Especialista ambiental fala sobre a Hora do
Planeta
Disponível
em: http://miriammorganuns.blogspot.com.br/
(postagem em: 31 de março de 2012).
ENTREVISTA
Muito bom dia. É um prazer
recebê-lo aqui para conversarmos sobre meio ambiente, e, em especial, sobre A
Hora do Planeta.
Miriam Santiago: Fernando você que é Biólogo, músico amador, pesquisador
de Botânica, mestre em História da Ciência e doutor em Educação, como você
avalia o ato simbólico A Hora do Planeta – Earth Hour -, que será realizado neste sábado?
Fernando
Santiago dos Santos:
Como você mesma disse, é um ato simbólico. A crescente onda de conscientização
ecológica pressupõe que as ações locais devam influenciar o mundo globalmente –
o famoso mote da Educação Ambiental, “Pense globalmente. Aja localmente”. A
sociedade, de forma geral, identifica os símbolos como ferramentas úteis para
alcançar pessoas que não conhecem determinado assunto ou não estão totalmente
conscientes de sua importância. Então, neste raciocínio, penso que o ato
simbólico da “Hora do Planeta” tem sua função socioambiental
definida como positiva.
Miriam Santiago: Como foi criado este ato simbólico? Você acredita
que a energia economizada no período de uma hora, tempo do ato, traz alguma
melhoria ao Planeta?
Fernando
Santiago dos Santos:
É uma iniciativa mundial da Rede WWF, conhecida como uma das maiores ONGs de ação ambiental, para enfrentar as mudanças
climáticas. A economia de energia elétrica em uma hora, no mundo, é
relativamente pequena comparada com a demanda energética atual. Como o ato é
simbólico, creio que o intuito não é, de fato, realizar a economia, mas
conscientizar as pessoas de que é possível economizar, no dia a dia (e não
somente em uma hora por ano), com pequenas ações. A crise energética é global e
nosso país está inserido nestas discussões. O que muitos não sabem – e está
aqui a razão deste ato simbólico – é que o consumo energético está atrelado à
emissão de gases de efeito estufa, principalmente em países em que a geração de
energia elétrica é resultado de queima de carvão.
Miriam Santiago: Como você avalia a participação das pessoas, empresas,
comunidade e governos neste ato? A participação é grande?
Fernando
Santiago dos Santos:
Bem, esta pergunta é um pouco difícil de ser respondida. Se você consultar o
sítio eletrônico da WWF (http://www.wwf.org.br/), verá que há um destaque para a “Hora do Planeta”, onde
são apontadas algumas estatísticas e informações sobre este ato. Não podemos
dizer que a adesão é maciça. Em países onde já há, tradicionalmente, uma
postura voltada ao que se define como sendo ‘ambientalmente correta’, podemos
afirmar que talvez a adesão individual, corporativa e de Estado à iniciativa da
WWF alcance proporções mais amplas quando comparada à adesão em países em que a
cultura de consciência ambiental ainda é muito pequena ou quase nula. O Brasil
demorou muito para acordar para as questões ambientais, e ainda estamos muito
aquém do que poderíamos chamar de uma ‘consciência ecológica’ nacional, mas a
cada ano noto mais e mais pessoas comentando o ato simbólico. Neste ponto,
creio que a Internet, as redes sociais e todas as outras ferramentas
tecnológicas afins são extremamente importantes na disseminação das informações
sobre “A hora do planeta”. A mídia televisiva deveria, em meu entender, dar
mais ênfase, já que ainda é o tipo de veículo de informação mais acessado em
países como o Brasil.
Miriam Santiago: A sigla é globalmente conhecida como Earth Hour, mas os Estados Unidos
são os maiores consumidores do planeta. Como você avalia essa questão?
Fernando
Santiago dos Santos:
A sigla em inglês é apenas uma convenção uma vez que é a língua “internacional”
aceita pela maior parte dos países. Não poderíamos colocar a sigla em mandarim,
em russo ou alemão, por exemplo, pois isto causaria grandes problemas ao ser
distribuída para o mundo. Quanto à questão de os EUA serem, talvez, o país mais
consumista do mundo, creio que devemos analisar a questão com certa clareza. O
consumo é verdadeiramente o que move a nação norteamericana,
mas se pensarmos nos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), só para
contextualizarmos a pergunta, vamos notar que o
consumo nesse bloco econômico é cada vez maior e mais agressivo. Não vejo um
paradoxo entre disseminarmos a sigla em inglês e associarmos isto aos EUA – até
porque outros países do mundo têm a língua inglesa como língua-mãe (Austrália,
Nova Zelândia, Reino Unido e Canadá, por exemplo).
Miriam Santiago: Em sua opinião, quais outros atos você acredita
serem mais eficazes para conscientizar a população sobre o aquecimento global?
Fernando
Santiago dos Santos:
Esta é a pergunta mais difícil da entrevista. Eu creio no mote do ‘pensar
globalmente e agir localmente’. Não há sentido em arrumar um país todo se cada município, cada rua e cada residência não der conta de
solucionar seus próprios problemas. Creio que a consciência global seja uma
coisa mais filosófica que prática. As ações têm de ser locais – somente pela
mudança pontual e geograficamente localizada é que se consegue atingir mudanças
mais amplas. Há diversos atos que esporadicamente são incentivados por ONGs ambientalistas em municípios brasileiros, como
corridas pelo meio ambiente, passeios de bicicleta e caminhadas ecológicas,
plantio de mudas de plantas nativas, entre outros. Estas coisas são importantes pois mobilizam a consciência local, essencial para se
avançar na tentativa de se delimitar uma ‘consciência global’.
Miriam Santiago:
Aproveitando a oportunidade, conte-nos um pouco sobre seu trabalho, suas
publicações na área, seus cursos, palestras.
Fernando Santiago dos Santos: Eu
trabalho com educação formal desde 1987 e com educação informal e não formal
(museus, unidades de conservação, exposições etc.) há pelo menos 15 anos. Já
ministrei minicursos, workshops, oficinas e palestras
em diversos espaços (universidades, empresas e escolas) versando sobre
educação, biologia, história da ciência e meio ambiente – áreas que refletem
minha formação eclética (graduação em Ciências Biológicas na Unicamp, mestrado
em História da Ciência na PUC-SP e doutorado em Educação na USP). Meu currículo
está disponível no link: http://lattes.cnpq.br/2271811478179514.
Algumas publicações podem ser conferidas em:
http://www.fernandosantiago.com.br/artigos.htm.
Miriam Santiago: Fernando, deixe seus contatos para que as pessoas possam acompanhar
seu esforço e dedicação em prol do meio ambiente.
Fernando Santiago dos Santos: Meus
e-mails pessoais são: fernandosrq@gmail.com e fernando.autor@yahoo.com.br.
Eu tenho uma homepage
particular (www.fernandosantiago.com.br)
e um blog onde posto
alguns pensamentos e materiais de outras pessoas (http://www.fernandosantiago.blogspot.com.br/).
Miriam Santiago: Fernando, agradeço por sua participação neste dia especial, voltado
à conscientização mundial do planeta. Desejo muito sucesso a você.
Fernando Santiago dos Santos: Foi um
prazer.