Vamos deixar o mato crescer!
http://www.lainsignia.org/2007/junio/ecol_001.htm
Marinês Eiterer e Felipe A. P. L. Costa (*)
La Insignia. Brasil, junho
de 2007.
Entra ano, sai ano e as mesmas
manchetes ressurgem na imprensa: "Moradores reclamam de mal cheiro do córrego que corta o bairro",
"Moradores pedem capina de mato que atrai cobras e ratos", "Moradores reivindicam canalização de córrego" e assim por diante. As frases podem até
variar, mas
expressões
Muitas cidades são a versão contemporânea
de aglomerados humanos que surgiram e prosperaram às margens de um corpo d'água, na
maioria das vezes um rio. Além
de atender certas necessidades humanas óbvias (fontes de água, por exemplo),
morar nas proximidades de um rio
já foi tido
Uma alternativa envolveria a captação e tratamento de esgoto na própria
unidade domiciliar, procedimento cuja adoção poderia ser estimulada pelas prefeituras, envolvendo, por exemplo, a redução ou até
mesmo a suspensão de certos impostos para quem tratasse
o seu próprio esgoto. Com isso, poderíamos, quem sabe, entrar em
um círculo virtuoso: reduzindo
a emissão de esgoto doméstico, favorecemos a restauração da vida aquática
o que, por sua vez, pode
levar ao embelezamento da paisagem
Um outro problema bastante comum envolve o descarte de lixo em cursos d'água,
procedimento que muitas vezes reflete
a desinformação ou apenas o estado de espírito de seus agentes. Despejar lixo doméstico
a céu aberto equivale a dar um tiro no próprio pé. Se não, vejamos: a parcela orgânica do lixo - restos de alimento, por exemplo - serve de comida para uma ampla
variedade de animais urbanos, alguns dos quais dificilmente são bem-vindos na casa de alguém,
Não custa enfatizar: escorpiões e serpentes não aparecem
em terrenos baldios por causa
de lixo ou do "mato" que eventualmente prospera, mas sim por
causa de outros animais, muito mais numerosos e oportunistas, que chegaram antes ao lugar, atraídos que foram pelas
refeições grátis fornecidas por moradores humanos. O pior de tudo é que esse círculo
vicioso muitas vezes prospera mesmo em bairros
regularmente atendidos pelo serviço de coleta de lixo. Não jogar lixo a céu
aberto seria, portanto, uma regra
de ouro para quem vive em aglomerados
urbanos e não quer continuar cultivando problemas desse tipo.
O "mato" -
a vegetação miúda que comumente prospera
em terresno baldios - pouco ou nada tem a ver com o problema. De resto, cabe lembrar o seguinte: o "mato" que vemos crescer
ao longo de córregos e rios
urbanos em geral é formado de gramíneas (capins) e algumas outras plantas pioneiras que só prosperam
em hábitats abertos, expostos à insolação direta.
Podemos continuar ocupando funcionários e desperdiçando recursos com o serviço de capina, a exemplo do que
o governo federal e os governos estaduais fazem com certa freqüência ao longo
de rodovias federais e estaduais. Há, porém, uma alternativa
inteligente e inteiramente gratuita: permitir que a sucessão ecológica prossiga ao longo das
margens.
Ao fim
de um ou dois anos, no entanto, a diferença já poderá
ser notada. E, nesse caso, termos trocado um círculo vicioso por um outro círculo
virtuoso: à medida que arbustos e árvores prosperam (quer seja às
margens de rios,
córregos ou rodovias), a vegetação pioneira perde "força".
Nota
(*)Marinês
Eiterer é bióloga
meiterer@hotmail.com, consultora botânica
da AUE Soluções. Versão ligeriamente modificada deste artigo foi publicada
na edição
de junho de 2007 da Revista Eletrônica AUE Soluções .
Felipe A.P.L. Costa é biólogo meiterer@hotmail.com, autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A
curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida
na Terra (2006).
(1)