Inglês Instrumental
Colaboração:
Rubens Queiroz de Almeida
Data de
Publicação: 09 de Novembro de 1999
O texto que se segue
descreve uma metodologia para o aprendizado do inglês instrumental, ou o inglês
para leitura. Este artigo foi a base para o livro As
Palavras Mais Comuns da Língua Inglesa, publicado pela Editora Novatec.
Aprender a ler em inglês é
muito simples. Se você estiver interessado, continue lendo. O texto é longo,
mas lhe dará dicas imperdíveis.
Boa Leitura!
A
Reconstrução da Torre de Babel
Diz a
Bíblia que muitos anos atrás todos os habitantes da Terra se uniram para
construir uma torre que chegasse até o céu, para tornar seu nome célebre e
impedir que fossem espalhados pelo mundo. Para punir os homens por sua ambição
demasiada, Deus confundiu sua linguagem e depois os dispersou pelo mundo.
Ainda
hoje os povos da Terra falam uma imensidão de línguas diferentes. Na Internet entretanto, apesar dos muitos povos que autilizam,
existe um meio de comunicação comum. Da mesma forma que os computadores se
comunicam independentemente de cor e raça, ou melhor, de fabricante e protocolo
de comunicação, também os internautas possuem uma
linguagem comum: a língua inglesa. Será a Internet uma nova Torre de Babel,
construída para reunificar eletronicamente os habitantes deste lindo mundo
azul?
É claro
que nem todos que utilizam a Internet compreendem a língua inglesa. Porém mais
de 80% dos documentos e das comunicações feitas através da Internet encontram-se em inglês. Apenas 0,7 % do oceano de informação
que é a Internet está em português. É perfeitamente possível usar a Internet e
se divertir muito navegando apenas por sites escritos
em português. Fazer isto, entretanto, é o equivalente a ir à praia, não entrar
na água e ficar se molhando com um baldinho de água
que alguém encher para você. O que fazer? Aprender inglês é difícil e demora
muitos anos. Como então adquirir o domínio desta ferramenta tão essencial à
utilização plena da Internet? Realmente, para se ler, falar, escrever e ouvir
com fluência a língua inglesa são necessários de seis a oito
anos de estudo constante. Para que aprender tanta coisa se o mais
importante é apenas ler? É muito mais fácil dominar um dos aspectos de um
idioma (leitura) do que todos os quatro
simultaneamente (ler, ouvir, falar e escrever). A Internet possui muito
conteúdo interativo, onde a capacidade de se falar e escrever bem a língua
inglesa certamente é uma grande vantagem, mas o mais importante certamente é
saber ler. Ler para utilizar a informação existente na Internet para aprender,
resolver problemas pessoais ou profissionais, se divertir, enfim, para uma
infinidade de propósitos.
Como
aprender a ler? É raro encontrar um curso de inglês onde se ensine o aluno
apenas a ler. Só vendem o pacote completo, o que é
totalmente insensato. Se precisamos investir vários
anos para dominar o idioma em todos os seus aspectos, aprender a ler certamente
demora muito menos. Em apenas quatro meses é possível obter uma compreensão
razoável do idioma que nos permite começar a compreender textos em inglês.
Mas
porque a leitura é mais fácil de se dominar? A própria Internet nos dá a
resposta. Em um estudo realizado em 1997, realizamos um trabalho para
determinar as palavras mais comuns da língua inglesa e seu percentual de ocorrência.
Para este estudo utilizamos os livros online do
Projeto Gutemberg. Este projeto, integrado por
voluntários, tem por objetivo digitalizar obras de literatura cujos direitos
autorais tenham se expirado. Nos Estados Unidos uma obra é colocada no domínio
público 60 anos após a morte do autor. Obras de autores como Jane Austen, Conan Doyle,
Edgar Rice Burroughs, e
muitos outros estão disponíveis gratuitamente na Internet. De posse destes
livros, 1600 ao todo na época da pesquisa, fizemos então nossos cálculos. Os
1600 livros combinados geraram um arquivo de 680 MB contendo aproximadamente
sete milhões de palavras. Os resultados foram bastante surpreendentes. As 250
palavras mais comuns compõem cerca de 60% de qualquer texto. Em outras
palavras, se você conhece as 250 palavras mais comuns, 60% de qualquer texto em
inglês é composto de palavras familiares. Para facilitar ainda mais a nossa
tarefa os cognatos, que são as palavras parecidas em ambos os idiomas (possible e possível, por exemplo), totalizam entre 20 e 25%
do total das palavras. Aí já temos então
É claro
que 90 ou 95% ainda não chega a 100%. Como fazer com o restante das palavras? Mais uma vez, usamos nossa intuição (lembra-se que nossa
intuição está correta em 99,999% das vezes?). Pensemos em nosso texto como um
enigma a ser desvendado. Possuímos alguns elementos familiares, as palavras que
conhecemos, e outros que nos são desconhecidos. Devemos deduzir, por meio de
nossa intuição, de nossos conhecimentos anteriores, o que as palavras
desconhecidas podem significar. Não precisamos nos preocupar com todas as
palavras, apenas com aquelas que desempenhem um papel importante no texto.
Quais são elas? Se uma palavra aparece com relativa frequência
em um texto, ela certamente desempenha um papel importante na compreensão do
todo. Se uma palavra aparece apenas uma vez, muito provavelmente não
precisaremos nos preocupar com ela.
O maior
problema é que tal enfoque é encarado de forma suspeita pela maioria das
pessoas. Como é possível, ignorar uma palavra desconhecida e continuar lendo
como se nada houvesse acontecido? O que estamos propondo não é nada absurdo.
Qual foi a última vez em que consultou um dicionário? Toda vez que encontramos
uma palavra desconhecida vamos em busca do dicionário?
Muito provavelmente não. O que acontece é que, como a nossa familiaridade com o
português é grande, na hipótese de depararmo-nos com uma palavra desconhecida,
o seu sentido, dado o contexto que a cerca, será facilmente deduzido. Isto tudo
praticamente sem mesmo nos darmos conta do ocorrido. A não ser que nos
proponhamos a tarefa de parar a cada vez que
encontrarmos uma palavra desconhecida, a nossa leitura se dá com frequência sem interrupções. As palavras desconhecidas são
intuídas, quase que subconscientemente, e passam a integrar o nosso
vocabulário. Considerando-se que o vocabulário de um adulto consiste de
aproximadamente 50.000 palavras, é ridículo imaginar que tal conhecimento tenha
sido adquirido através de 50.000 visitas ao dicionário. Este vocabulário foi
adquirido, em um processo iniciado em nossa infância, de forma contínua e
através da observação do nosso ambiente, observando outras pessoas falarem,
prestando atenção nas palavras utilizadas em determinadas situações e também
através da leitura.
A nossa
estratégia para o domínio da língua inglesa para leitura é exatamente aquela
utilizada há milhares de anos, com excelentes resultados, pela raça humana. Aprendizado natural, seguindo nossos instintos e pela
interação com o ambiente que nos cerca.
Como
vimos, o domínio das palavras mais frequentes da
língua inglesa, pode nos ajudar a dar um impulso substancial em nosso
aprendizado. Nesta listagem as palavras não estão organizadas alfabeticamente,
mesmo porque não é nosso objetivo reproduzir aqui um dicionário. Também não
incluímos todos os significados possíveis das palavras apresentadas. Todas as
palavras são apresentadas em contexto, em exemplos de utilização. Não
fornecemos a definição da palavra. Para cada palavra são listados em média três
exemplos de utilização, com a respectiva tradução.
É muito
importante ressaltar que estas palavras não devem ser memorizadas de forma
alguma. O ser humano não funciona de forma semelhante ao computador, onde as
informações podem ser armazenadas de qualquer forma, e ainda assim estão
disponíveis em milésimos de segundos quando necessitamos. O ser humano, para
reter alguma informação, precisa situá-la dentro de um referencial de
conhecimentos. A informação nova precisa se integrar à nossa visão do mundo, à
nossa experiência prévia. Apenas desta forma podemos esperar que o conhecimento
adquirido seja duradouro. A maioria de nós certamente já vivenciou situações em
que dados memorizados desapareceram de nossa memória quando não mais
necessários. Ao contrário, tudo que aprendemos ativamente, permanece presente
em nossa memória de forma vívida por muitos e muitos anos.
Embora
esteja sendo fornecida uma lista de palavras, não adote de forma alguma o
procedimento padrão de memorização, que é a repetição intensiva dos itens a
serem memorizados. É certo que cada um de nós possui estratégias distintas para
lidar com o aprendizado, mas eu gostaria de sugerir uma forma de estudo que
certamente funciona.
Primeiramente,
não tenha pressa. Não memorize, procure entender os exemplos. Para cada palavra
apresentada, leia os exemplos e suas respectivas traduções. Não se preocupe em
reter na memória o formato exato das frases e nem de sua tradução. O objetivo é
apenas compreender o significado da palavra apresentada e apenas isto. Uma vez
compreendido este significado o objetivo foi alcançado.
Em
segundo lugar, procure ler apenas enquanto estiver interessado. Não adianta
nada ler todas as palavras de uma vez e esquecer tudo dez minutos depois. Se
nos forçarmos a executar uma atividade monótona por muito tempo, depois de
alguns momentos a nossa atenção se dispersa e nada do que lemos é aproveitado.
Eu sugiro a leitura de dez palavras diariamente. Caso você ache que 10 palavras
diárias é muito, não tem importância, este número é sua decisão. Se quiser ler
apenas uma palavra, o efeito é o mesmo. Irá demorar um pouco mais, mas chegar
ao final é o que importa. É só não esquecer, você deve LER as palavras e NUNCA
tentar memorizar as palavras e os exemplos.
E
finalmente, faça revisão. No primeiro dia leia e entenda dez palavras (ou
quantas julgar conveniente). No segundo dia leia mais dez palavras e faça a
revisão das dez palavras aprendidas no dia anterior. No terceiro dia, aprenda
mais dez palavras e revise as vinte palavras aprendidas nos dias anteriores. E
assim por diante até o último dia, onde aprenderá as últimas dez palavras e
revisará as 240 palavras anteriores. Muito importante, por revisão não quero
dizer que se deve fazer a leitura de todas as palavras e exemplos anteriores.
As palavras mais frequentes estão grafadas em tipo
diferente e em negrito, para que possamos localizá-las facilmente na página.
Apenas examine as palavras anteriores em sua revisão. Caso não se recorde de
seu significado, então, e apenas então, leia os exemplos. A revisão é
extremamente importante. Nós realmente aprendemos quando revisamos conceitos
aos quais já fomos expostos. Procedendo desta forma, tenha certeza de que tudo
o que aprendeu será absorvido de forma permanente, constituindo a base
fundamental de tudo que irá aprender em seus estudos da língua inglesa.
Caso a
sua motivação seja realmente alta e você queira reler todos os exemplos já
estudados, vá em frente. Como você pode notar, os exemplos empregam um
vocabulário bastante rico. A leitura mais frequente
dos exemplos fará com que ao final do estudo o seu vocabulário tenha se
enriquecido muito além das 750 palavras básicas.
Outro
ponto importante é a questão do estudo da gramática. A gramática, ou o estudo
da estrutura da língua, deve ser apenas para ajudar o
aluno a identificar as construções verbais. Não é necessária, para fins de
aprendizado da leitura, a memorização de estruturas gramaticais. Como já
afirmado, o nosso aprendizado se dá de forma natural. Da mesma forma que uma
criança não tem aulas de gramática para aprender sua língua materna, nós também
não devemos nos preocupar com este aspecto em nosso estudo. A leitura dos
exemplos das palavras mais comuns irá lançar os fundamentos iniciais do
conhecimento da estrutura da língua inglesa.
Resta
agora esclarecer um ponto, que é a desculpa favorita de todos nós nos dias de
hoje: a falta de tempo. Tempo certamente é fácil de se encontrar para fazer
aquilo que nos dá prazer. Para resolver o problema de tempo para este estudo,
pense nesta atividade como algo prazeiroso e que lhe
trará benefícios enormes, tanto no campo pessoal como profissional. E além do
mais, o aprendizado e a revisão das palavras pode ser feito diariamente em não
mais de quinze minutos. Se levarmos em conta que os intervalos comerciais em
programas de televisão geralmente duram entre quatro a cinco minutos, todo o
tempo necessário para este estudo pode ser encaixado nos intervalos de sua
novela favorita, certo?
Então,
mãos a obra. Depois que você conhecer as 250 palavras mais comuns da língua
inglesa você poderá verificar como o aprendizado da leitura
da língua inglesa se tornam muito mais fácil. Nesta lista foram
incluídas 750 palavras. Faça um esforço e tente conhecer a todas elas. A sua
tarefa vai ficar ainda mais fácil.
Nos anos
de 1996 e
Como
produto deste treinamento foram criados vários materiais didáticos, um dos
quais é justamente um pequeno livro, já citado, contendo as 750 palavras mais
comuns da língua inglesa. O significado de cada palavra é ilustrado com três
exemplos em média, onde a palavra é usada em contextos diferentes. Este pequeno
manual está disponível para download na Internet.
Além deste manual, existem também outros documentos que descrevem em detalhes
como foi realizado o cálculo que determinou estas palavras mais comuns (ver
referências).
Além do
aprendizado das palavras mais comuns, o interessado em aprender o inglês para
leitura, deve procurar intensificar o seu contato diário com a língua inglesa.
Para isso a Internet pode novamente vir em nosso auxílio. Basta procurar nela
pelo que nos interessa. Na Internet existe informação de todos os tipos e para
todos os gostos. Basta saber e querer procurar.
No curso
de inglês instrumental ministrado na Unicamp, para suplementar o ensino em sala
de aula e para manter o aluno em contato diário com a língua inglesa, foi
criada uma lista eletrônica chamada EFR (English for Reading). Nesta lista é veiculada diariamente uma história,
preferencialmente engraçada (afinal, quem não gosta de uma boa piada?) ou uma
citação. As histórias são em inglês e as palavras mais incomuns são comentadas.
Desta forma os alunos aprendem todos os dias duas ou mais palavras novas. Todos
os dias. Em um ano este pequeno esforço diário pode vir a fazer uma diferença.
O curso acabou em 1997 mas a lista continua enviando
suas mensagens. Esta lista é hoje aberta a todos os internautas
e conta com vários participantes externos além dos participantes do curso
ministrado na Unicamp. Todas as mensagens já veiculadas na lista EFR estão
arquivadas na Web no site
Aprendendo Inglês.
O
objetivo primordial do curso de inglês instrumental era demonstrar que se é
possível aprender inglês para leitura facilmente e despertar o gosto pela
leitura. Quanto mais se ler em inglês mais se aprende o idioma, o que não é
novidade nenhuma. Como vivemos no Brasil, país de língua portuguesa, as nossas
necessidades de utilizar outra habilidade que não a leitura em inglês são
bastante esporádicas. Mas não precisamos parar por aí. A leitura serve também
para desenvolver as outras habilidades necessárias ao domínio da língua
inglesa: a fala, a escrita e a compreensão da língua falada. O principal é que
em um período de tempo bastante curto já estaremos habilitados a navegar pela
Internet inteira e não apenas pela pequena porção representada pela língua
portuguesa.
Finalmente,
queria lembrar a todos que aprender o inglês é bastante fácil. Basta deixar de
lado os preconceitos e traumas que temos com a língua inglesa e realmente
acreditarmos em nossa capacidade de aprender. Não leva a nada guardar rancores
de tentativas frustradas de aprendizado ocorridas no passado. O domínio da
língua inglesa é hoje o nosso passaporte para um mundo de informações que podem
nos ser úteis tanto na esfera pessoal quanto
profissional. Se você não domina a língua inglesa o momento certo para começar
é hoje. Consulte as referências deste artigo, estude com calma a lista das
palavras mais comuns e assine a lista EFR. Você vai ver que sem fazer muita
força em, pouco você estará se locomovendo com
desenvoltura cada vez maior pela Torre de Babel reconstruída que é a Internet.
Depois me escreva contando os resultados.