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FITOSSOCIOLOGIA E LEVANTAMENTO FLORÍSTICO

SEMANA 2
Distribuição espacial de espécies
Técnicas de levantamento florístico e fitossociológico
Parâmetros fitossociológicos

Fontes: Mata Nativa e Biblioteca de Biologia


OBJETIVOS
Após esta aula, você deverá ser capaz de
:
  • Compreender o que são parâmetros fitossociológicos e sua importância: densidade, frequência, dominância, valor de importância e valor de cobertura
  • Comprender os conceitos: população, amostra e distribuição espacial
  • Estudar três métodos para levantamento florístico e fitossociológico: transecto, parcela e quadrante


  • 1. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PARÂMETROS FITOSSOCIOLÓGICOS?

    Este tópico apresenta os seguintes parâmetros mais utilizados em fitossociologia:

  • Densidade
  • Frequência
  • Dominância
  • Valor de importância
  • Valor de cobertura

    Cada parâmetro será discutido detalhadamente e aplicado em aulas práticas em campo. Além disso, compreender a sua conceituação implica diretamente no uso de um importante índice (H' - Shannon).


    1.1 Densidade

    Este parâmetro também é definido como abundância e está intrinsecamente relacionado com o número de indivíduos de cada espécie na constituição da comunidade vegetal.

    Em Química, usamos o conceito de densidade de um composto ou substância como sendo a relação entre a massa e o volume desse material. Em Demografia, esse conceito é referido como o número de habitantes de um local dentro de uma área geográfica delimitada (em geral, habitantes por quilômetro quadrado).

    Em Fitossociologia, a densidade é a relação entre o número de indivíduos de plantas (em geral, árvores ou arbustos) encontrados em uma área.

    Usaremos dois conceitos:

  • Densidade absoluta (Da)
    Tal parâmetro expressa o número de indivíduos de uma determinada espécie por unidade de área.
    Geralmente, a área é fornecida por hectare, em que: 1 ha = 10.000 m2.
    Assim:

  • Densidade relativa (Dr)
    Aponta a relação existente entre o número de indivíduos de uma espécie e o número total de árvores amostradas na área.
    Este parâmetro é expresso em porcentagem.
    Assim:

    Considere, tanto para Da quanto para Dr, o seguinte:

    n: número de indivíduos de uma espécie;
    N: número total de indivíduos amostrados na comunidade vegetal;
    A: Área mostrada (em hectare).


    1.2 Frequência

    Este é um parâmetro que visa à quantificação da distribuição espacial de uma determinada espécie sobre a área. Em outras palavras: a frequência exprime o número de unidades amostrais em que uma espécie ocorre em função do número total de parcelas.

    Tal como ocorre com a densidade, veremos dois conceitos de frequência:

  • Frequência absoluta (Fa)
    Este parâmetro exprime a proporção em que uma determinada espécie ocorre na área.
    Assim:

  • Frequência relativa (Fr)
    Este parâmetro é expresso em porcentagem e constitui a representação da relação entre a frequência absoluta de uma espécie e o somatório das frequências absolutas de todas as espécies amostradas na comunidade.
    Assim:

    Considere:

    ui: número de unidades amostrais em que há a ocorrência da espécie;
    Ut: número total de unidades amostrais na área de interesse.


    1.3 Dominância

    A dominância considera a área basal* e expressa, assim, o grau de ocupação de cada espécie na área de interesse.
    Por meio deste parâmetro é possível inferir a biomassa presente na área.

    *A área basal é a medida realizada no colo da árvore, ou seja, no limite entre o caule e a raiz. É, muitas vezes, meio complicado realizar a medida da área basal e somente prática em campo torna o pesquisador mais confiante na obtenção desse dado.

    A seguir, os dois conceitos associados à dominância:

  • Dominância absoluta (DoA)
    A DoA caracteriza a área basal total de uma espécie por unidade de área (normalmente, o hectare).
    Assim:

    Considere:

    gi: área basal total da espécie de interesse;
    A: área amostrada;
    DAP: Diâmetro ao nível do peito (aprox. a 1,30 metros do solo).

  • Dominância relativa (DoR)
    O parâmetro DoR expressa a porcentagem da área basal da espécie de interesse em relação à área basal de todas as espécies amostradas.
    Assim:

    Considere:

    gi: área basal total da espécie de interesse;
    G: área basal de todas espécies amostradas na área de interesse.


    1.4 Valor de importância

    O índice de valor de importância (IVI) retrata a importância ecológica da espécie na comunidade vegetal. Em outras palavras: o IVI representa a relevância que cada espécie possui dentro da formação vegetal.

    Uma espécie é considerada como mais importante em função da sua capacidade em explorar os recursos disponíveis na área.

    Assim, temos que:

    Considere:

    Fr: Frequência relativa;
    Dr: Densidade relativa;
    DoR: Dominância relativa.


    1.5 Valor de cobertura

    O Valor de Cobertura (VC) tem o mesmo princípio do IVI: retratar a importância da espécie. Contudo, este parâmetro considera a densidade e dominância das espécies, representando, respectivamente, o número de indivíduos e suas dimensões.

    Assim, temos que:

    Considere:

    Dr: Densidade relativa;
    DoR: Dominância relativa.

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    RESUMO DOS PARÂMETROS FITOSSOCIOLÓGICOS
    O estudo da fitossociologia, por analisar e considerar aspectos de agrupamento de espécies, a relação entre as mesmas e a determinação da relação das espécies com o ambiente, é considerado amplo, complexo e de suma importância.

    A partir da quantificação dos parâmetros fitossociológicos, sejam atrelados tanto à estrutura vertical quanto à estrutura horizontal, ou em conjunto, pode-se inferir a relevância ecológica das espécies em uma determinada formação vegetal.

    Os estudos fitossociológicos permitem caracterizar o estágio de sucessão da comunidade vegetal, realizar a comparação da riqueza da vegetação entre diferentes áreas, prover uma melhor análise paisagística e propor subsídios para a conservação da diversidade.


    2. POPULAÇÃO, AMOSTRA E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL... O QUE ESTES CONCEITOS TÊM EM COMUM?



    Se você já teve noções gerais de estatística, deve se lembrar que a estatística indutiva (também denominada amostral ou de inferência) parte do princípio de que, em uma dada população, pode-se extrair dados a partir de amostras, especialmente se for praticamente impossível levar em conta TODOS os indivíduos da população (Figura 1).

    Figura 1. Na teoria dos conjuntos, uma população pode ter uma ou mais amostras. Assim, as amostras são partes de uma população.

    Assim, vamos imaginar a seguinte situação: É possível a realização de um levantamento de TODAS as árvores presentes em uma área de mata de 200 ha? Se a sua resposta imediata foi não, então a relação população/amostra é válida.

    De fato, em uma área florestal muito grande, é praticamente impossível a realização de um inventário florestal (checklist) completo; assim, por meio de amostragem, pode-se fazer uma estimativa da riqueza de espécies e, também, da abundância.

    E como os indivíduos em uma área geográfica estão distribuídos?
    Esta pergunta pode nos levar a três situações distintas (Figura 2):

    a) Quando os indivíduos estão homogeneamente distribuídos em uma área, como ocorre, por exemplo, em um eucaliptal ou em uma floresta densa com vegetação contínua, temos a distribuição homogênea;
    b) Quando não se nota um padrão de distribuição em que há relativa equidistância entre os indivíduos, ocorre a distribuição aleatória ou heterogênea;
    c) Quando há um padrão em que parcelas dos indivíduos estão reunidos em agrupamentos facilmente perceptíveis, temos a distribuição agregada.

    Figura 2. Três situações de distribuição geográfica de indivíduos em uma área. Em A, temos distribuição homogênea; em B, distribuição aleatória (heterogênea); em C, distribuição agregada.


    3. COMO PODEMOS FAZER UM LEVANTAMENTO FLORÍSTICO?



    Os levantamentos de fauna englobam uma diversidade muito grande de procedimentos (técnicas), tais como uso de drones, armadilhas fotográficas, pitfalls, método de recaptura e amostragem etc. Para levantamentos de flora, três métodos são geralmente empregados:

  • Transecto
    Este método é muito simples, de fácil aplicação em campo e que permite rapidez nos levantamentos. Consiste de uma corda ou barbante de comprimento previamente selecionado (20 m, 40 m, 50 m etc.) que unirá dois pontos predeterminados em uma área qualquer.
    Os pontos podem ser fixados por estacas ou ser amarrados em troncos de árvores.
    O pesquisador caminha pelo transecto e faz o levantamento dos indivíduos que estejam até 2 m de cada lado do transecto. De forma mais empírica, em geral, o pesquisador anda com os braços abertos; todos os indivíduos dentro dessa área entre a ponta do dedo da mão esquerda até a ponta do dedo da mão direita são considerados para fins de amostragem (Figura 3).

    Figura 3. Esquema de um transecto: A = visão superior no interior de uma área a ser amostrada; B = esquema mostrando o pesquisador com os braços estendidos (1 = indivíduo não considerado; 2 = indivíduo considerado).

  • Parcela
    Este método consiste em delimitar uma área (geralmente, quadrangular) a partir de quatro pontos, por meio de estacas e uma corda ou barbante (Figura 4).

    Figura 4. Representação de uma estaca para ser produzida, preferencialmente, de madeira. Note que, próximo à margem superior, deve haver um furo por meio do qual a corda ou barbante deve passar. A parte inferior da estaca deve ter formato de cunha ("V") para ser enterrada no solo do local. Na falta de martelo, pode-se usar pedras para este fim.

    A área da parcela (Figura 5) pode ser variável e dependente do tipo de ambiente em que será instalada. Por exemplo: parcelas em ambientes com dificuldade de locomoção (interior de manguezal, área de mata fechada com subosque muito emaranhado etc.) tendem a ter de 4,0 a 9,0 m2 - ou seja, lados de 2 m ou 3 m. Por outro lado, parcelas em ambientes sem muitas dificuldades de locomoção ou em superfícies com poucos cipós e lianas tendem a ter de 25 a 100 m2 - ou seja, lados de 5 m ou 10 m.
    Parcelas podem ser:

    a) Temporárias: como o nome diz, estas são parcelas que são montadas apenas durante o período de levantamento fitossociológico, sendo desmontadas após a realização dos trabalhos.

    b) Permanentes: neste caso, estas parcelas são montadas com material durável em longo prazo e em áreas que, além de levantamento fitossociológico, também têm como escopo projetos como sucessão ecológica, por exemplo.

    Figura 5. Visão superior de uma parcela, mostrando a delimitação da área quadrangular a partir de quatro estacas. Neste exemplo, a parcela tem área de 100 m2.

  • Quadrante
    O método dos pontos quadrantes (ou, simplemente, quadrantes) não estabelece uma área fixa, tal como ocorre com os transectos e as parcelas. Estabelece-se um ponto na vegetação e divide-se a área ao redor desse ponto em quatro quadrantes (Figura 6).
    O ponto central do quadrante é uma figura em forma de cruz ou sinal de adição. Em cada um dos quadrantes, registra-se a planta mais próxima do ponto que atinge o critério de inclusão adotado. Fica a critério do pesquisador alinhar o ponto central com uso de bússola ou GPS.
    Por ser relativamente trabalhoso e demorado, para pessoas com pouca prática de campo, este método tem sido pouco utilizando, dando-se preferência aos outros dois já mencionados.

    Figura 6. Representação esquemática de um quadrante. Neste caso, o pesquisador considerou quatro indivíduos arbóreos e quatro indivíduos arbustivos que estavam a uma distância máxima de 2 m a partir do ponto central.


    Leitura 1
    Como definir parcelas para o inventário florestal

    Leitura 2
    População e amostra: qual a diferença?


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