ETNOBOTÂNICA DE PLANTAS MEDICINAIS

Schirlei da Silva Alves Jorge1 & Ronan Gil de Morais2

1 Mestre em Saúde e Ambiente PPG-ISC/UFMT (schirleijorge@hotmail.com)

2 Mestrando em Saúde e Ambiente PPG-ISC/UFMT (ronangil@hotmail.com.br)

 

 No curso de sua história, o ser humano acumulou informações sobre o ambiente que o cerca e, sem dúvida, esse acervo baseou-se na observação constante e sistemática dos fenômenos e características da natureza e na experimentação empírica desses recursos. A preocupação com o desvendamento e resgate do conhecimento referente ao uso que outros povos fazem dos elementos de seu ambiente natural, vem desde a antiguidade. Neste, inserem-se os saberes relativos ao mundo vegetal, onde será feito um recorte especial para o estudo das plantas medicinais. Sabe-se que o uso das espécies vegetais com fins de tratamento e cura de doenças e sintomas se perpetuou na história da civilização humana e chegou até os dias atuais, sendo amplamente utilizada por grande parte da população mundial como eficaz fonte terapêutica. Através de documentos manuscritos o ser humano foi listando plantas com uso medicinal e descrevendo seus valores terapêuticos. Os naturalistas que acompanhavam as expedições exploratórias às terras do Novo Mundo referendavam as plantas, sem contudo, contextualizar seu manejo pelas sociedades consideradas primitivas, tais como observado em Thevet (Pires, 1984). Os comerciantes, missionários, antropólogos e botânicos também registravam os usos de plantas por culturas diferentes daquelas presentes no continente europeu (Davis, 1995). No Brasil, por exemplo, os alemães J. B. von Spix e Carl F. P von Martius, no século XIX, fizeram notas do uso de plantas pelos indígenas. Já muito antes (no século XVII), no Nordeste do Brasil, os holandeses Guilherme Piso e Georg Marggraf, coletaram plantas e registraram usos conhecidos pelos nordestinos (Albuquerque, 2002). Para Prance (1995) é a partir dos trabalhos de Carl Linnaeus que inicia-se a história da etnobotânica, porque seus diários de viagens continham dados referentes às culturas visitadas, os costumes de seus habitantes e o modo de utilização das plantas. Em 1886, Alphonse De Candolle publica “Origin of cultivated plantas”, onde dados etnobotânicos foram empregados nos estudos sobre a origem e distribuição de plantas cultivadas (Albuquerque, 2002). Em 1895 o americano J. W. Harshberger designou formalmente o termo etnobotânica, como sendo o estudo de plantas usadas por povos primitivos e aborígines e, por força desta definição inicial, durante muito tempo foi entendida com base neste conceito. Porém, para Amorozo (1996), Harshberger só apontou maneiras pelas quais a etnobotânica poderia servir à investigação científica. Com o desenvolvimento das ciências naturais e, posteriormente da antropologia, o estudo das plantas e seus usos por diferentes grupos humanos passou a ter outra visão. A partir de meados do século XX, a etnobotânica começa a ser compreendida como o estudo das inter-relações entre povos primitivos e plantas, envolvendo o fator cultural e sua interpretação. Xolocotzi (1982), definiu a etnobotânica como o campo científico que estuda as inter-relações que se estabelecem entre o ser humano e as plantas através do tempo e em diferentes ambientes. Ford (1986), definiu como o estudo das inter-relações diretas entre homens e plantas. Jain (1987), apud Ming (1995), ampliou o conceito, abrangendo todos os aspectos da relação do ser humano com as plantas, seja de ordem concreta (uso material, conservação, uso cultural, desuso) ou aberta (símbolos de culto, folclore, tabus, plantas sagradas). Por causa dessa abrangência, a prática da etnobotânica necessita de uma elaboração e colaboração interdisciplinar. Prance (1991) enfatiza que a participação de pesquisadores das áreas da botânica, antropologia, ecologia, química, engenharia florestal e agronomia possibilita maiores progressos nas pesquisas etnobotânicas, abordando de maneira múltipla a maneira como o homem percebe, classifica e utiliza as plantas. Alexíades (1996), afirma que a etnobotânica representa o estudo das sociedades humanas, passadas e presentes e todos os tipos de inter -relações ecológicas, evolucionárias e simbólicas. Entre muitos outros questionamentos, Alcorn (1995) analisa a etnobotânica através das relações entre os seres humanos e os recursos vegetais, procurando responder as questões como: quais plantas estão disponíveis no determinado ambiente, quais plantas são reconhecidas como recursos, como o conhecimento etnobotânico está distribuído na população, como os indivíduos percebem, diferenciam e classificam a vegetação e como esta é utilizada e manejada. Amorozo (1996), define a etnobotânica como sendo o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal, englobando tanto a maneira como o grupo social classifica as plantas, como os usos que dá a elas. A prática etnobotânica recebeu diferentes enfoques com o passar do tempo, cada qual refletindo a formação acadêmica dos pesquisadores envolvidos. Sendo de natureza interdisciplinar permitiu e permite agregar colaboradores de diferentes ciências, com enfoques diversos como o social, cultural, da agricultura, da paisagem, da taxonomia popular, da conservação de recursos genéticos, da lingüística e outros (Ming et al., 2002). Com isto vem ganhando prestígio cada vez maior nos últimos anos, suas implicações ideológicas, biológicas, ecológicas e filosóficas dão respaldo ao seu crescente progresso metodológico e conceitual. Atualmente, com base nos trabalhos já realizados, pode-se entender a etnobotânica como sendo o estudo das inter-relações (materiais ou simbólicas) entre o ser humano e as plantas, devendo-se somar a este os fatores ambientais e culturais, bem como os conceitos locais que são desenvolvidos com relação às plantas e ao uso que se faz delas. Begossi (2002), ressalta que os estudos etnobotânicos contribuem em especial para o desenvolvimento planejado da região onde os dados foram coletados. No Brasil e em vários outros países, a intensificação dos trabalhos etnobotânico leva ao conhecimento das espécies que são utilizadas, podendo servir como instrumento para delinear estratégias de utilização e conservação das espécies nativas e seus potenciais (Ming, 2000). Pode-se observar que a Etnobotânica surge como mediadora entre os discursos culturais, mas deve-se ter em mente que há uma diferença entre o discurso científico e o saber tradicional. A questão das diferenças entre a medicina popular e a medicina oficial será discutida mais adiante. Para melhor entender a cultura que se observa, faz-se necessário uma visão de dentro da realidade observada, integrando-se a ela e interferindose o mínimo possível em suas práticas cotidianas. É neste momento que o pesquisador deve despojar-se de suas categorias culturais (Viertler, 2002). Além deste fator, a pesquisa etnobotânica requer inicialmente um levantamento bibliográfico do assunto, permitindo que se elabore um plano geral da pesquisa. De acordo com a sua natureza, determina-se as técnicas que serão empregadas na coleta dos dados, no registro e análise posterior desses dados (Lakatos et al., 1991). Sendo uma confluência de sub-áreas das ciências naturais e sociais, a etnobotânica não poderia deixar de utilizar metodologias que fossem próprias das duas. A partir disso é importante estar consciente das discussões e críticas próprias das ciências sociais sobre métodos porque as dificuldades são as mesmas e os paradigmas também. As sugestões feitas pelos cientistas sociais sobre postura de campo, ética com quem fornece os dados, primeiros contatos e abordagem do informante, conduta com os informantes depois da fase de coleta de informações e as maneiras como o pesquisador pode analisar os dados que tem em mãos são extremamente importantes e necessárias à pesquisa etnobotânica. Dois pontos principais norteiam a pesquisa etnobotânica, a coleta das espécies vegetais e a coleta de informações sobre estas. A coleta da planta para sua identificação e estabelecimento do seu nome científico permite verificar também o local de origem da espécie, as influências interculturais ligadas aos seus usos práticos e recuperar informações de outras regiões ligadas àquela espécie. Ming (1996) traz informações mais detalhadas sobre a coleta de plantas medicinais para herborização. Para a coleta de informações sobre as espécies deve-se desenvolver uma metodologia que dependerá da análise de fatores étnicos, culturais, geográficos, institucionais, temporais e financeiros. Metodologias empregadas para populações indígenas diferem das metodologias empregadas para caboclos e comunidades rurais. Desta forma, Ming (1995) sugere um primeiro contato com o grupo a ser pesquisado, a fim de que se elabore uma metodologia mais adequada. De acordo com a circunstância e os objetivos propostos, as diferentes investigações etnobotânicas recorrem a várias técnicas, oriundas de diversas disciplinas, dentre elas: as técnicas qualitativas e quantitativas, as valorações econômicas, a análise lingüística, a análise fitoquímica e o screening farmacológico (Martin, 1995). Segundo Minayo e Sanches (1993), a investigação qualitativa trabalha com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes, opiniões, procurando aprofundar-se na complexidade dos fenômenos. De modo geral, se preocupa em esclarecer como o homem compreende, interpreta e se relaciona com o mundo vegetal. O objeto da abordagem qualitativa é o nível das percepções e dos sentimentos, em constante interação com os elementos ecológicos, dos significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores, que se expressam pela linguagem comum e na vida cotidiana. O material essencial da investigação qualitativa é a pal avra que se expressa na fala, revelando condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas de cada grupo estudado. O confronto entre o saber, expresso na fala, e o fazer, expresso no cotidiano, é tarefa complementar da investigação qualitativa, não dispensando as etapas de observação e convivência no campo. Há vários métodos e técnicas que podem ser utilizados em uma abordagem qualitativa, sendo importante a utilização de um roteiro que serve como facilitador e orientador em uma conversa. Pode-se fazer uso de prétestes, questionários e entrevistas, dependendo do propósito do entrevistador. Para MINAYO (1998), visto o aspecto múltiplo e plurifacetado do objeto de estudo, o mais coerente é o uso de várias técnicas. Elas não devem ser misturadas, mas criteriosamente delimitadas no tempo de permanência em campo e na sua abordagem prática. Esta combinação é sugerida para trazer a melhor elucidação de questionamentos e a maior proximidade da realidade por mostrar, sob vários pontos de vista, os múltiplos elementos que fazem parte do objeto enfocado. Segundo De La Cruz Mota (1997), as entrevistas podem ser estruturadas e semi-estruturadas, diferindo em grau (mais ou menos dirigida), porque nenhuma entrevista para finalidade de pesquisa, onde se elabora um roteiro, ocorre totalmente aberta. Nas entrevistas do tipo semi -estruturadas o entrevistado pode discorrer livremente sobre o tema proposto pelo pesquisador. Em seu trabalho, a autora cita também a discussão em grupo, história de vida e observação participante. Vale salientar ainda os trabalhos de Haguette (1992) e Viertler (2002) que abordam aspectos da metodologia qualitativa. A outra forma de aquisição e interpretação de dados em estudos etnobotânicos, é a abordagem quantitativa que, de acordo com Mi nayo e Sanches (1993), atua em níveis de realidade, abarcando grandes aglomerados de dados, classificando-os e tornando-os inteligíveis através das variáveis. Isto é, avalia e analisa os dados primários recolhidos. No que se refere às plantas medicinais, esta análise tenta aferir o grau de importância que certas plantas tem pela freqüência e consistência de seu uso. A quantificação dentro da metodologia etnobotânica foi avaliada por muitos autores, como: Friedman et al. (1986); Prance et al. (1987); Amorozo & Gely (1988); Phillips & Gentry (1993a,b); Lewis & Elvin-Lewis (1994); Balick (1994), Begossi (1996), Phillips (1996), Caballero (1997), entre outros. Com a aplicação de técnicas quantitativas, a etnobotânica ganhou novo direcionamento Atualmente estão sendo adotados vários critérios para este tipo de análise, o que possibilita comparar e avaliar o significado das plantas para determinados grupos, bem como fornecer dados para a conservação dos recursos naturais. Segundo Begossi (2002), o uso de índices de diversidade permite comparações entre o conhecimento etnobotânico de diferentes comunidades, ou entre diferentes subgrupos dentro de uma mesma comunidade, como entre homens e mulheres e entre diferentes categorias etárias. Embora ocorra, nos estudos etnobotânicos, essa dicotomia metodológica, deve-se ter em mente que qualitativismo não implica em falta de rigor e que quantitativismo, embora algumas vezes dispensável para a compreensão de certos fenômenos, é uma via complementar da anterior. É evidente que cada abordagem (qualitativa ou quantitativa) aqui relatada é própria para uma forma de aquisição de informação ou outra e que suas vantagens e desvantagens devem estar claras ao pesquisador para que ele decida qual a que melhor se adequará aos questionamentos que procura responder. Nenhuma abordagem é melhor, mais correta ou mais científica que a outra; cada uma tem elementos positivos e negativos que devem ser considerados e que farão um recorte específico da realidade. Para Marques (2002), uma abordagem equilibrada deve reconhecer a legitimidade da pesquisa quantitativa e da pesquisa qualitativa e buscar, se necessário, a integração entre ambas, uma dando resposta às questões que a outra não consegue dar. Elas podem e devem ser utilizadas como complementares, sempre que o planejamento da investigação esteja em conformidade. A dinâmica no conhecimento da realidade do outro é algo fascinante, mas devemos ter em mente, como afirma Posey (1967), que nem todas as crenças e fenômenos naturais da cultura estudada coincidem com a ocidental. Por mais ilógico e absurdo que possam parecer, os dados devem ser registrados em sua totalidade, porque alguns conceitos podem gerar novas hipóteses a serem testadas. Apesar da acelerada evolução tecnológica e cultural, o ser humano continua buscando os recursos naturais para o suprimento de suas necessidades básicas, dentre as quais destaca-se a saúde. Para Albuquerque (2002), as propostas e implicações da etnobotânica possibilitam: ·  A descoberta de substância de origem vegetal com aplicações médicas e industriais, devido ao crescente interesse pelos compostos químicos naturais. ·  O conhecimento de novas aplicações para substâncias já conhecidas. ·  O estudo das drogas vegetais e seu efeito no comportamento individual e coletivo dos usuários frente a determinados estímulos culturais ou ambientais. ·  O reconhecimento e a preservação de plantas potencialmente importantes em seus respectivos ecossistemas. ·  A documentação do conhecimento tradicional e dos complexos sistemas de manejo e conservação dos recursos naturais dos povos tradicionais, bem como a promoção de programas para o desenvolvimento e preservação dos recursos naturais dos ecossistemas tropicais. ·  O descobrimento de importantes cultivares manipulados tradicionalmente e por nossa ciência desconhecidos. As investigações etnobotânicas trazem contribuições para a conservação da diversidade biológica e cultural da região estudada. Contribui também para a compreensão de diferentes aspectos do comportamento humano, como: as estratégias de sobrevivência e adaptação ao meio ambiente; a classificação, o manejo e conservação dos recursos naturais; as formas de transmissão dos conhecimentos, alicerçando e estreitando as relações de parentesco entre os membros do grupo ou comunidade estudada. Dentro da abordagem dinâmica que envolve a relação ser humano/plantas e seus níveis interativos, os etnobotânicos começaram a questionar: A quem se destina os conhecimentos produzidos ? Como levar algum retorno das investigações para o meio social no qual elas se iniciaram ? Caballero (1983), sugere que a etnobotânica deixe de ser um exercício acadêmico e coloque-se a serviço das comunidades de onde saíram as informações. Elisabetsky (1987), lista algumas formas alternativas de retorno das informações, às comunidades usuárias e conhecedoras de plantas medicinais. Para De La Cruz Mota (1997), a devolução elaborada dos dados, oriundos da pesquisa etnobotânica, às populações de origem podem contribuir para que esses conhecimentos, seus informantes, suas comunidades e as espécies locais sejam melhor compreendidas e valorizadas. Martin (1986), enfatiza que a própria comunidade deve participar do desenvolvimento da pesquisa, o fazer etnobotânico promoverá a conservação e desenvolvimento dos recursos naturais, o conhecimento da natureza, a recuperação do equilíbrio ecológico, o desenvolvimento cultural e a execução de tarefas derivadas da investigação, como a formação de hortas de plantas medicinais, empregadas pela própria comunidade. Atualmente, com a busca pelos elementos naturais e as dificuldades encontradas diante do progresso acelerado, é indiscutível a necessidade do retorno dos dados etnobotânicos para as comunidades estudadas. Tais contribuições poderão ajudar no planejamento de questões ligadas a conservação e manejo da biodiversidade local, além de proporcionar o desenvolvimento de políticas ambientais culturalmente adequadas, que visem uma melhor qualidade de vida. O retorno dos dados da pesquisa etnobotânica da presente autora, aos ribeirinhos com quem foi realizado o seu trabalho de mestrado, foi muito gratificante. Em primeiro lugar, por ela perceber a satisfação da comunidade pela retribuição dos seus próprios ensinamentos e o retorno e registro de histórias que estavam esquecidas. Em segundo lugar, por se tornar um material didático nas aulas de ciências e estudos sociais da escola local. Distante da realidade urbana, a comunidade de estudo possui crianças de diferentes idades que andam quilômetros para chegar à escola. A riqueza da abordagem etnobotânica e sua ligação com várias áreas de conhecimento possibilitou à professora interpretar fatos do cotidiano da comunidade que foram levados para dentro da sala de aula e integrados aos assuntos trazidos pelos livros didáticos. Ela enriqueceu assim, o conteúdo programático e abordou vários assuntos de uma maneira mais próxima da própria vivência dos seus alunos. Até então estes fatos passavam desapercebidos pela professora, por ela ser parte integrante daquela comunidade. As atividades desenvolvidas serviram para chamar a atenção das futuras gerações, ali representadas, sobre a importância da cultura local, através do uso e manejo dos recursos naturais, em especial da flora medicinal. Por uma abordagem da medicina popular Ao se discutir sobre etnobotânica e plantas medicinais, invariavelmente impõe-se a discussão das questões próprias ao campo das ciências sociais e da saúde. Assim como a etnobotânica, mesmo que realizada por botânicos ou ecólogos, não deve se desvencilhar dos aspectos próprios das ciências humanas, quando ela enfoca o tema plantas medicinais ela não deve se desvencilhar das discussões que permeiam a área da saúde. Desta forma, será feita uma breve discussão sobre aspectos que têm grande importância para clarear um dos objetos de estudo etnobotânico. Para Buchillet (1991), as representações das medicinas tradicionais foram consideradas, por muito tempo, como objetos exóticos, desprovidos de coerência e eficácia, característicos de sociedades e culturas atrasadas, sendo destinadas a desaparecer com a implementação e disseminação da medicina ocidental. Foi o clássico trabalho Medicine, magic and religion de Rivers em 1924 que deu o primeiro passo decisivo para revalorização destas medicinas. Para isso, ele mostrou que deve-se compreender a lógica interna do sistema tradicional de cura dentro do contexto sócio-cultural onde ocorre; diferente da visão etnocêntrica simplista e reducionista que ocorria antes. Atualmente numerosos trabalhos abordam as concepções tradicionais da saúde e doença; representações do corpo e do indivíduo; categorias etiológicas das doenças; técnicas de diagnóstico e de cura; estratégias terapêuticas; concepção da eficácia terapêutica; práticas profilát icas; categorias, formação, status e atributos dos curadores tradicionais; entre outros. Todos estes elementos passíveis de estudo, são importantes ao esclarecimento das concepções e práticas relativas à saúde e doença em uma comunidade. Por isso, em etnobotânica de plantas medicinais é importante que esses aspectos sejam levados em consideração durante a elaboração do trabalho, porque eles fazem parte do objeto de estudo, eles são intrínsecos e inerentes a todo e qualquer sistema de cura. Visto que a etnobotânica não busca somente uma listagem de plantas que podem ser levadas para laboratório mas, além disso, elucidar os elementos (materiais ou simbólicos) constitutivos e característicos das concepções e práticas terapêuticas locais, é importante salientar o que se discute sobre medicinas populares. As práticas terapêuticas estão ligadas ao próprio desenvolvimento do ser humano enquanto espécie de ampla dispersão mundial e existem há milhares de anos. Estas práticas e o uso de plantas medicinais representaram um marco determinante no estabelecimento do ser humano na face da terra e estabeleceram uma alteração significativa na relação ser humano/natureza. Porém, historicamente, a medicina popular passa a se desenvolver paralelamente à medicina ocidental quando esta última é iniciada na Grécia Antiga pela escola de Cós. Para Arruda (1997), a medicina oficial teve em Hipócrates o seu marco fundante, porque ele deu à medicina o seu caráter científico e racionalista. Como afirmado por Laplantine e Rabeyron (1989), entre as duas grandes ortodoxias do ocidente - a missa e a consulta médica - existe todo um espaço no seio do qual estão estreitamente entremeadas as noções de saúde e salvação. É nesse espaço que, para eles, se instalam elementos extremamente diversificados, constituídos de práticas muito heterogêneas, mas que eles classificam em dois tipos: um campo extramédico e um campo paramédico. O que os autores denominam campo extramédico será abordado aqui, pois constitui aquele inscrito numa cultura tradicional que, para os autores, se torna cada dia mais residual e pode ser denominada de medicina popular. Para Laplantine e Rabeyron (1989), o próprio conceito de medicina popular deve ser questionado, pois ela está longe de ser apenas médica (no sentido da medicina oficial) e de ter origem estritamente popular. Ela está além, porque o seu corpo de conhecimento se dilui nas outras instâncias próprias da vida e porque, por inúmeros aspectos, ela retoma por sua conta conhecimentos e prescrições da medicina oficial de décadas ou séculos precedentes, hoje abandonadas pelos diplomados. Considera-se também que em seu desenvolvimento houve influência de elementos culturais originários de continentes geograficamente separados mas historicamente colocados em contato. Para Savastano e Di Stasi (1996), nesta complexa medicina, além dos conhecimentos que podemos chamar espontâneos e que caracterizam a cultura popular local, existe um grande processo de aculturação a partir da influência européia, latina, africana e asiática. A medicina popular consiste em um certo número de práticas de prevenção e cura fundamentadas numa visão coerente do homem e do cosmos. Para Laplantine e Rabeyron (1989) esta medicina é inicialmente uma medicina tradicional e se fundamenta em uma visão mágica ou mágico-religiosa. O que estes autores entendem por magia é a confiança em certa ordem da natureza e em certo número de processos capazes de agir sobre essa natureza, manipulando forças cujo conhecimento se obtém por iniciação. É um ato de fé em um princípio de harmonia: o equilíbrio do homem, da natureza e da cultura, que se opõe à tendência de dissociação destes três elementos pela especialização. Quintana (1999), considera que na literatura a linha divisória entre a medicina popular e a oficial destaca muito o processo mágico-religioso. Mas, para ele, a diferença não é tão radical assim pois, no interior de hospitais pode-se observar a presença do elemento religioso (capelas, crucifixos, imagens de Jesus Cristo, Bíblias, nomes de santos para prédios hospitalares). Assim, não existiriam nem práticas terapêuticas puramente científicas nem puramente mágico-religiosas. O que existiria seria um foco maior ou menor para os processos mágico-religiosos em cada uma. Enquanto nas terapias populares eles ocupam um lugar central tanto nos seus procedimentos quanto na sua lógica interna e na sua fala; nas práticas médicas oficiais eles se apresentam de maneira periférica, sendo também excluídos de seu discurso explícito. A medicina popular se fundamenta em um corpo de conhecimento que sofre mudanças espaço-temporais e que possui um modo de transmissão essencialmente oral e gestual que não se comunica através da instituição médica, mas por intermédio da família e da vizinhança. Essa transmissão oral e gestual é de base prática, os mais novos aprendem com os mais velhos vendo-os atuar socialmente e desempenhar a atividade que no futuro serão um de seus afazeres e uma de suas necessidades. Para Amorozo (1996), não existe discriminação entre saber teórico e prático, sendo ambos adquiridos ao mesmo tempo, na medida em que as crianças participam das tarefas cotidianas da comunidade e absorvem aos poucos explicações verbais e codificações sobre elas, enquanto aprendem como fazê-las. O conhecimento em comunidades tradicionais (o saber) aparece sempre ligado ao seu aspecto prático (o fazer), ou seja, os saberes estão interligados a uma vivência, a uma interferência real no ambiente que a comunidade ocupa, sendo muitas vezes essa ação o fator de origem e surgimento de novos saberes. O que se sabe deve possuir sempre algum objetivo e resultado prático. Assim, como afirma Viertler (2002), no caso das investigações etnobotânicas a classificação das plantas só possui sentido para os informantes se for construída a partir de várias práticas sociais, como o cultivo da terra, a preparação de comida, remédios ou cosméticos ou para a cura de doenças. Para ela, é preciso integrar também a existência de certas entidades sobrenaturais que requerem o rastreamento de um mundo sobrenatural inacessível à verificação empírica. Por sistema de cura pode-se considerar o diversificado conhecimento sobre plantas e seus usos, que não se restringe somente à questão material mas simbólica também, que tenha como objetivo a solução de problemas de saúde e de distúrbios físicos, sobrenaturais ou sociais. Esse conhecimento das plantas está associado à uma compreensão da manifestação do estado mórbido e do corpo humano (sua anatomia e fisiologia) baseada na construção de significados própria dos indivíduos da comunidade. Estes elementos (conhecimento do próprio corpo e da doença que o aflige, expressão de elementos simbólicos e uso das plantas medicinais) de uma determinada forma se inter-relacionam, e é esse conjunto e essa inter-relação que, como sistema de cura, possui ainda características de natureza temporal em relação ao grupo (visto que as informações são repassadas entre suas gerações). Este sistema seria então, o conjunto dos múltiplos elementos que perfazem a própria relação ser humano-natureza e que unem a existência material dos sujeitos com seu universo simbólico e sua visão cosmológica. Amorozo (1996), que aborda o tema definindo-o como "sistema médico" (não foi usado o termo médico porque ele está mais relacionado à institucionalização ocidental da prática terapêutica), diz que talvez não devêssemos denominálo 'sistema' visto que é um corpo do conhecimento que muitas vezes se dilui com o conhecimento próprio a outras instâncias da vida. A autora ainda complementa que, na verdade, os sistemas médicos procuram responder a uma busca fremente do enfermo, e dos que lhe são próximos, pela cura. Uma diferença bastante marcante entre a medicina ocidental oficial e as medicinas populares foi discutida por Laplantine e Rabeyron (1989) no âmbito da dimensão social e psicológica dos sistemas de cura. Enquanto a medicina ocidental constitui -se como ciência objetiva às custas de uma descontextualização cultural da doença por autonomia do médico (e de sua comunidade), o que incide na emancipação da doença em relação à sua expressão social, constituída no mágico-religioso ou no religioso; a medicina popular, ao contrário, contextualiza a doença em uma dimensão religiosa, mágico-religiosa ou cosmológica e a interpreta em uma esfera bastante abrangente que tem como centro da questão a expressão de uma dimensão constitutiva da doença: sua relação com o social. Para os autores, é por isso então que, os sistemas de cura tradicionais podem agir no sentido de uma ressocialização do indivíduo mas às custas de uma dependência em relação à pessoa do curador. Worsley (1982) apud. Amorozo (1996) complementa que em sociedades tradicionais, os sintomas de doenças físicas são explicados de forma a não separar a natureza do sobrenatural, o mundo social do mundo da natureza e o indi víduo de sua matriz social; mas, pelo contrário, existe uma interdependência de todos os quatro (natureza, sobrenatural, sociedade e indivíduo). A abordagem da doença é feita, não em um esquema biomecanicista, mas sim cósmico. Por isso, em sociedades tradicionais, as doenças podem ser reconhecidas em três níveis etiológicos, nos quais ocorre o diagnóstico da afecção: o nivel físico (ou "natural"), o nível sobrenatural e o nível social. Para Amorozo (1996), o nível físico abrange doenças cuja origem deve ser procurada entre causas físicas ou fisiológicas; o nível sobrenatural é aquele no qual o estado mórbido é causado pela intervenção de uma entidade sobrenatural; e o nível social se caracteriza quando a causa é decorrente de relações sociais conflituosas, que culminam com a intervenção, acidental ou deliberada, de uma pessoa ou grupo, que vai provocar uma doença em outra pessoa ou em um grupo rival. Assim, o tratamento será realizado de acordo com o nível em que a doença se encaixa, dependendo do tipo o doente será tratado de uma forma ou de outra. A percepção sobre a doença e a sua cura se baseia na visão cosmológica da comunidade em estudo. O próprio surgimento e forma de manifestação da doença se baseia na percepção da confluência de elementos bióticos, abióticos e/ou sobrenaturais que trazem infortúnios. Assim, para Amorozo (1996), muitas peculiaridades do emprego de plantas medicinais não podem ser entendidas se não forem levadas em consideração os fatores culturais envolvidos e o ambiente físico em que ocorre. A autora ainda afirma que, quando os integrantes de uma comunidade compartilham uma certa visão de mundo, estabelece-se uma coesão do grupo (uma socialização e sociabilidade dos seus integrantes), fornecendo-lhe elementos e formas de explicar e dar significado à realidade. As sociedades tradicionais têm sido em alguma medida influenciadas pela medicina oficial. Para Amorozo (1996), isso não destrói os esquemas explicativos preexistentes, mas acrescenta novas possibilidades a estes. Assim, algumas doenças podem ser vistas como sendo curáveis só pelos médicos ou só por outros especialistas (benzedeira, pajé, ...),ou ainda pode ocorrer o tratamento sincrético, sendo que o doente aceita a explicação da medicina ortodoxa e dos especialistas culturalmente mais próximos, seguindo as prescrições de ambos. Está claro que a relação inversa também ocorre; a constatação de que a medicina popular está entranhada em muitos setores da sociedade industrializada atual, vem demonstrar sua capacidade de adaptação à ambientes os mais diversos. Desde regiões rurais ou florestais à regiões urbanas, o leque de manisfestações apresentadas pela medicina popular é vasto e o seu estudo é importante. Sob a forma de receitas medicinais, de "santos remédios", de rituais de proteção e de agressão, ela continua a transmitir-se (o que significa também evoluir) nos próprios interstícios da sociedade industrial e tecnicista do século XX (Laplantine e Rabeyron, 1989). Mesmo no século XXI, a rede virtual de informações disponibiliza dados sobre uma série de práticas populares e, ligadas à trabalhos de pesquisa etnobotânica ou não, a difusão destas informações se dá em um nível mundial e sua importância se destaca em mesma altura. Referências bibliográficas ALBUQUERQUE, U. P. de. A Etnobotânica no Nordeste Brasileiro. In: CAVALCANTI, T. B., (Org.). Tópicos atuais em botânica: Palestras convidadas do 51º Congresso Nacional de Botânica. Brasília: Embrapa, 2000. p.241-249. ________. Introdução à Etnobotânica. Recife: Bagaço, 2002, 87p. ALCORN, J. B. The scope and aims of etnobotany in a developing world. In: SCHULTES, R. E. & REIS, S. V. (Ed.). Ethnobotany: evolution of a discipline. Portland: Dioscorides Press, 1995. p.23-39. ALEXIADES, M. N. (Ed) Selected guidelines for Ethnobotanical research: a field manual. New York: New York Botanical Garden, 1996, 306p. AMOROZO, M. C. M. A abordagem etnobotânica na Pesquisa de Plantas medicinais. In: DI STASI, L. 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