ÁGUA & AVALIAÇÃO - Série: Água - parte XI
QUALIDADE DAS ÁGUAS - POLUIÇÃO - INDICADORES DE MATERIAL ORGÂNICO

(Agosto de 2004)

Professor Helcias Bernardo de Pádua,
Biólogo, Conferencista em "Qualidade das águas", Especialista em Biotecnologia, Analista Clínico, Professor do Curso " Qualidade das águas da aquicultura" e Professor de Biologia e Ciências

H.B.P. - Assessoria técnica
* Qualidade das águas, Biotecnologia & Aqüicultura
Prof. Biól. Helcias Bernardo de Pádua / CFBio 00683-01/D

cel. 011.9568.0621- helcias@portalbonito.com.br

artigos:www.portalbonito.com.br;setorpesqueiro.com.br;ruralnet.com.br



POLUIÇÃO DE CORPOS HÍDRICOS

Do ponto de vista prático quando da utilização, sob qualquer forma, da água oriunda de um corpo receptor de despejos orgânicos de origem doméstica ou industrial deve ser encarada como negativa visto a seleção que essa qualidade exerce nos seres aquáticos tanto de interesse econômico para a pesca, criação ou mesmo no aspecto de lazer e contemplação turística ambiental.

Esses lançamentos podem ser portadores de elementos nocivos à saúde humana, além de serem seletivos, ou seja, prevalecem alguns em deprimento de outros organismos menos resistentes ou mais sensíveis. Esses elementos orgânicos ou químicos não são esterilizantes, no sentido nato da palavra, condicionando a estabilização por via biológica, dependente das condições criadas ou não para que microorganismos tolerantes possam realizar qualquer tipo de trabalho biológico.

Numa dessa pesquisas pela Internet deparamos com um ótimo texto, - Poluição de corpos d’água - (PAPA, s/d), sobre as possibilidades, determinações e análises das questões da poluição em corpos hídricos, o qual mostraremos na continuidade dos capítulos dessa Série-ÁGUA-, entre outras observações.

Poluição de corpos d’água

O presente texto tem por objetivo apresentar conhecimentos básicos referentes à poluição por compostos orgânicos, seus efeitos em corpos d’água, variáveis e parâmetros para avaliação dos processos de controle.

Primeiramente, podemos questionar alguns itens, p. ex.: O que polui? Como polui? Porque polui? Como combater este tipo de poluição?

As respostas estão na própria natureza do elemento poluidor, bastando portanto que o identifique.

Então vamos ver...

Poluição por compostos orgânicos

Imaginemos, a princípio, o meio ambiente aquático natural. Sem as influências do homem e da civilização. Tomemos como exemplo um corpo d’água, digamos um rio qualquer.

Em situação natural, estabelece-se no mesmo um certo equilíbrio nos seus ecossistemas, o que inclui a própria água, a macro e micro fauna e flora nela presentes com também às margens do sistema aquático em questão, além dos gases, p. ex. o oxigênio.

Neste enorme equilíbrio da natureza, diversos fenômenos ocorrem numa constância sem igual, assim:

Enfim, um "cem número de situações e processos" aparentemente comuns, sendo conduzidos ao mesmo tempo, mas de enorme importância e inter-relacionamentos resultando no que se estabelece denominar de "equilíbrio do ecossistema ou dos ecossistemas".

Nas condições acima, a matéria orgânica tem participação fundamental, servindo de fonte de alimento aos microorganismos e outros animais inferiores, sendo suprida por fontes "naturais", ou seja, decomposição de folhas, galhos, excrementos e animais.

Vamos supor que se estabeleça ao redor desse meio e ambiente natural, totalmente em equilíbrio, com "águas naturais totalmente transparentes", uma "certa cidade" cujo sgotos e efluentes agropecuários, sejam lançados no(s) rio(s), córrego(s) e lago(s).

Os esgotos domésticos, bem como muitos outros tipos de resíduos urbanos, são constituídos, preponderantemente, de materiais orgânicos, que como vimos acima também à princípio alimentarão os organismos aquáticos presentes na massa d’água.

Quando tais despejos se encontram mais disponíveis, aumentando de concentração no sistema objeto, começará ocorrer um desequilíbrio no consumo da mesma, ou seja, os microorganismos que mais se beneficiam quando do excesso de alimento, vão sofrer proliferação de forma rápida, sendo que a população de seus consumidores, (peixes, p.ex.), não aumenta na mesma proporção, sobrando matéria orgânica ou alimento.

O desequilíbrio irá também aumentar na medida em que o consumo de oxigênio no ambiente ou meio passa a ser maior, (respiração e oxidação), em relação a sua reposição pela fotossíntese, que é bastante lenta quando tal gás vem do ar, ou então na própria superfície liquida, aí respeitando todo um perfil para sua produção, desde à presença de espécies fotossintetisantes, grau de luminosidade, profundidade, calor, etc.

Simplisticamente, podemos dizer que quanto maior for o volume lançado de esgotos ou efluentes orgânicos em um determinado sistema aquático, maior será o consumo de oxigênio provocado no mesmo, ou seja, quanto maior for a concentração de matéria orgânica, maior será a respiração e maior, por conseqüência, será a "demanda de oxigênio".

O resultado disso é a respiração das concentrações de oxigênio a um nível incompatível com as necessidades, p. ex. dos peixes, e que causaria a debilidade, morte ou mortandade dos mesmos.

Porém, por incrível que possa aparecer, freqüentemente pode-se observar uma grande presença de peixes no local de lançamento dos esgotos ou mesmo logo abaixo, variando essa extensão com a quantidade de material orgânico presente. Isso aparentemente indicaria uma situação ideal, o que não é verdade.

Os esgotos lançados contém grande quantidade de compostos e partículas que servem de alimento aos peixes, e também nesse ponto ou área inicial ainda não ocorreu ou não houve tempo suficiente para que uma maciça população de bactérias aeróbias se desenvolva e retire o oxigênio da água. Então, por um certo tempo os peixes não terão restrições às suas necessidades respiratórias.

Somente após algumas dezenas, centenas ou mesmo os mais próximos milhares de metros abaixo, (jusante), dependendo da velocidade, desnível, concentração de minerais carbonatados, etc., é que os efeitos nocivos da então "poluição", começam a se fazer sentir, (efeito retardado), pois durante este trajeto ocorrerá a multiplicação desordenada de bactérias que consumirão o oxigênio disponível.

Caso qualquer ação natural contribua para diminuição, para recuperação ou então através de um pré-tratamento da massa orgânica a ser lançada ao rio, ao córrego ou mesmo lagoa, após um certo
tempo ocorrerá o que se costuma chamar de "autodepuração", podendo retornar o "equilíbrio do ecossistema".

Principais indicadores da matéria orgânica presente – DBO/DQO

DBO-Demanda Bioquímica de Oxigênio

O lançamento de esgotos ou despejos industriais orgânicos em um determinado sistema aquático, aumenta a concentração de matéria orgânica no meio, que por sua vez, resumidamente, desencadeia:

Reafirmamos que o esgoto disponível pode ou não ser assimilado pela massa aquática, dependendo do volume lançado, vazão e velocidade do líquido do sistema aquático e, de outros fatores.

Essa concentração de matéria poluidora lançada e presente no sistema aquático poderia ser medida por uma complexa análise química, onde seriam determinados todos os seus constituintes orgânicos e a quantidade que cada um deles exigiria de oxigênio da água para sua completa estabilização ou assimilação.

Conhecendo-se também a concentração de oxigênio disponível na massa d’água, calcularía-se a massa que restaria dele depois de algum tempo; porém esta análise seria muito onerosa, devido à sua complexidade, e foi substituída por uma determinação mais simples, prática e menos cara, que nos revela a quantidade de oxigênio que é "absorvida" pela oxidação bioquímica dos despejos orgânicos.

A técnica mais usada para a medida da DBO consiste em adicionar pequenas quantidade do esgoto ou resíduo orgânico a um determinado volume de água saturada de oxigênio, deixar essa solução em um frasco fechado, em uma incubadora a 20ºC, durante certo número de dias, geralmente 5 dias, e medir quimicamente a quantidade de oxigênio que restou após esse período de incubação. Por isso é que se identifica a análise de tal variável de DBO-5d.

Sabendo-se a concentração inicial, obtêm-se por diferença a quantidade de oxigênio consumido durante aquele tempo, pelo volume de esgoto ou efluente industrial orgânico ali adicionado. No caso de despejos industriais, uma semente, (amostra), microbiológica é adicionada, geralmente esgoto urbano, o qual microorganismos em grande quantidade, variedade e diversidade.

A DBO-5d representa o potencial ou a capacidade que possui uma determinada massa orgânica de consumir o oxigênio dissolvido nas águas de um sistema aquático. Este consumo, por outro lado, não é praticado diretamente pelo composto orgânico, mas sim ele é o resultado da atividade respiratória de microorganismos que se alimentam da matéria orgânica.

DBO altíssima é nociva aos peixes e outros seres aeróbio que habitam o meio aquático devido aos mecanismos de respiração dos microorganismos, também ali presentes.

Lembramos que a DBO, por si mesma, não é nociva à saúde do homem quando em certas bebidas fermentadas: assim as DBO altíssimas de muitas bebidas como a cerveja, refrigerantes e vinhos, não influem no estado de saúde de quem as ingeri moderadamente. Porém bebidas alcoólicas, por fermentação biológica, ingeridas em altas doces prejudicam a saúde física e mental, além de oferecer maior quantidade de matéria orgânica.

DQO – Demanda química de oxigênio

Este teste é também usado para medir a conteúdo de matéria orgânica de águas residuais e águas naturais.

O oxigênio equivalente da matéria orgânica que pode ser oxidado é medido usando-se um "agente oxidante" em meio ácido (dicromato de potássio).

O teste de DQO-3h é sobremaneira precioso na medida da matéria orgânica em despejos que contenham substâncias tóxicas à vida. A DQO em um despejo é, em geral, maior do que a DBO, em virtude da maior facilidade com que grande número de compostos podem ser oxidados por via química do que por via biológica. (DQO pode ser feito em 2 horas-DQO-2h e em 3 horas-DQO-3h)

Para muitos tipos de despejos é possível correlacionar a DBO com a DBO. Isto é bastante vantajoso, pois a DQO é determinada em horas apenas, ao passo que a determinação da DBO leva 5 dias.

Outros testes

Tem-se outros testes possíveis de serem usados na caracterização de certos tipos de despejos industriais, como: DTO-Demanda Teórica de Oxigênio; COT-Carbono Orgânico Total; DOT-Demanda de Oxigênio Total; Potencial Redox-Eh e Oxigênio Consumido.

Continua – na parte XII, Série ÁGUA

Bibliografia(voltar)

Branco, S.M., - Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária,3ª ed.; SP/SP; CETESB/ASCETESB, 1986, 640 p.:il.; 22 cm

Pádua, H. B. de Pádua & Silva, R.R. da, - Águas urbanas da região de Bonito/MS- Rápida excurção. (no prelo), Bonito/MS; abril/2004

Papa, J. L. - Poluição de corpos d’água. Pirassununga/SP. Acqua Engenharia e Consultoria S/C Ltda. Pirassununga SP Brasil - http://www.tratamentodeagua.com.br/consulta.htm (consulta
pela internet-jun/04)

SANESUL, Indicadores de monitoramento 04/98 a 09/99.CG/MS. Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul. Diretoria Comercial e Operações. Gerência de Desenvolvimento e
Qualidade, 1999.

SEMA-SP, - Relatório de qualidade ambiental de São Paulo-Lei nº9509/97-2003, (Sec. do Meio Ambiente/Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental – Diário Oficial do estado de São Paulo, vol.114,nº108-08/06/04).
Disponível:
www.ambiente sp.gov.br; www.cetesb.sp.gov.b