Consumo sustentável, lixo e energia limpa

Consumir sem consumir o mundo em que vivemos
A humanidade caminha para um beco sem saída. Daqui a mais ou menos 100 anos, não haverá no planeta recursos para alimentar e aquecer os seres humanos. A continuar o atual ritmo de exploração do planeta, em um século não haverá fontes de água, reservas de ar puro, terras para agricultura em quantidade suficiente para a preservação da vida.
Mesmo na situação atual, em que metade da humanidade está abaixo da linha de pobreza, já se consome de 20% a 30% a mais do que a Terra consegue renovar. Se a população do mundo passasse a consumir como os americanos, seriam necessários mais quatro planetas iguais a este para garantir produtos e serviços básicos, como água, energia, alimentos para todo mundo.
É por isso que o Instituto Akatu defende e divulga a idéia do consumo consciente, que definimos como um processo de escolha que equilibra o consumo e a sustentabilidade do planeta. O consumidor consciente leva em conta o impacto de suas ações sobre a economia, a sociedade e o meio ambiente toda vez que usa água ou energia elétrica, joga fora o lixo ou vai às compras.
Ser um consumidor consciente envolve ação cotidiana, pois mesmo o consumo de poucas pessoas, ao longo de suas vidas, faz diferença, tendo um impacto muito importante sobre a sociedade e o meio ambiente. Pegue-se o exemplo de uma família de quatro pessoas desperdiçando 100 gramas de alimentos a cada refeição. Imaginando que elas vivam até os 70 anos, somente essa família terá jogado fora 31 toneladas de comida durante esse tempo. Essa quantidade seria suficiente para alimentar 17 crianças por dez anos.
Consumir com consciência é uma questão de cidadania, pois o consumo de um grande número de pessoas, mesmo por um período curto de tempo, igualmente faz enorme diferença. Digamos que um cidadão escove os dentes com a torneira aberta. Assim, em vez de gastar apenas 2 litros de água, vai usar 14 litros, enquanto 12 litros de água limpa e tratada entram literalmente pelo cano. Se 4 milhões de cidadãos que fazem a mesma coisa resolvessem escovar os dentes com a torneira fechada, a água economizada em um dia seria suficiente para abastecer, nesse dia, uma cidade como Goiânia, em Goiás, com 1 milhão de habitantes.
O consumidor consciente sabe que estamos todos no mesmo barco, e que seus atos cotidianos repercutem de alguma forma na sua cidade ou no seu país -uma questão de interdependência. Voltando ao exemplo da família em que cada pessoa joga fora 100 gramas de alimentos a cada refeição, se apenas vinte famílias tiverem o mesmo comportamento, serão desperdiçadas anualmente cerca de 9 toneladas de comida. É um número impressionante. Imaginemos, então, que todas as famílias de uma cidade como Rio de Janeiro ou São Paulo façam o mesmo. Com tanta comida indo para o lixo, seria preciso produzir mais alimentos para abastecer os mercados e feiras, provocando assim um aumento de preços que vai afetar a todos.
Mas este é apenas um aspecto desta história. O consumidor consciente é aquele que percebeu o enorme poder transformador que tem nas mãos. O simples ato de ir às compras é capaz de levar as pessoas a mudar o mundo. E isso não é excesso de otimismo.
Como isto é possível? Quando as pessoas escolhem comprar produtos ou serviços de empresas socialmente responsáveis, as que não têm como objetivo apenas tirar proveito da sociedade, mas que a respeitam e dão algo em troca. As que levam em consideração a sociedade e o meio ambiente.
Indústrias, por exemplo, que não poluem o ar ou a água. Ou produtores agrícolas que não exploram o trabalho infantil. Ou ainda lojas de móveis que não vendem peças fabricadas com madeira arrancada ilegalmente das florestas nativas. Ou as empresas que investem em suas comunidades, seus funcionários e suas famílias. Privilegiando essas empresas, o consumidor
deixa clara sua escolha por quem ajuda a construir uma sociedade mais justa.
A idéia, portanto, não é que as pessoas deixem de comprar o que julgam necessário para suas vidas, nem que façam enormes sacrifícios. Quando todo mundo faz a sua pequena parte diariamente, o resultado é um mundo melhor para todos. São pequenos gestos que produzem grandes transformações. É um por todos e todos por todos. O Instituto Akatu contribui para que a sociedade caminhe na direção de um modelo sustentável, para que toda a humanidade possa consumir sem consumir o mundo em que vive.
O relatório anual do WWI, Worldwatch Institute, Estado do Mundo 2004, foca o "estado do consumo e o consumo sustentável" e será brevemente lançado no Brasil com apresentação de Enrique Iglesias, presidente do BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento. Em parceria com o Akatu o WWI-UMA estará incluindo no livro informações sobre consumo no Brasil.
Brasil recicla menos de 5% de seu lixo urbano. O desperdício no Brasil é considerado um dos maiores do mundo. A diferença é que nas nações desenvolvidas a reciclagem dos materiais supera a brasileira. O paulistano gera por dia 1,2 quilo de lixo domiciliar, enquanto o americano, 2 quilos e o japonês, 2,8 quilos. Embora a população desses países consuma mais e gere mais lixo, há mais consciência em relação ao reaproveitamento. O Brasil recicla menos de 5% de seu lixo urbano. Esse percentual é de 40% nos EUA e na Europa, informa a UBQ (União Brasileira para a Qualidade). Apesar de o Brasil não estar na lista dos países mais preocupados com o desperdício, é campeão na reciclagem de papelão e de latas de alumínio. Do total dessas latas produzidas no Brasil, 85% são recicladas. No Japão, 82,5%. No caso do papelão, a diferença é maior ainda: a reciclagem é de 72% no Brasil e de 65% na Europa. Mas o Brasil recicla pouco outros materiais: 21% de plástico e 38% de vidro e de papel. Mas o Brasil só é líder na reciclagem nesses dois produtos por necessidade --e não por consciência. Mais de 300 mil catadores vivem do lixo para garantir renda mensal de até R$ 500. (= US$ 170). Os catadores também usam o lixo orgânico para sobreviver. Na Ceagesp, em São Paulo, uma tonelada de alimentos é desperdiçada diariamente. "Nosso desperdício só não é o dobro por causa da ação dos catadores", diz Ossir Gorenstein, engenheiro da Ceagesp. (Folha SP)

Projetos de energia limpa atraem investidores japoneses
Os projetos de energia renovável da América Latina estão despertando a atenção de empresas japonesas. O Japão é um dos países que, preocupado com o aquecimento global, já ratificou o protocolo de Kyoto e, além de estar implantando um plano de redução de gases de efeito nocivo à camada de ozônio, começa a analisar projetos cujos investimentos tenham como retorno dos créditos de carbono, beneficiando o país. No plano interno de redução dos gases de efeito estufa, o Japão já aderiu à mistura do álcool à gasolina. De olho no setor canavieiro, onde se concentra a maior parte dos pequenos e médios empreendimentos de energia renovável, empresas japonesas do setor elétrico convidaram o representante brasileiro da Econergy, especializada em soluções financeiras inovadoras voltadas a empreendedores de tecnologias limpas, Marcelo Schunn Diniz Junqueira, para iniciar as negociações dos investimentos no Brasil. "O Brasil pode receber investimentos de aproximadamente US$ 20 milhões apenas com o potencial das pequenas e médias empresas de energia renovável, explica Marcelo. "Existe um grande interesse destas instituições em atuar tanto na redução da emissão de gases de efeito estufa através da mistura de álcool na gasolina como em adquirir créditos de carbono gerados em projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em países como o Brasil. Muito embora a mistura do álcool na gasolina seja uma medida ainda dependente de soluções político-econômicas, a compra dos créditos de carbono já começou", diz.

Créditos de Carbono
O cálculo de engenharia para disponibilizar créditos de carbono no mercado varia de acordo com a tecnologia empregada pelo projeto e o cenário de referência a que cada um deles é comparado. De qualquer forma, a não-emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera é convertida em toneladas equivalentes de gás carbônico (tCO2e). Para projetos implementados no Brasil, essa tonelada é chamada de Redução Certificada de Emissão (RCE).
De acordo com Marcelo Junqueira, a comercialização de Créditos de Carbono deve representar um movimento de cerca de U$ 1 milhão por ano para os países em desenvolvimento, principalmente Brasil, China e Índia.O Brasil, de modo geral, deve ser um grande beneficiário desse novo mercado, onde as usinas sucroalcooleiras do Estado de São Paulo têm condições de disputar uma grande fatia.
Sua área agricultável é enorme e a sua produção de energia limpa tende ser cada vez maior.Além da biomassa para a produção de eletricidade, também podem obter créditos de carbono para comercialização os investimentos em pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), projetos de eficiência energética, aterros sanitários, energia solar, energia eólica ou qualquer projeto que diminua o consumo de combustíveis fósseis ou evite a emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera.(Ateliê da Notícia).

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