Dia Nacional da Conservação do Solo

"A conservação do solo consiste em dar o uso e o manejo adequado às suas características químicas, físicas e biológicas"

A Lei n° 7.876, de 13 de novembro de 1989, institui o Dia Nacional da Conservação do Solo a ser comemorado, em todo o País, no dia 15 de abril de cada ano. Este dia devemos aproveitar para refletir sobre a conservação dos solos e sobre a necessidade de utilizarmos corretamente este recurso natural
e, assim, viabilizarmos a manutenção e mesmo melhoria de sua capacidade produtiva, única forma de aumentarmos de forma sustentável a produção de alimentos, sem degradação ambiental.

Contaminação dos Solos
Conforme estabelece o Decreto n.º 28.687/82, art. 72, poluição do solo e do subsolo consiste na deposição, disposição, descarga, infiltração, acumulação, injeção ou enterramento no solo ou no subsolo de substâncias ou produtos poluentes, em estado sólido, líquido ou gasoso. O solo é um recurso natural básico, constituindo um componente fundamental dos ecossistemas e dos ciclos naturais, um reservatório de água, um suporte essencial do sistema agrícola e um espaço para as atividades humanas e para os resíduos produzidos. A degradação do solo pode ocorrer por meio da desertificação, uso de tecnologias inadequadas, falta de conservação, destruição da vegetação nele encontrado pelo desmatamento ou pelas queimadas.

A contaminação dos solos dá-se principalmente por resíduos sólidos, líquidos e gasosos, águas contaminadas, efluentes sólidos e líquidos, efluentes provenientes de atividades agrícolas, etc. Assim, pode-se concluir que a contaminação do solo ocorrerá sempre que houver adição de compostos ao solo, modificando suas características naturais e as suas utilizações, produzindo efeitos negativos.
Para que o solo mantenha as múltiplas capacidades de suporte dos sistemas naturais e agrícolas, é fundamental que as suas características estruturais permaneçam em equilíbrio com os diversos sistemas ecológicos. Este condicionamento é tanto mais determinante quanto o tipo de solo é frágil e
pouco estável.
A preocupação com os processos de degradação do solo vem sendo crescente, à medida que se verifica que, para além da clássica desertificação por secura, outros processos conducentes aos mesmos resultados se têm instalado, devidos a:
a.. Utilização de tecnologias inadequadas em culturas de sequeiro.
b.. Falta de práticas de conservação de água no solo.
c.. Destruição da cobertura vegetal.
Um dos principais fenômenos de degradação dos solos é a contaminação, nomeadamente por:
a.. Resíduos sólidos, líquidos e gasosos provenientes de aglomerados urbanos e áreas industriais, na medida em que a maioria são ainda depositados no solo sem qualquer controle, levando a que os lixiviados produzidos e não recolhidos para posterior tratamento, contaminem facilmente solos e águas, e por outro lado, o metano produzido pela degradação anaeróbia da fração orgânica dos resíduos, pode acumular-se em bolsas, no solo, criando riscos de explosão.
a.. Águas contaminadas, efluentes sólidos e líquidos lançados diretamente sobre os solos e/ou deposição de partículas sólidas, cujas descargas, continuam a ser maioritariamente não controladas, provenientes da indústria, de onde se pode destacar a indústria química, destilarias e lagares, indústria de celulose, indústria de curtumes, indústria cimenteira, centrais termoelétricas e atividades mineira e siderúrgica, assim como aquelas cujas atividades industriais constituem maiores riscos de poluição para o solo.
a.. Efluentes provenientes de atividades agrícolas, de onde se destacam aquelas que apresentam um elevado risco de poluição, como sendo, as agropecuárias intensivas (suinoculturas), com taxa bastante baixa de tratamento de efluentes, cujo efeito no solo depende do tipo deste, da concentração dos efluentes e do modo de dispersão, os sistemas agrícolas intensivos que têm grandes contributos de pesticidas e adubos, podendo provocar a acidez dos solos, que por sua vez facilita a mobilidade dos
metais pesados, e os sistemas de rega, por incorreta implantação e uso, podem originar a salinização do solo e/ou a toxicidade das plantas com excesso de nutrientes.
a.. Uso desmedido das lamas de depuração e de águas residuais na agricultura, por serem materiais com elevado teor de matéria orgânica e conterem elementos biocidas que deverão ser controlados para reduzir os riscos de acumulação.
a.. O processo de contaminação, pode então definir-se como a adição no solo de compostos, que qualitativa e/ou quantitativamente podem modificar as suas características naturais e utilizações, produzindo então efeitos negativos, constituindo poluição. Estando a contaminação do solo diretamente
relacionado com os efluentes líquidos e sólidos neste lançados e com a deposição de partículas sólidas (lixeiras), independentemente da sua origem, salienta-se a imediata necessidade de controle destes poluentes, preservando e conservando a integridade natural dos meios receptores, como sendo os
recursos hídricos, solos e atmosfera.
A destruição do manto florestal, os incêndios ambientais ou provocados, o sobrepastoreio e as inúmeras obras de urbanização, acelerando os processos erosivos, têm destruído, ao longo dos anos, enormes áreas de solos cultivados. Milhões de toneladas de solos perdem-se todos os anos devido à
erosão. Com a introdução da agricultura, o homem modificou o equilíbrio ecológico em numerosas zonas. Muitos animais que no seu ambiente natural são eliminados devido à presença de predadores e parasitas, noutro meio são capazes de aumentar numericamente de forma considerável. Neste processo se deve procurar a origem da maioria das pragas conhecidas.
Para encontrar um novo equilíbrio ecológico e lutar contra os animais e plantas prejudiciais, começaram a utilizar-se, já há vários anos, certos produtos químicos cujo número e eficácia não parou de aumentar. Entre esses produtos destacam-se os pesticidas (fungicidas e inseticidas), agrotóxicos e
herbicidas. Mas, o lançamento de quantidades maciças de pesticidas e herbicidas, além de matar os "indesejáveis", destrói muitos seres vivos que interferem na construção do solo, impedindo deste modo a sua regeneração.
Os produtos tóxicos, acumulando-se nos solos, podem permanecer ativos durante longos anos. As plantas cultivadas nestes terrenos infectados podem absorvê-los ainda mesmo quando estes não foram utilizados para o seu próprio tratamento. Assim se explica a existência de pesticidas nos nossos alimentos principais, como o leite e a carne, acabando a sua acumulação por se dar fundamentalmente no homem, que se encontra no fim das cadeias alimentares.
Saiba mais sobre os principais poluentes do solo:

Fonte Poluidora Produto Químico Efeitos
Inseticidas DDT BHC Câncer, danos no fígado, embriões e ovos de aves

Câncer, danos a embriões

Solventes, produtos

farmacêuticos e

detergentes Benzina Dor de cabeça, náusea, perda de coordenação dos

músculos, leucemia

Plásticos Cloro Vinil Câncer do fígado e do pulmão, atinge o

sistema nervoso central


Herbicidas, incineração

do lixo Dioxina Câncer, defeitos congênitos, doenças de pele

Componentes eletrônicos,

fluídos hidráulicos, luzes
fluorescentes PCBs Danos pele e ao sistema gastrointestinal; possíveis

carcinógenos


Tintas, gasolina Chumbo Dor de cabeça, irritabilidade, perturbações mentais

em crianças; danos ao fígado, aos rins e ao sistema

neurológico

Processamento de zinco,

fertilizantes, baterias Câdmio Câncer em animais; danos ao fígado e aos rins

Fonte: Manual Global de Ecologia

A acumulação dos resíduos sólidos constitui hoje também um problema angustiante das sociedades de consumo a que pertencemos. Nos refugos sólidos há a considerar os lixos domésticos. O lixo doméstico contém papel, papelão, plásticos, vidros, restos de comida, etc. A acumulação destes lixos pode ser um foco de contaminação ou um excelente meio para o desenvolvimento de insetos e roedores. Além disso, destroem a paisagem, podendo ainda contribuir para a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, através da água da chuva, principalmente quando os terrenos são permeáveis.

Conservação do Solo
Introdução
A conservação do solo consiste em dar o uso e o manejo adequado às suas características químicas, físicas e biológicas, visando a manutenção do equilíbrio ou recuperação. Através das práticas de conservação, é possível manter a fertilidade do solo e evitar problemas comuns, como a erosão e a
compactação.
Para minimizar os efeitos causados pelas chuvas e também pelo mau aproveitamento do solo pelo homem, são utilizadas algumas técnicas de manejo e conservação dos solos:

1.Manutenção da Cobertura do Solo
1.1 Adubação verde: prática pela qual se cultivam determinadas plantas, com a finalidade de incorporá-las ao solo, proporcionado melhorias nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e também promovendo o enriquecimento de elementos minerais. As plantas utilizadas neste tipo de
adubação impedem o impacto direto das gotas de chuva sobre o solo, evitam o deslocamento ou a lixiviação de nutrientes do solo e também inibem o desenvolvimento de ervas daninhas. A eficiência da adubação verde é comprovada também no controle de nematóides, quando se utilizam leguminosas específicas, problema para o qual os produtos químicos, além de caros, não apresentam resultados
satisfatórios. No sul do Brasil, são muito utilizadas plantas leguminosas como Mucuna spp, Crotalaria spp, Cajanus cajan, entre outras, visando principalmente à fixação simbiótica do nitrogênio. Também são utilizadas gramíneas como a aveia (Avena spp) e o azevém (Lollium multiflorum) e espécies descompactadoras do solo, como é o caso do nabo fora benéfica em termos de preservação e recuperação de ambientes.

1.Reflorestamento: vários são os efeitos benéficos desta prática: filtragem de sedimentos; proteção das barrancas e beiras de rio; grande profundidade e volume de raízes favorecendo a macroporosidade do solo; diminuição do escoamento superficial da água no solo; criação de refúgios para fauna e, ainda, fonte de energia (lenha). O reflorestamento também pode ser feito em faixas intercalando-se com culturas anuais (tipo consórcio), favorecendo o incremento de matéria orgânica ao solo.

2. Controle do Escorrimento Superficial da Água
2.1 Terraços: os terraços são sulcos ou valas construídas transversalmente à direção do maior declive, sendo construídos basicamente para controlar a erosão e aumentar a umidade do solo. Os objetivos dos terraços são:

a.. Diminuir a velocidade e volume da enxurrada.
b.. Diminuir as perdas de solo, sementes e adubos.
c.. Aumentar o conteúdo de umidade no solo, uma vez que há maior
infiltração de água.
d.. Reduzir o pico de descarga dos cursos d'água.
e.. Amenizar a topografia e melhorar as condições de mecanização das áreas
agrícolas.

Por ser uma prática que necessita de investimentos, o terraceamento deve ser usado apenas quando não é possível controlar a erosão, em níveis satisfatórios, com a adoção de outras práticas mais simples de conservação do solo. No entanto, o terraceamento é útil em locais onde é comum a ocorrência de chuvas cuja intensidade e volume superam a capacidade de armazenamento de água do solo e onde outras práticas conservacionistas são insuficientes para controlar a enxurrada. Segundo RUFINO (1989), os terraços são indicados para terrenos com declividade entre 4 e 50%. Em declividade inferior a 4%, devem ser substituídos por faixas de retenção, plantio em nível, rotação de culturas, culturas em faixas, quando os lançantes forem curtos. Em lançantes longos, as áreas devem ser terraceadas a partir de 0,5% de declive.

2.2 Classificação dos Terraços
São diversos os critérios usados para a classificação dos terraços. Dentre os comumente usados estão:
a) Quanto à funcionalidade (com relação ao destino das águas interceptadas):
Terraços de Absorção
São terraços construídos em nível com o objetivo de reter e acumular a enxurrada no canal para posterior infiltração da água e acúmulo de sedimentos; são recomendados para regiões de baixa precipitação pluviométrica; solos permeáveis; em terrenos com declividade menor que 8%; normalmente são terraços de base larga.
Terraços de Drenagem
São terraços construídos em desnível, cujo objetivo é interceptar a enxurrada e conduzir o excesso de água que não foi infiltrada até locais devidamente protegidos (escoadouros). São recomendados para regiões de alta precipitação pluviométrica; solos com permeabilidade moderada ou lenta; recomendados para áreas com mais de 8% e até 20% de declividade; normalmente são terraços de base estreita média.
b) Quanto ao processo de construção:
Tipo canal ou terraço de NICHOLS
São terraços que apresentam canais de forma (secção) mais ou menos triangular, construídos cortando e jogando a terra para baixo; são recomendados para declives de até 20%; geralmente são construídos com implementos reversíveis de tração animal ou manuais; utilizados em regiões com altas precipitações pluviométricas e com solos de permeabilidade média a baixa.

Tipo camalhão ou terraço de MAGNUM
São terraços construídos cortando e jogando a leiva para ambos os lados da linha demarcatória, formando ondulações sobre o terreno; recomendados para áreas com até 10% de declive; construídos com implementos fixos e reversíveis; recomendados para regiões de baixa precipitação pluviométrica e solos permeáveis. A disponibilidade de maquinaria agrícola e a declividade do terreno são os fatores que determinam a opção do processo de construção de um terraço.
c) Quanto ao tamanho da base ou largura do movimento de terra:
Terraço de base estreita
Quando o movimento de terra é de até 3 metros de largura; incluem-se neste grupo os cordões de contorno.
Terraço de base média
Quando a largura do movimento de terra varia de 3 a 6m.
Terraço de base larga
Quando a largura do movimento de terra é maior que 6m (geralmente até 12m). A declividade do terreno, a intensidade de mecanização (culturas x sistemas de cultivo), as máquinas e implementos disponíveis, assim como a condição financeira do agricultor são os fatores que condicionam a escolha
do tipo de terraço quanto à movimentação de terra.
d) Quanto à forma
Neste caso, a declividade do terreno é o determinante na definição do tipo de terraço a ser construído.
Terraço comum
É uma construção de terra, em nível ou desnível, composta de um canal e um camalhão ou dique. Este tipo de terraço é usado normalmente em áreas com declividade inferior a 20%. Incluem-se nesta classificação os terraços de base estreita, média, larga e algumas variações, tais como terraço embutido, murundum ou leirão, etc.
Terraço patamar
Estes são os verdadeiros terraços, sendo que deles se originaram os outros tipos. São utilizados em terrenos com declives superiores a 20% e construídos transversalmente à linha de maior declive.

Caracterização dos tipos de terraços
a) Terraço de base estreita
É um terraço de dimensões reduzidas, ainda muito utilizado devido ao baixo custo, rapidez de construção e pelo uso de implementos agrícolas leves ou até rudimentares. No entanto, proporciona uma perda de até 8% de área cultivada; pode tornar-se foco de ervas daninhas, pragas e doenças quando
não tiver constante manutenção; apresenta maior probabilidade de ruptura que outros tipos e, normalmente, é restrito às áreas pequenas e muito inclinadas. É indicado para utilização em áreas com declive de até 20%. Para declives superiores a 15%, recomenda-se a proteção com vegetação densa (gramíneas rasteiras, cana-de-açúcar, capim elefante). Pode ser construído pelo processo de NICHOLS como também pelo de MAGNUM. A construção pode ser realizada com implementos de tração mecanizada (arados e plainas), tração animal (plainas e dragas em V) ou muitas vezes até com o emprego de pá ou enxadão.
Manutenção do terraço de base estreita
Deve ter um intenso acompanhamento, devendo-se fazer uma constante manutenção, principalmente após as chuvas. Há necessidade de percorrer toda a área para desobstrução dos locais onde há acúmulo de terra e recomposição das partes danificadas do camalhão.
b) Terraço de base média
É um terraço de dimensões maiores que o de base estreita, mas que ainda pode ser construído por maquinaria de pequeno porte (arado e draga em V). Em função de sua conformação, permite o cultivo total na pequena propriedade, desde que utilizados implementos de tração animal ou manuais. No caso de mecanização, permite o cultivo parcial em um dos lados do camalhão, reduzindo deste modo o foco de inços, pragas e doenças. Mesmo com o cultivo parcial, o terraço de base média ainda promove a perda de 2,5 a 3,5% de área cultivável. É indicado para declives entre 8 e 15% e pode ser construído pelo processo de NICHOLS, como também pelo de MAGNUM. O processo de construção mais utilizado é o de camalhão (MAGNUM).
Manutenção de terraço de base média
A manutenção é realizada pelo uso ordenado de lavrações, com o objetivo de abrir o canal e aumentar a altura do camalhão.
c) Terraço de base larga
O terraço de base larga é uma estrutura especial de conservação do solo que envolve um movimento de terra significativo para formação do canal e camalhão. Sua grande vantagem é proporcionar o cultivo total da área, eliminando os possíveis focos de inços, doenças e pragas. Outra vantagem marcante é sua segurança em relação a possíveis rompimentos provocados pelo acúmulo de enxurrada. A limitação de seu uso se dá por dois motivos principais: é utilizável somente em áreas de relevo ondulado, com desníveis não superiores a 12%; e é uma obra de construção mais demorada e custo mais alto que os demais terraços.
Os terraços de base larga são essencialmente terraços de camalhão, construídos com arados, motoniveladoras ou tratores com lâminas, cujas dimensões são apresentadas a seguir:
Manutenção do Terraço de Base Larga
Recomenda-se que todas as operações agrícolas que envolvam o uso de maquinaria, tais como lavração, subsolagem, gradagem, semeadura, colheita e principalmente a manutenção dos terraços, sejam iniciadas pelos terraços, de modo a preservar sua estrutura e disciplinar o trabalho. Para a manutenção dos terraços, pode-se optar por duas sistemáticas básicas no preparo do solo: iniciar a lavração em posições iniciais e finais sempre diferentes, em cada período de preparo do solo, de modo a permitir o
deslocamento ou soterramento dos sulcos de lavração, mas que também pode alterar a forma dos terraços; e alterar o uso de diferentes sistemas de lavração, com formas distintas de arremates, com o objetivo de mudar a posição dos sulcos de lavra.
d) Terraço patamar
Também conhecido pelo nome de terraço tipo banqueta, constitui-se em um dos mais antigos métodos mecânicos de controle à erosão usados em países densamente povoados, onde os fatores econômicos exigiram o cultivo de áreas demasiadamente íngremes. Na verdade, o patamar não só controla a erosão, mas também facilita as operações. É indicado para áreas com declives entre 20 e 55% e compreende um degrau ou plataforma para a implantação das culturas e um talude revestido de grama. Os patamares são construídos cortando a linha de maior declive, ficando sua superfície interna inclinada em direção à base ou pé. A largura do patamar pode variar de 1 a 3m, dependendo principalmente do declive, da profundidade do solo e da maquinaria (RIO GRANDE DO SUL/Secr. da Agric., 1985). A inclinação do talude varia de 1:4 a 1:2, podendo ser modificada conforme o tipo de solo e da vegetação de revestimento. Para promover o escoamento da água ao longo do patamar, sugere-se uma declividade de 0,25 a 1% para o canal. A construção do patamar é relativamente onerosa, sendo seu uso vantajoso em áreas valorizadas, ou então em locais onde a mão-de-obra é abundante ou de baixo custo. Sua utilização é econômica somente quando as terras são exploradas com culturas perenes, como frutíferas e café. O patamar pode apresentar algumas variações de seu modelo tradicional, em função do tipo de solo, das culturas e sistemas de produção de uma determinada região. São duas as variações principais do patamar:
e) Terraço de irrigação
Difere do patamar por apresentar o degrau ou plataforma de nível limitado por um pequeno cordão de terra, onde é cultivada a cultura com irrigação por inundação.
f) Terraço embutido
O terraço embutido caracteriza-se por ser construído de modo que o canal tenha a forma triangular, ficando o talude que separa o canal do camalhão praticamente na vertical. Este tipo de terraço tem boa aceitação entre os agricultores de São Paulo, tendo em vista a sua estabilidade e a pequena área inutilizada no plantio. Normalmente é construído com motoniveladora ou trator com lâmina.
g) Terraço murundum ou leirão
São terraços que se caracterizam pela movimentação de um grande volume de terra. Em função disso, é construído somente por máquinas pesadas e tem um custo elevado em relação a outros tipos de terraços. O murundum é constituído por um camalhão alto, em média com 2 metros de altura, e um
canal em forma triangular. Em função da raspagem do solo para formar o camalhão, é necessário fazer a recuperação da área raspada para que não haja redução da produtividade das culturas. Por ocasião de períodos chuvosos mais ou menos longos, em áreas mal manejadas ou com solos de drenagem lenta, o murundum pode provocar problemas de encharcamento em áreas consideráveis, uma vez que é locado totalmente em nível. O murundum pode ser considerado uma medida de impacto para o controle da erosão que traz consigo a necessidade de adoção de outras práticas de manejo e conservação do solo que, devidamente utilizadas, podem promover, em um curto espaço de tempo, a transformação dos mesmos murunduns em terraços de base larga.
h) Terraço meia-cara invertido
Tendo como nome técnico terraço com talude posterior do dique íngreme, é um terraço que se caracteriza pelo cultivo de culturas no canal e talude anterior do camalhão, permanecendo íngreme o talude posterior. Sugere-se que este talude seja gramado para proporcionar maior estabilidade à estrutura. Este tipo de terraço proporciona um mínimo de perda de área agricultável e pode ser utilizado em áreas de declive médio (10 - 15%).
i) Cordões vegetados
São utilizados em áreas com acentuada inclinação, profundidade rasa e impossibilidade de usar motomecanização pela existência de pedras na superfície do solo. Estes cordões consistem em um pequeno terraço de base estreita, demarcado em nível ou desnível, com capim plantado sobre o camalhão, o que permite diminuir em até 80% as perdas de terra e adubo. Dentre algumas plantas utilizadas neste cordão estão a cana de açúcar e o capim elefante.
j) Patamar de pedra e patamar vegetado
O patamar de pedra ou vegetado é uma prática conservacionista que, à semelhança do terraço, baseia-se no princípio do seccionamento do comprimento da rampa com a finalidade de atenuar a velocidade e o volume do escoamento superficial. Esta prática é recomendada para áreas com declives de 26 a 35% com espaçamento entre patamares de acordo com recomendações da Tabela. Entre as principais vantagens desta prática, destacam-se: controle da erosão, facilidade para as operações de remoção de pedras, aumento da eficiência das atividades de preparo, semeadura e capina, possibilidade de
adoção da tecnologia preconizada para a cultura (insumos, espaçamento, "stand").

3. Conceitos de Algumas Práticas Conservacionistas
Adubação mineral: É o uso de fertilizantes incorporados ao solo, com a finalidade de proporcionar melhor nutrição às culturas.
Adubação verde: É o uso de plantas (normalmente leguminosas) para serem incorporadas ao solo, com a finalidade de melhorá-lo.
Alternância de capina: É a prática usada em fruticultura, em que linhas de plantas niveladas são capinadas alternadamente, criando obstáculos ao escoamento superficial.
Calagem: É o uso de material calcário com a finalidade de minimizar os efeitos da acidez dos solos.
Ceifa do mato: Prática usada em fruticultura em que capinas são substituídas por ceifa, permanecendo o sistema radicular que aumenta a resistência à desagregação do solo.
Cobertura morta: É o uso de resíduos vegetais ou outros na cobertura do solo, com o objetivo de evitar o impacto das gotas da chuva.
Cobertura vegetal: É o uso de plantas vivas na cobertura do solo, com o objetivo de evitar o impacto das gotas da chuva.
Controle de pastoreio: Consiste em retirar o gado de uma pastagem quando as plantas ainda recobrem toda área.
Corte em talhadia: É o corte de madeira com regeneração, por brotação das cepas das árvores.
Cultivo mínimo: É o uso minimizado de máquinas agrícolas sobre o solo, com a finalidade de menor revolvimento e compactação.
Enleiramento em nível: Prática utilizada no desbravamento (mato, capoeira) de uma gleba, dispondo os resíduos em linha de nível.
Escarificação: É o uso do escarificador no preparo reduzido do solo, quebrando a camada densa superior e formando rugosidade superficial.
Manejo sustentado: É toda exploração florestal que objetiva a manutenção do estoque e as retiradas periódicas do incremento.
Plantio de conversão: É o plantio de espécies nativas nobres, sob cobertura em capoeira adulta ou mata secundária, com a técnica da eliminação gradual da vegetação matricial.
Plantio direto: É a implantação de uma cultura diretamente sobre a resteva de outra, com a finalidade de manter o solo coberto, evitando o impacto da gota da chuva.
Plantio em faixa de retenção: É a prática que utiliza uma faixa de cultura permanente de largura específica e nivelada, entre faixas de rotação.
Plantio em faixas de rotação: É a prática utilizada numa gleba onde culturas temporárias são dispostas em faixas niveladas e alternadas.
Plantio de enriquecimento: É o plantio com espécies desejáveis, nas florestas naturais, acompanhado da remoção de trepadeiras, arbustos e árvores indesejáveis.
Plantio em nível: É a prática que executa todas as operações de uma cultura em linhas exatamente niveladas.
Ressemeio: Prática usada em pastagem para repovoar as áreas
escobertas, protegendo o solo da erosão por impacto.
Rompimento de compactação subsuperficial: É a quebra de camada profunda adensada (pé de arado ou de grade), com a finalidade de aumentar a permeabilidade do solo.
Sulcos em nível: É o uso de pequenos canais nivelados, que tem a finalidade de diminuir o escoamento superficial, aumentando a infiltração.
Uso de bariqueta individual: É a prática usada em fruticultura, protegendo a área de solo de cada árvore com um pequeno patamar.
Uso de cordão (pedra ou vegetal): É o uso de linhas niveladas de obstáculos, com a finalidade de diminuir a velocidade do escorrimento superficial.
Uso do esterco: É o uso de dejetos animais, incorporados ao solo, com a finalidade de melhorá-lo.
Uso do patamar (pedra ou vegetal): É a prática que objetiva formar patamares, com a finalidade de reduzir a declividade e o escoamento superficial.

4. Exemplos Práticos
Aspectos da utilização do sistema de cultivo mínimo na implantação de florestas de eucalipto Vera Cruz Florestal (LOUZADA, Paulo T. C.; COSTA, Liovando M., 1995)
A Vera Cruz Florestal, localizada no extremo sul da Bahia, utilizou como experimento o cultivo mínimo em florestas de eucalipto, visando à conservação do solo através de seu revolvimento mínimo e de sua compactação, objetivando o aumento da infiltração de água e melhoria do desenvolvimento
do sistema radicular das plantas. Inclui todas as etapas operacionais, iniciando-se com a classificação das áreas para utilização do cultivo mínimo. A limpeza das áreas é localizada nos pontos críticos e o preparo do solo é exclusivamente nas linhas de plantio. O controle do mato foi feito com herbicidas em pré-plantio e nas manutenções. Os efeitos mais marcantes do cultivo mínimo notados foram a infiltração da água e a redução dos custos.

Leucena leucocephala como adubo verde para a cultura de feijão em cerrado (CHAGAS, José Mauro; Kluthcouski, João; AQUINO, Antonio R. L.).
Foram conduzidos dois ensaios, visando avaliar a Leucena leucocephala (Lam.) de Wit. como adubo verde, em um latossolo vermelho-escuro, sob vegetação de cerrado, no município de Goiânia, Goiás. No primeiro ensaio, o adubo verde foi semeado nos espaçamentos de 2, 3, 4 e 5 metros entre fileiras. A análise de crescimento mostrou um aumento na produção de matéria seca/ha e no conteúdo de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio, por amostra, à medida que decrescia o espaçamento. No segundo ensaio, plantou-se o feijão entre fileiras de leucena, após o desbaste dos ramos laterais, deixando-se somente a haste principal, cortada a 1,5m de altura. Os tratamentos consistiam na incorporação, ou não, de leucena, combinada ao nitrogênio (30 kg/ha de N) ou fósforo (120 kg/ha de P2O5) ou nitrogênio + fósforo. Somente a incorporação da leucena no solo resultou uma produção de grãos de feijão equivalente à dos tratamentos que receberam adubação química.

Efeito da adubação verde sobre o rendimento de grãos das culturas de trigo e soja (Fabrício, A. C.; Barbo, C. V. S.; Nakayama, L. H. I., 1995)
Foi conduzido na unidade de execução de pesquisa de âmbito estadual de Dourados (upae dourados), num latossolo roxo distrófico, fase campo, experimento visando testar algumas leguminosas como adubação verde. A área experimental foi corrigida com 4 toneladas de calcário dolomítico e 500kg/ha
da fórmula 5-30-10. Os tratamentos utilizados foram: milho + mucuna preta, soja + trigo, mucuna preta, guandu, crotolária e lab-lab. Após a incorporação das leguminosas, foram semeadas as culturas de trigo e soja, nas suas respectivas épocas; nos sistemas de cultivo convencional e plantio direto, os rendimentos dos grãos obtidos em três anos, com estas culturas, foram maiores nas parcelas que receberam adubação verde, embora não tenha havido diferenças estatísticas. Entretanto, observou-se um aumento no número de actinomicetos e bactérias no solo com a incorporação de massa seca das
leguminosas introduzidas.