Science: dá mais lucro preservar florestas

(09/08/2002)


Preservar o meio ambiente é mesmo um bom negócio, e não apenas na linguagem
figurativa. Pode ser difícil imaginar uma floresta intacta como mais
lucrativa do que uma fazenda de soja ou gado, ou um recife de corais
preservado mais lucrativo do que uma indústria de pesca, mas é justamente
isso que propõem os autores de um estudo publicado hoje na revista Science.
Se não para o próprio fazendeiro ou pescador, mas para a população em geral
e para o planeta, preservar a natureza dá muito mais dinheiro do que
destruir, garantem os pesquisadores. Eles estudaram cinco casos de
ecossistemas intactos que foram transformados para atividades humanas. Em
todos eles, o homem saiu perdendo.
Mais precisamente, um prejuízo contínuo de US$ 250 bilhões ao ano, pelo
índice anual de transformação ambiental (1,2%) nos últimos dez anos, desde a
Rio-92. O que a população ganha em alimentos e produtos, perde em qualidade
dos solos, controle de erosão, reciclagem de nutrientes e fontes de água
potável, regulação do clima, seqüestro de carbono, polinização, controle
biológico de espécies, biodiversidade - tanto para caça como para pesquisa
de moléculas medicinais - e até opções de turismo e recreação. "São serviços
normalmente ignorados pela balança econômica, mas que, sem o meio ambiente
para fornecê-los gratuitamente, precisamos pagar para obtê-los de alguma
outra forma", disse ao Estado o pesquisador Robert Costanza, do Instituto
para Economia Ecológica da Universidade de Maryland, um dos principais
autores do trabalho. Coordenou o estudo Andrew Balmford, da Universidade
Cambridge.
Segundo Costanza, o estudo fornece uma estimativa "bastante conservadora" do
valor desses serviços. E ainda assim, os números são gigantescos. Para
manter uma rede global de unidades de conservação, abrangendo 15% dos
ecossistemas terrestres e 30% dos marinhos, o mundo gastaria US$ 45 bilhões
ao ano, segundo os pesquisadores. Os benefícios da conservação dessas áreas,
entretanto, dariam um retorno de US$ 4,4 trilhões a US$ 5,2 trilhões,
permitindo-se a exploração sustentável dos recursos. Na pior das hipóteses,
portanto, a razão custo-benefício de "um sistema de reservas com parâmetros
mínimos de segurança", seria de 1 para 100, concluem os autores. "As áreas
reservadas seriam em regiões de pouca população e atividades econômicas.
Portanto não estaríamos impedindo o progresso de ninguém", diz Costanza.
Apenas 7,9% da superfície terrestre e 0,5% das regiões marinhas são
protegidas ao custo de US$ 6,5 bilhões ao ano. E para chegar aos US$ 45
bilhões, bastaria redirecionar 5% do que os pesquisadores chamam de
"subsídios perversos", que ajudam produtores em detrimento do meio ambiente
e dos padrões sociais da população.
Pesquisa
Os pesquisadores, de instituições nos EUA e na Grã-Bretanha, analisaram mais
de 300 casos de conversão de ecossistemas, mas apenas cinco preencheram os
requisitos exigidos para o trabalho: uma floresta na Malásia convertida para
exploração madeireira intensiva, e outra em Camarões, usada para agricultura
familiar e comercial; um manguezal na Tailândia destruído para o cultivo de
camarões; um brejo no Canadá cuja água foi drenada para a agricultura; e um
recife de coral nas Filipinas dinamitado para a pesca. Em todos eles, os
serviços biológicos do bioma intacto ofereciam mais retorno do que os
serviços obtidos com a conversão para o extrativismo. O ganho econômico de
cada um era de 14%, 18%, 70%, 60% e 75%, respectivamente.
A margem vai variar de acordo com a produtividade e eficiência da atividade,
mas, para Costanza, os casos estudados são emblemáticos. Os pesquisadores
deixam claro que não são contra o desenvolvimento. Afinal, 6 bilhões de
pessoas não podem viver sem causar impacto ao ambiente. "Em sua maior parte,
no passado, a abertura de florestas e áreas alagadas para aproveitamento na
agricultura e outras formas de desenvolvimento provavelmente beneficiaram a
sociedade como um todo. No entanto, as trajetórias atuais do
desenvolvimento, obviamente, não estão provendo benefícios da forma como
deveriam", escrevem os autores. A solução, diz Costanza, é explorar os
recursos naturais de maneira mais inteligente, combinando práticas de
conservação e desenvolvimento sustentável. "Se considerarmos todos os
ecossistemas ainda intactos do planeta, ainda sobra espaço mais do que
suficiente para produzirmos a comida e os recursos de que precisamos."
Herton Escobar
O Estado de S. Paulo
Mais informações em:
http://www.sciencemag.org/feature/data/sust/index.shtml#Commentary