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MATA ATLÂNTICA

Se plantas de uma mesma espécie variam entre si apenas em função da altitude, é possível imaginar o que a diferença de pluviosidade, temperatura, fertilidade dos solos, relevo, iluminação e umidade, entre muitas outras, gera em termos de diversidade de flora, fauna e microorganismos.
A Mata Atlântica está presente tanto na região litorânea como nos planaltos e serras do interior, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Ao longo de todo sua extensão, apresenta uma variedade de formações que incluem florestas, restingas, mangues, florestas de altitude, praias, dunas, entre outros.
Assim, a Mata Atlântica está entre as florestas mais ricas do mundo em biodiversidade e também em endemismo, caso em que espécies ocorrem em apenas um ambiente. Na realidade suas espécies evoluíram de forma tão única que quatro entre dez de suas espécies de plantas existem apenas neste bioma.
Além disso, está também entre as florestas mais ameaçados do mundo, já tendo perdido 93% de sua cobertura original. Não é de se surpreender que a Conservation International, ao definir os 25 principais "hotspots" - ambientes mais ricos e mais ameaçados do planeta -, tenha colocado a Mata Atlântica entre os 5 principais Além disso, está também entre as florestas mais ameaçados do mundo, já tendo perdido 93% de sua cobertura original. Não é de se surpreender que a Conservation International, ao definir os 25 principais "hotspots" - ambientes mais ricos e mais ameaçados do planeta -, tenha colocado a Mata Atlântica entre os 5 principais.

SERVIÇOS DAS FLORESTAS

Quando ligamos a torneira, dificilmente associamos que a nossa água provem de bacias hidrográficas protegidas e recarregadas pelas florestas ao seu redor. Quando estudamos a História do Brasil, a expansão dos ciclos econômicos do café e do açúcar, não somos ensinados que a qualidade dos solos que proporcionaram a expansão de nossa economia fora preservada e melhorada por nossas florestas, que rapidamente removemos e substituímos por plantações e pastos, muitos dos quais estão hoje abandonados. Embora pouco conhecido, somos diariamente beneficiados pelos serviços que a floresta nos proporciona. Seguem alguns exemplos:

Proteção dos solos
Para proteção dos solos contra erosão provocada pelas chuvas e ventos, nenhum outro tipo de cobertura vegetal é tão eficiente quanto as florestas. Além disso, elas contribuem enormemente com o processo de fertilização, trazendo nutrientes do subsolo para a superfície, e na formação do húmus, resultado da queda de folhas e galhos que apodrecem com a ajuda da micro-fauna do solo: seres vivos, na maioria das vezes invisíveis para nós, que transformam todo o material orgânico em alimento para a floresta.

Recursos Florestais
Os recursos da Mata Atlântica têm a capacidade de influir na economia das comunidades que exploram esta fonte de renda e, dependendo da maneira como são aproveitados, até na economia nacional. A produção de erva-mate, uma espécie nativa da Mata Atlântica, movimenta cerca de 180 mil pequenas propriedades em mais de 500 municípios. Apesar da sazonalidade de sua colheita, emprega quase 700 mil pessoas entre a zona rural e o beneficiamento do produto. Para fazer uma comparação sobre o significado destes números, a indústria automobilística gera 100 mil empregos nas fábricas e mais 600 mil entre revendas e autopeças, o que totaliza os mesmos 700 mil

Fornecimento de água
Outro importante papel das florestas é a conservação e manutenção das nascentes e rios, fazendo com que as águas das chuvas cheguem lentamente ao solo e daí para lençóis freáticos, que abastecerão nascentes, e para rios, sem levar nenhum tipo de material que cause sua contanimação.

Clima
Por influenciar na umidade, precipitação, escoamento superficial e temperatura, entre outros fatores, os ecossistemas florestais agem como importantes reguladores do clima, influen- ciando em fatores como a movimentação dos ventos e a formação de nuvens. Alem disso, as florestas mundiais seqüestram e liberam na atmosfera grandes quantias de gases, exercendo importante papel no equilíbrio do clima mundial.

Biodiversidade
As florestas tropicais são as mais diversas e mais complexas formações vegetais do planeta, abrigando aproximadamente 50% das espécies da terra numa área que corresponde a apenas 7% de sua superfície (daí a importância de priorizadas estas áreas nos esforços de preservação da biodiversidade). Na realidade, estamos apenas começado a compreender o verdadeiro potencial econômico contido na biodiversidade de nossas florestas - utilizando-o na indústria química, farmacêutica, cosmética, entre outras - e seu papel na manutenção da vida na terra.

Há ainda os benefícios imensuráveis trazidos pelas florestas e pelos seres da floresta à nossa qualidade de vida, como o canto de um pássaro de manhã, uma sombra proporcionada por uma árvore e uma linda vista.

Etno-conhecimento

O etno-conhecimento pode ser traduzido de maneira simplificada como sabedoria popular. Os chás que as avós preparam quando estamos doentes é um tipo de conhecimento adquirido ao longo das gerações assim como todo o conhecimento que as nações indígenas brasileiras adquiriram sobre o ritmo da natureza, o ciclo de reprodução dos animais, o uso de plantas medicinais, o manejo de determinadas espécies da fauna e flora para uso na habitação e alimentação, etc. No Brasil, o etno-conhecimento está enraizado em toda a sociedade e fortemente relacionado com a própria formação do povo brasileiro, dentre os quais exemplificaremos aqui os Quilombos, os Caiçaras e os Indígenas.

Esta forma de conhecimento está sendo ameaçada sob vários aspectos: o primeiro deles refere-se a extinção dessas populações tradicionais, impedindo a perpetuação e a transmissão do conhecimento através das gerações. O segundo está relacionado ao fato do conhecimento científico e das tecnologias se sobreporem ao conhecimento tradicional, ao invés de trabalhar em parcerias, aproveitando o conhecimento adquirido por culturas muitas vezes milenares. A terceira forma, a mais grave e prejudicial do ponto de vista ambiental, ético e econômico, é a biopirataria, descrita a diante em maior detalhe.

Caiçaras

O isolamento deste grupo, formado pela união de indígenas e portugueses marginalizados, permitiu com que criassem uma independência econômica e cultural, mesclando técnicas e conhecimento europeus e indígenas e dessa forma otimizando o aproveitamento dos recursos naturais da Mata Atlântica. Os caiçaras podem ser caracterizados pelo desenvolvimento de um complexo sistema de atividades que se complementam, destacando-se a agricultura de coivara, o extrativismo vegetal, a caça, a coleta de moluscos e crustáceos e a pesca.

Biopirataria

A biopirataria consiste na apropriação indébita de material vivo, muitas vezes se aproveitando da sabedoria dos povos tradicionais sobre o uso de plantas, animais e localização da biodiversidade com a finalidade de explorá-los comercialmente, sem que a população local ou mesmo o país de origem do produto tenha algum direito sobre ele ou algum benefício financeiro.

Em muitos casos, grandes indústrias farmacêuticas financiam o tráfego ilegal de animais silvestres, ou mesmo montam verdadeiros laboratórios em meio às selvas brasileiras, onde princípios bioativos da fauna e flora brasileira são descobertos, levados para o exterior e patenteados por grandes corporações que os revendem ao país de origem como remédios.

Um bom exemplo é o chá de quebra-pedra (Phyllanthus sp.), que as comunidades tradicionais utilizam para fins diuréticos e problemas renais. Esta planta foi processada sinteticamente por um laboratório americano, revendida para o Brasil na forma de remédio industrializado e consumido pelos próprios brasileiros sem que o país ou a população esteja se beneficiando financeiramente.
Pesquisas indicam que a orientação de comunidades indígenas na busca por princípios bioativos em plantas silvestres aumenta em 400% as chances destas corporações em encontrarem os mesmos, o que não é de se espantar dado os milhares de anos de cultura onde estas tribos vem aprendendo os benefícios de ervas medicinais.

A Conservation International realizou uma pesquisa em 1998 onde concluiu que das 150 drogas mais prescritas pelos médicos nos Estados Unidos, 57% possuem pelos menos um componente derivado, direta ou indiretamente, de recursos genéticos, sem que nenhum retorno financeiro significativo tenha sido observado aos países de onde originaram estes recursos.

Na América Latina, em países de megadiversidade como a Colômbia, o Equador e a Bolívia existem leis que regulamentam o acesso a essa biodiversidade e ao conhecimento tradicional que buscam garantir a repartição dos benefícios gerados a partir da exploração comercial destes recursos. Com isto, objetivam viabilizar a conservação desta biodiversidade, a valorização do conhecimento tradicional e a transferência de tecnologias. No Brasil há apenas três projetos de lei, ainda em discussão na Câmara dos Deputados.