08/04/2003
ÁGUA DE LASTRO TRANSPORTA POR DIA 7 MIL ESPÉCIES MARINHAS AO REDOR DO GLOBO

Promovidos pelo Ministério do Meio Ambiente, começou nesta segunda (07), no Rio de Janeiro, dois workshops internacionais para discutir os problemas causados pela transferência de espécies marinhas exóticas na água usada como lastro nos navios mercantes.

Os encontros, que vão até o dia 17, também têm o apoio e a participação do Programa Global de Gestão de Água de Lastro (GloBallast), desenvolvido pela Organização Marítima Internacional (Imo), que visa a aprovação de uma convenção internacional de gestão de controle prevista para vigorar a partir de 2004. As atividades do GloBallast no Brasil são coordenadas pela Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos (SQA), do MMA, por meio do Projeto de Gestão Integrada dos Ambientes Costeiro e Marinho (PGT/Gercom)

O primeiro workshop se realiza na Escola Nacional de Botânica Tropical, no Jardim Botânico, de hoje até 6ª feira (11), sobre Diretrizes e Padrões de Amostragem de Água de Lastro. O segundo será em Arraial do Cabo (RJ), no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, dos dias 13 a 17, e discutirá Diretrizes e Padrões de Levantamento e Monitoramento de Espécies Aquáticas Invasoras.

Lastro é definido como qualquer volume sólido ou líquido colocado em um navio para garantir sua estabilidade e condições de flutuação. O termo "água de lastro" refere-se, então, à água coletada nas baías, estuários e oceanos, destinada a facilitar a tarefa de carga e descarga. Quando um navio está descarregado, seus tanques recebem água de lastro para manter sua estabilidade, balanço e integridade estrutural. Quando ele é carregado, a água é lançada ao mar. A introdução de espécies marinhas exóticas em diferentes ecossistemas, por meio da água do lastro dos navios e por incrustação no casco foi identificada como uma das quatro maiores ameaças aos oceanos do mundo. As outras três são: fontes terrestres de poluição marinha, exploração excessiva dos recursos biológicos do mar e alteração/destruição física do habitat marinho.

O transporte marítimo movimenta mais de 80% das mercadorias do mundo e transfere internacionalmente 3 a 5 bilhões de toneladas de água de lastro a cada ano. Um volume similar pode, também, ser transferido por ano domesticamente, dentro dos países e regiões. A água de lastro é absolutamente essencial para a segurança e eficiência das operações de navegação modernas, proporcionando equilíbrio e estabilidade aos navios sem carga.

Entretanto, isso pode causar sérias ameaças ecológicas, econômicas e à saúde, pois juntamente com o lastro podem ser transportadas algas tóxicas, espécies exóticas e patogênicos como o vibrião colérico. Existem milhares de espécies marinhas que podem ser carregadas junto com a água de lastro dos navios; basicamente qualquer organismo pequeno o suficiente para passar através das entradas de água de lastro e bombas. Isso inclui bactérias e outros micróbios, pequenos invertebrados e ovos, cistos e larvas de diversas espécies. Estima-se que, o movimento de água de lastro proporcione o transporte diário de pelo menos 7 mil espécies entre regiões do globo.

No Brasil têm-se pouca divulgação do problema associado ao lastro, sendo que, esporadicamente, aparecem notícias sobre o aparecimento de espécies exóticas que conseguiram se fixar em nossas águas. A invasão mais conhecida proporcionada pela água de lastro refere-se ao mexilhão dourado, Limnoperna fortunei, um molusco bivalve originário dos rios asiáticos, em especial na China. Esses moluscos são encontrados, geralmente, fixado a substratos duros, naturais ou artificiais, dos rios asiáticos. Esse organismo de água doce e salobra foi introduzido no Rio da Prata, Argentina, em 1991, avançando pelos rios Paraná e Paraguai, tendo se estabelecido no Pantanal.

A invasão silenciosa do mexilhão dourado já provoca impactos sócio-econômicos significativos para a economia e a parte da população, uma vez que entope os filtros protetores das companhias de abastecimento de água potável, exigindo manutenções mais freqüentes; impedem o funcionamento normal das turbinas da Usina de Itaipu, com custos de quase US$ 1 milhão a cada dia de paralisação desnecessária do sistema; forçam mudanças nas práticas de pesca de populações tradicionais; e prejudicam o sistema de refrigeração de pequenas embarcações, fundindo motores.

Nos Estados Unidos bilhões de dólares já foram gastos para controlar a invasão do mexilhão zebra, o que se traduz como um sinal de alerta para as autoridades brasileiras quanto às reais necessidades envolvidas nesses tipos de invasões. Maiores esclarecimentos sobre o tema poderão ser obtidos pelo telefone (61) 317.1156, pelo e-mail Robson-Jose.calixto@mma.gov.br ou, ainda, no site
http://www.mma.gov.br/aguadelastro.

(Agência Brasil)