DESMATAMENTO POLITICAMENTE CORRETO?
Análise de
fragmentos da floresta amazônica sugere forma de amenizar estragos ao desmatar
Já que é tão
difícil acabar com o desmatamento, como fazê-lo de forma a proteger as árvores
restantes desse processo? Essa é a principal questão abordada por um estudo de
instituições de diversos países, inclusive do Brasil, que resultou no maior
banco de dados já coletado sobre a dinâmica de comunidades de árvores em
fragmentos florestais. A avaliação identifica o impacto provocado pelo
desflorestamento em áreas da Amazônia e sugere uma forma de desmatamento menos
danosa para as árvores.
Os pesquisadores realizaram o maior e mais duradouro estudo experimental sobre
o tema, com a análise do impacto sofrido por esses fragmentos de mata ao longo
de 22 anos. Os resultados, publicados nesta semana na revista norte-americana PNAS , indicam que o desmatamento que
deixa diversas e pequenas áreas de mata é muito mais danoso às árvores do que
aquele em que permanecem poucas, porém grandes, áreas verdes.
Isso acontece porque a parte mais externa do fragmento restante (os primeiros
O botânico Henrique Nascimento, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa) e um dos brasileiros responsáveis pelo trabalho, explica que
essas árvores pioneiras têm vida curta (cerca de 30 anos), se comparadas às de
grande porte, que viveriam em torno de 400 anos em seu hábitat natural.
“Enquanto as pioneiras estão vivas, protegem as outras no interior da mata
fragmentada”, conta. “Porém, quando morrem, essa proteção é quebrada; então, as
árvores mais antigas no interior dos fragmentos florestais também começam a ser
afetadas e o efeito do desmatamento vai aumentando.”
Quando os fragmentos restantes são muito pequenos e isolados, não existem
sementes suficientes para renovar todas as espécies de árvores da floresta e
restabelecer o seu ciclo. “Por isso, acredito que, depois de muitos anos, com a
morte das árvores pioneiras que protegem a mata, todos os pequenos fragmentos
serão tomados pelo desmatamento”, conclui Nascimento. “Já os fragmentos
maiores, com menos área exposta às beiradas desmatadas, têm mais chances de
restabelecer o ciclo em seu interior.”
A pesquisa foi realizada em áreas de floresta intacta (usadas como controle) e
em nove fragmentos de floresta isolados para dar lugar a três fazendas de
criação de gado em seu entorno. Situadas a
Mas o projeto está longe de ser finalizado. A próxima coleta de dados será
iniciada em janeiro de 2007, quando o estudo completará, então, 28 anos.
Nascimento ainda acrescenta: “Vou trabalhar nele enquanto estiver vivo e as
condições me permitirem.”
Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
28/11/2006