Morte anunciada aos ambientalistas?
Por Gerhard Sardo*






Seu Edu foi espancado até a morte nas ruas de Itaipuaçu, em Maricá, por
denunciar a extração ilegal de areia. Fernando UNIVERDE foi apedrejado
próximo ao Mercado São Pedro, em Niterói, por denunciar loteamento ilegal.
Álvaro Marques foi assassinado a tiros em frente ao Fórum  de Justiça, em
Angra dos Reis, por denunciar ocupação ilegal em manguezal. Doroty Stang foi
assassinada a tiros por denunciar grilagem de terras e derrubada de árvores
na Amazônia Legal.Dionísio Júlio Ribeiro também foi assassinado a tiros, em
Nova Iguaçu, por denunciar a extração ilegal de palmito no interior de uma
reserva biológica.



Quem será o próximo? Eu? Você?



A situação de risco de vida por que passam inúmeros ativistas ecológicos é
um pequeno reflexo da impunidade que se estabeleceu no Brasil. Hoje
assistimos em todo momento centenas de crimes sendo praticados, sem que haja
nenhuma força estatal suficientemente competente que garanta o direito de ir
e vir ou a integridade física e mental do conjunto de cidadãos livres. Se
não há liberdade àqueles que convivem em sociedade, o que esperar, então,
àqueles que ousam afrontar infratores ou mesmo criminosos que comprometem o
equilíbrio do meio ambiente?



É sabido que a insegurança ambiental é uma conseqüência da inoperância do
Estado de Direito, que cada vez mais se distancia dos interesses coletivos.
Até funcionários públicos que trabalham em situação precária de proteção à
natureza tem sido vítimas da impunidade. A morte do guarda florestal Amauri
quando coibia pesca predatória, em Itaperuna, é um exemplo.



 Mas e os ativistas ecológicos? Que não estão cumprindo uma obrigação
funcional, mas exercendo a cidadania? Como ficam aqueles que se expõem a
perseguições gratuitas e a risco de vida?



Há alguns anos, em meio a denúncias de morte anunciada a ambientalistas,
detentores de retórica oportunista "inovaram" com a proposta de um centro de
referência que garantisse o trabalho voluntário desenvolvido por ativistas
ecológicos. A idéia logo sucumbiu.



Na verdade nunca houve nenhuma iniciativa governamental que garantisse o
pleno exercício da cidadania ecológica.



Para ilustrar essa situação de desamparo governamental, recordo-me de onze
situações que vivenciei. A primeira se deu há quinze anos atrás, quando
denunciava a grilagem de terras na praia do Sossego. O invasor declarou que
"seria fácil acertar uma bala em meu peito". Depois, um promotor de eventos
náuticos em Niterói ameaçou-me por estar criando dificuldades a campeonatos
de jet-ski na laguna de Itaipu. Destinado a interditar uma empresa de
mineração na Serra da Tiririca, onde fui forçado a mudar minha rotina várias
vezes, fui ameaçado de morte. A empresa fechou e faliu. Logo depois estava
sob nova ameaça quando denunciava imenso desmatamento provocado por
congregação religiosa em Itaipuaçu. Não muito longe dali, na restinga de
Maricá, outro grileiro de grande área protegida afrontava-me em meio a
várias pessoas. Na Ilha Grande, fui jurado de morte por três pessoas
insatisfeitas com minhas denúncias de crimes ambientais. Por organizar uma
manifestação contra um empreendimento imobiliário na Região Oceânica de
Niterói, fui ameaçado de forma covarde e torpe. Até um vereador (que já
ocupara a pasta de segurança pública municipal) e um tenente da guarda
florestal já declararam o meu fim prematuro.



Foram situações reais, muitas vezes com dezenas de testemunhas, que jamais
contaram com a apuração por parte de autoridades policiais para resultar em
uma decisão condenatória da Justiça.



O que fazer?



*Gerhard Sardo é jornalista, analista ambiental e ativista ecológico há 16
anos.



Niterói-RJ, 25/02/05.