Santos, um grande canteiro...
de obras!!!
Rai Feijóo
Cidadã
e consultora ambiental
(Santos,
11/09/2008)
A cidade de Santos tornou-se um grande canteiro
de obras, houve uma explosão no mercado imobiliário e assistimos a construções
de prédios cada vez mais altos.
Como cidadã lamento a situação de toda
a comunidade que hoje enfrenta diversos problemas e incômodos em virtude desse “desenvolvimento” e como profissional da área
ambiental, fico indignada com a falta de compromisso e responsabilidade com as
questões ambientais e o não cumprimento das leis criadas para proteger o meio
ambiente.
De acordo com o capítulo VI da
Constituição Federal, artigo 225:
“Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.”
Hoje, é possível encontrar duas ou até
três obras no mesmo bairro, em alguns casos até na mesma rua... com isso, a poluição sonora decorrente das atividades
construtivas, do tráfego de caminhões e principalmente dos caminhões de
concreto são extremamente irritantes, inclusive aos sábados. Gostaria de saber
se os órgãos oficiais acompanham de perto os níveis de ruídos provocados pelas
obras, observando-se não só o volume dos ruídos, mas também a exposição por
longos períodos a que estamos sujeitos.
A poluição atmosférica tem estado
bastante crítica, principalmente nos dias de baixa umidade, a poeira das obras
espalha-se por toda a rua, além da fuligem provocada pelos caminhões, do pó da
madeira decorrente da serragem e do pó decorrente do corte de pedras, pisos,
etc. Com isso os problemas alérgicos respiratórios se intensificam e mais uma
vez é a comunidade que sofre os efeitos. As casas, mesmo fechadas, estão sempre
com poeira, os carros não permanecem limpos mais do
que dois dias, secar roupas no quintal ou do lado externo é o mesmo que
instalar um filtro manga*.
O trânsito encontra-se caótico, pois
além das obras de implantação de gasodutos pela cidade, convivemos com o
intenso trânsito de caminhões que entregam materiais diariamente em todos os
canteiros de obra da cidade ou até mesmo filas de caminhões de concreto.
O pedestre perdeu o direito de
transitar nas calçadas, tendo que disputar espaço com os carros “protegidos”
por cones ou simples fitas zebradas. Já os motoristas perderam muitas vagas de
estacionamento, pois as construtoras delimitam toda a extensão da calçada para
uso exclusivo.
Não entendo como toda a Sociedade deve
padecer em benefício de poucos, pois os lucros ou os impostos decorrentes
destas obras não serão compartilhados com todos que sofrem; não recebemos
descontos em nossos impostos, nem auxílio saúde para os transtornos
respiratórios ou as dores de cabeça.
É notório que várias exigências de
segurança do trabalho são ignoradas, bem como, leis ambientais como o
gerenciamento e destinação de resíduos (Resolução Conama
nº 307). A enorme quantidade de resíduos
destinados através de caminhões, onde os materiais são todos misturados, é uma
prática constante e visível aos olhos de todos, inclusive da fiscalização.
Já presenciei diversas vezes o
lançamento de água do rebaixamento de lençol freático despejado na via pública,
de preferência a partir das 17 horas, quando encerra o expediente da
fiscalização.
Numa sessão na câmara dos vereadores,
tive a oportunidade de ver a manifestação da vereadora Cassandra, que é
geóloga, questionando se haviam estudos geológicos que embasassem esta demanda
de alteração no solo. Fiquei realmente curiosa para saber se os estudos estão
contemplando somente a área limite das perfurações estruturais ou existe um
estudo mais abrangente que contemple toda a área do bairro, sim, pois como
citei no início, existem casos com duas ou três construções de alto porte em
poucas quadras.
Outra curiosidade, não menos
importante, é saber qual o planejamento realizado para o aumento de
abastecimento de água e energia para todas estas moradias; qual o planejamento
para o tratamento de esgoto (lembrando que a ineficiência deste acarretará a
volta da poluição a nossas praias); qual o planejamento para a coleta e
destinação dos resíduos em geral, e pensando no médio prazo, onde será
implantado um novo aterro sanitário para atender toda essa nova demanda,
considerando que toda a cadeia produtiva da região está aumentando e temos
apenas um aterro licenciado.
Não vamos considerar aqui o fluxo
turístico, afinal, com tantos canteiros de obras neste momento, acredito que
Santos, não seja o lugar ideal para se descansar nas férias, sem querer repetir
aquelas questões de barulhos, dos caminhões, da falta de estacionamento e da
poeira.
Fico admirada com as perspectivas de
nossa cidade, pois enquanto todo o planeta grita por preservação, redução de
consumo, reciclagem e responsabilidade social e ambiental, assistimos
passivamente uma avalanche de agressões ao meio ambiente e aos direitos dos
cidadãos.
Impressiona-me, que em época de
eleição, não ouvi nenhum candidato questionar ou expor alguns dos fatos que
abordei neste artigo. Será que eles estão tão ocupados
com a campanha, em seus bens instalados comitês, que não perceberam o que está
ocorrendo
Não feche seus olhos para os desmandos,
denuncie os abusos, mantenha-se informado e colabore com as ações de
preservação. Vamos defender a cidade e a qualidade de vida que desejamos
oferecer às futuras gerações.
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* Equipamento utilizado para retirar partículas de poluentes da atmosfera, através da retenção da poeira.