DE ONDE VEM A DESVALORIZAÇÃO DOS BIÓLOGOS?
por Regina Alonso(*)

Somos biólogos, mas será que sabemos realmente qual o valor da nossa profissão? Se sabemos porque então não nos valorizamos como tantas outras categorias que lutam por seus direitos? Vejam a força que tem, por exemplo; o Sindicato dos metalúrgicos, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ou o Conselho Regional de Medicina (CRM).
Já o nosso Conselho Regional de Biologia (CRBio) o que faz por nós, além da cobrança anual? Por que a nossa categoria não tem força sequer para impedir que outros profissionais exerçam cargos de biólogos? Imagino que todos se lembrem do absurdo concurso do IBAMA realizado em 2002, em que se permitiu a inscrição de pessoas com qualquer curso superior. Acho que tenho algum conhecimento de causa da discorrer sobre o assunto, pois não sou uma bióloga stricto sensu, minha primeira formação é outra, na área de humanas. Antes da biologia fiz administração de empresas e sinto-me em condições de comparar os dois cursos em termos de esforço pessoal exigido, cultura profissional e retorno no mercado de trabalho, então vamos lá, um pouco de vivência pessoal.
Em termos de esforço, acreditem, um biólogo tem que estudar muito mais que um administrador para receber o diploma, não que administração seja um curso fácil, ao contrário, requer todo o esforço exigido por um curso superior. No entanto, o currículo de biologia é muito mais denso, a carga de teoria que temos não se
compara ao que é ensinado na administração. A um biólogo não bastam os conhecimentos passados pelo professor em sala de aula, é necessário ir mais a fundo, pesquisar em livros, atualizar-se a respeito do que está sendo estudado, pelo próprio caráter dinâmico da ciência.

Mas então se a biologia prepara tão bem seus profissionais, porque o retorno financeiro é tão baixo? Na minha opinião em parte por nossa própria culpa, pela nossa cultura profissional. Não temos força como categoria, somos desunidos e acreditamos que qualquer coisa que se pague pelo nosso trabalho é suficiente, quando não trabalhamos de graça. Somos ainda idealistas ingênuos num mundo capitalista.
Diversas vezes vi biólogos extremamente capacitados, com títulos de mestrado e doutorado dando cursos em Universidades em troca de estadia e passagem, humildemente eles dizem: "Eu não recebo nada, mas pelo menos posso conhecer uma cidade nova..." Isso é uma vergonha!!! Perguntem a um administrador se vai fazer alguma
palestra de graça em algum lugar...um caso em um milhão!
Mas por que então não valorizamos nosso trabalho? Na realidade não sabemos como fazer isso, não faz parte da nossa formação, nem tampouco da nossa cultura profissional. Fomos educados para servir a um ideal, para seguir os passos dos biólogos pioneiros como se ainda vivêssemos na época dos naturalistas, sacrificando a vida pela
ciência, vivendo como franciscanos à margem do mercado. Nossa ambição é egoísta e restringe-se a sermos conhecidos no nosso "mundinho científico" à esperança de um dia sermos recompensados pelo resto do planeta. A ambição pelo conhecimento é até louvável, mas vivemos sob as leis do mercado e precisamos de bem mais que isso para uma qualidade de vida decente. Um administrador, ao contrário, recebe sua formação voltada para o mercado, aprende logo nos primeiros semestres a fazer "marketing pessoal", a elaborar seu currículo, a salientar seus pontos fortes e disfarçar os fracos, a barganhar salário, a ser arrogante...enquanto nós continuamos insistindo na humildade das velhas sandálias havaianas. O mercado acaba a julgar pelas aparências pagando R$ 1.500,00 reais para o trainee recém formado em administração de empresas e R$ 400,00 para um biólogo em ecoturismo.
E assim a situação vai se perpetuando...não importando mais o valor real do seu trabalho, mas o quanto ele parece valer.
Enquanto nós biólogos continuarmos aceitando estas condições do mercado não haverá nenhuma razão para a mudança, pensem nisso!

(*) Formada em Administração de Empresas pela EAESP-Fundação Getúlio Vargas e em Ciências Biológicas pela Uiversidade de São Paulo. Atualmente mestranda do Programa Pós-Graduação em Ecologia, Departamento de Zoologia, IB, UNICAMP. E-mail: regina_alonso@ig.com.br