
quando será feita uma avaliação do sucesso e dos benefícios conseguidos por
este grande programa regional que está sendo desenvolvido. Estou totalmente
confiante de que naquele momento a região terá mudado para melhor, o panorama
do desenvolvimento humano ficará mais nítido e novas oportunidades se abrirão
para que afinal uma melhor e mais longa vida seja acessível a todos."
Tradução
Regina Whitaker* é Advogada
ambientalista especializada em Mudanças Climáticas, colaboradora da Rede
CTA-UJGOIAS/CES FAU Email:<regina_whitaker@uol.com.br>
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FONTE D'ÁGUA
Quebrando barreiras idiomáticas no mundo das águas
FLORIDA CENTER FOR ENVIRONMENTAL STUDIES
http://www.ces.fau.edu/online
"Uma gota d’água pingou na palma de
minha mão. Agora posso dizer, sem medo de errar: a Vida cabe na palma de minha
mão." Marisa M. Machado
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Programa Corredor Cultural Ecológico
Social Nhandara do Iguaçú
A sociedade organizada vem discutindo
ao longo dos últimos anos, propostas que viabilizem o desenvolvimento
sustentável no Estado do Paraná, a fim de resgatar emprego e renda nas
diferentes comunidades, porém, sem prejuízo ao meio ambiente.
A recomposição das nascentes e das
matas ciliares dos rios de nosso Estado, mais especificamente a recuperação de
mananciais, de reservatórios de hidroelétricas, do entorno das unidades de
conservação de proteção integral, corredores de biodiversidade e bacias
hidrográficas, com prioridade, inicialmente, para a região centro-sul do Estado
do Paraná é a nossa meta.
O Rio Iguaçu abrange a maior bacia
hidrográfica do Estado, com cerca de 57.329 km2, cortando o Paraná no sentido
leste-oeste, com um percurso total de 910 quilômetros, de sua nascente situada
na vertente ocidental da Serra do Mar, no município de Piraquara, até o
município de Foz do Iguaçu, onde deságua no Rio Paraná. A Bacia do Rio Iguaçu é
uma das mais preservadas, se comparada com as outras micro-bacias do estado.
O Programa "Nhandara do Iguaçu"
pretende realizar um trabalho de conscientização junto às comunidades
pertencentes à Bacia do Rio Iguaçu, com trabalhos de cunho sócio-cultural
envolvendo Educação Ambiental (Noções de Meio Ambiente, Coleta Seletiva,
Programa 5 S's, Filosofia dos 3 R's, plantio de mudas nativas), Teatro, Música
e diversas outras atividades culturais, visando a recuperação de áreas
degradadas, e do restabelecimento do equilíbrio ambiental, promovendo assim a
possibilidade da criação efetiva dos "corredores da biodiversidade".
A palavra "NHANDARA", adotada como sendo o nome do presente programa,
vem do Tupi que significa "Aquele que corre".
O conceito de corredor biológico
implica em uma interligação entre zonas protegidas e áreas com biodiversidade
importante, a fim de contrapor-se à fragmentação dos habitats, ou seja,
estabelecer ligações que ultrapassem os obstáculos criados pelo homem (como por
exemplo: cidades, barragens, estradas, monoculturas extensivas, dentre outros).
Atualmente, estes
"corredores" estão sendo empregados como uma nova e eficiente
ferramenta para promover a conservação da natureza (vide anexo I), favorecer e
promover o desenvolvimento sustentável das comunidades, através de ações
sociais, ecológicas e culturais.
A visão de "o que poderemos
fazer", a fim de resgatar todos estes valores perdidos ao longo do tempo,
para transmiti-los às gerações futuras, passa pela história de cada uma destas
localidades, ou seja, pela História do Paraná. Para podermos melhor enxergar as
ações a serem desencadeadas, implantadas e acompanhadas no futuro, visando o
desenvolvimento sustentável ao longo da Baia do Rio Iguaçu, precisamos
necessariamente, olhar para o passado. Foi durante o século que passou que
"o homem" causou a maior destruição ao meio ambiente. Será necessário
correr atrás do tempo perdido, a fim de reverter esta situação, procurando
preservar a biodiversidade remanescente.
O Programa "Nhandara" do
Iguaçu se apresenta subdividido em 3 grandes ações básicas: a SOCIAL, a
ECOLÓGICA e a CULTURAL. Para tanto, foram desenvolvidos projetos independentes,
porém, complementares, o que possibilitará adequação a situações diferenciadas,
sempre respeitando as características particulares de cada local de aplicação
do presente programa.
CORREDOR ECOLÓGICO ARAGUAIA/BANANAL
TERÁ O TRIPLO DO TAMANHO DO ESTADO DE ALAGOAS |
Com o triplo do tamanho do estado
de Alagoas, os nove milhões de hectares do Corredor Ecológico
Araguaia/Bananal - um dos mais modernos instrumentos de planejamento e de
gestão de ecossistemas para a conservação da natureza - ligarão as áreas
protegidas de trinta e nove municípios dos estados de Goiás, Tocantins, Pará
e Mato Grosso protegendo a biodiversidade de uma das mais importantes áreas
de transição (ecótonos) entre os biomas Cerrado e Amazônia. |
Um
estudo do Ibama propõe a
interligação dos parques e reservas
naturais da Amazônia
Eduardo Junqueira
Até o final
deste ano a Floresta Amazônica vai encolher 2 milhões de hectares. É uma
área verde equivalente à do Estado de Sergipe, colocada abaixo para a extração
de madeira, abertura de estradas e queimadas. Pior que as dimensões da
devastação é o seu ritmo, que praticamente dobrou nos últimos quatro anos.
Um grupo de especialistas contratados pelo Ibama acaba de concluir um estudo
que, se não coloca um ponto final no problema, tem o mérito de propor novas
alternativas de sobrevivência para milhares de espécies que habitam a maior
floresta do planeta. Ele propõe a criação de cinco grandes corredores
biológicos interligando parques e reservas naturais, de modo que os animais
possam transitar livremente por eles. Além desses cinco corredores amazônicos,
o projeto prevê mais dois na Mata Atlântica, na região litorânea do país.
O corredor
biológico é um conceito novo em preservação do meio ambiente no mundo
inteiro. Sua grande vantagem é que se pode fazer muito com poucos
recursos. Os corredores propostos na Amazônia, por exemplo, cobririam 34% da
área total da floresta, mas neles estão concentrados 75% de toda a
biodiversidade da região. Isso inclui a sumaúma, a maior árvore amazônica, e
animais muito ameaçados de extinção, como o macaco uacari-branco, o peixe-boi,
a onça e a ararajuba (veja quadro). Com apenas esses cinco corredores seria
possível interligar 73 unidades de conservação — incluindo vários parques
nacionais —, mais 116 reservas indígenas já existentes.
Caçar e procriar — A criação de corredores não significa que o
restante da floresta hoje existente poderia ser destruído sem problemas.
É apenas uma garantia de espaço mínimo para as espécies. Território
contínuo é importante por várias razões. A mais óbvia é a
possibilidade de abrigar grandes mamíferos, que necessitam de áreas extensas
para caçar e procriar. Além disso, animais de uma mesma espécie que nunca se
encontravam, por viver em reservas isoladas, poderão procriar juntos, o que
aumenta sua variabilidade genética. “Isso é fundamental para fortalecer
espécies ameaçadas contra pragas e predadores”, diz Gustavo Fonseca, um dos
autores do estudo.
Fora do Brasil, há
outras propostas ambiciosas de corredores biológicos. Uma delas, discutida há
cinco anos, pretende desenhar uma linha verde através de toda a América
Central, partindo de Belize até o Panamá e atingindo sete países. Seria o
primeiro passo para permitir que felinos de grande porte, como as onças, possam
deslocar-se da Patagônia, no extremo sul da Argentina, até o norte do
Canadá, como ocorria no passado. Aberto o canal, estima-se que um grande fluxo
de material genético volte a se movimentar entre a América do Norte e a do Sul.
Ao contrário do que ocorre na Amazônia, a criação do corredor na América
Central esbarra no grande número de cidades construídas ao longo do caminho.
Oásis na
selva
Onde ficam os
corredores biológicos planejados na Amazônia e alguns exemplos de espécies que
seriam protegidas
Norte
- Na fronteira com a Venezuela e a Colômbia, engloba o Parque do Pico da
Neblina. É habitado pelo galo-da-serra
Central -
O corredor mais próximo de Manaus é cortado pelo Rio Negro e tem animais
como o peixe-boi e o uacari-branco
Oeste -
Inclui os seringais do Acre e é o refúgio de onças e outros mamíferos de
grande porte
Ecótones
Sul-Amazônicos - Na divisa com o cerrado, abriga o
lobo-guará e o tamanduá-bandeira. Abrange o Parque Nacional do Araguaia e a
Reserva Caiapó
Sul -
É a região mais ameaçada pelo desmatamento, motivado pela extração de
madeiras nobres, como o mogno. É onde vive a ararajuba
Jalapão terá corredor ecológico
Com
31 mil Km2, novo corredor interligará cinco unidades de conservação,
em quatro estados
São Paulo - O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) acaba de criar mais um corredor ecológico no
Cerrado, bioma que ocupa um quarto do território nacional e do qual restam
apenas 20% de remanescentes. Com 31 mil Km2, o corredor Jalapão/Chapada das
Mangabeiras vai proteger uma das maiores extensões ainda conservadas do Cerrado
brasileiro, numa área de grande biodiversidade e fragilidade, na divisa dos
estados do Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia.
O corredor ecológico tem a finalidade de conectar cinco
unidades de conservação: Estação Ecológica Serra Geral (divisa TO/BA), Parque
Nacional Nascentes do Parnaíba (PI/MA/TO/BA), Áreas de Proteção Ambiental
(APAs) Serra da Tabatinga e do Jalapão (TO) e Parque Estadual do Jalapão (TO).
Sua extensão inclui dezessete municípios - 11 no Tocantins, 4 no Piauí, 1 no
Maranhão e 1 na Bahia -, com uma população total de cerca de 20 mil habitantes,
das quais sete mil no interior do corredor e treze mil em seu entorno.
Para viabilizar a implantação do corredor ecológico, o
gerente Miguel von Behr está realizando, até o dia 21 de outubro, uma série de
reuniões com as prefeituras e as principais lideranças de Ponte Alta do
Tocantins, São Félix do Jalapão e Mateiros, os maiores municípios do Tocantins.
O objetivo é apresentar propostas para ecoturismo, educação ambiental,
agricultura, entre outros projetos de conservação e desenvolvimento sustentável
para a região. A participação da comunidade na elaboração e acompanhamento do
corredor será garantida com a criação de grupos de referência em todos os
municípios envolvidos.
A criação das unidades de conservação e, agora, do corredor
ecológico no Jalapão foi embasada nos resultados de uma expedição, realizada em
maio de 2001, quando cerca de 30 pesquisadores do Ibama, Universidade de
Brasília(UnB), Conservation International e da organização Pesquisa e
Conservação do Cerrado-Pequi percorreram a região com o objetivo de estudar
formas de melhorar a qualidade de vida da população, que é muito pobre, e
propor projetos ambientais para a região.
Com uma das menores densidades populacionais do país (0,6
habitantes por quilômetro quadrado), semelhante à Amazônia, a região é ameaçada
pelo avanço acelerado de plantações de soja e pelo turismo desordenado. “O
corredor formará uma área de proteção da biodiversidade por onde os animais
transitarão e procriarão em segurança, a flora será conservada e as belezas cênicas
preservadas para as futuras gerações”, explica von Behr, que também coordenou a
expedição.
Considerado uma das três principais áreas para a preservação
do Cerrado, o Jalapão é conhecido como “oásis do cerrado” pelo volume de
absorção d’água de suas chapadas e pela extensão de seus rios, onde a ação da
chuva e do vento sobre as rochas forma dunas, na Serra do Espírito Santo,
principal atrativo turístico da região.
No entanto, as pesquisas na área mostram que, devido às
características peculiares do solo de areias quartzozas e à proximidade da
maior área de desertificação do país - Gilbués, ao sul do Piauí -, o Jalapão
sofre também um processo de desertificação natural, que poderá se intensificar
com a utilização indevida dos recursos naturais.