TRANSCENDER O INCOMPREENSÍVEL?

(Texto enviado à "Coluna da Leitor" do jornal A Tribuna de Santos, março de 2005; publicado aos 11/03/05 na página 2 do jornal "Acontece", de Cubatão)

 

Um grave e curto “não” seria a resposta aparentemente óbvia para a pergunta acima. Pelo menos é o que responderia a maior parte dos leitores, na maior parte das situações. Bem, em se tratando da Secretaria de Desenvolvimento Educacional (SEDUC) da Prefeitura Municipal de Cubatão, a resposta pode ser um suave e audacioso “sim”: é possível transcender o incompreensível. Vejamos por quê.

A atual administração da SEDUC vem demonstrando o que parece ser intranscendente. Em seqüências de absurdos administrativo-pedagógicos de um teor hilário inimaginável, os professores da rede municipal vêm sendo afrontados com atitudes dignas de contos dantescos. Primeiramente, um vaivém de informações controversas sobre o famigerado Plano de Carreira — algo que, de início, parecia ser a solução de vários entraves do corpo docente, há anos, transformou-se em brigas de interesses particulares, em detrimento da coletividade — sacudiram os ânimos e colocaram em xeque, ainda que sutilmente, a seriedade do trabalho da equipe. Dizem os rumores que o Plano de Carreira, discutido anteriormente pelo corpo docente do Município e formatado por uma comissão especialmente designada para tal, foi sub-repticiamente alterado em alguns itens, gerando desentendimentos entre a SEDUC e a Administração da Prefeitura. O Departamento de Recursos Humanos tenta gerenciar a confusão, ficando à mercê deste trânsito de informações duvidosas. Aos professores coube, então, iniciar as aulas sem saber salário — e sem receber, inclusive, as aulas ministradas a mais para os que aumentaram a carga horária semanal. Mas a coisa não pára por aí. O conto dantesco continua, desta vez menos hilário e talvez mais jocoso. Muitos leitores talvez desconheçam o fato de que professores aprovados em concurso público, para a função docente, estejam alegremente desfrutando do convívio com pássaros e outros animais, cumprindo carga horária — que deveria ser em sala de aula, ou na escola — no Parque Ecológico Cotia-Pará (!?). E a ciranda da “Sucupira Cubatense” prossegue. Em meio ao caos administrativo e das lacunas de aulas, carga horária etc., focos de incêndio são tratados isoladamente: problemas de docentes são resolvidos à revelia, demonstrando, muitas vezes, descaso para com os demais colegas do corpo docente. Lotes de aulas vagos à espera de professores... e o concurso de 2004?

Resta, então, uma indagação pertinente: até quando suportaremos trabalhar sob tais circunstâncias? Ninguém sabe, poucos ousam cogitar. Eu, como professor indignado desta SEDUC, convido todos a uma reflexão que gere atitudes e, no mínimo, um denominador comum para satisfação de todos.