Escola São Paulo sobre
Redes em Ecologia será um trabalho em imersão
Luiz Sugimoto
[14/9/2011] Redes em Ecologia é o primeiro curso da Escola São
Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) na área ambiental, que
acontece entre 16 e 25 de setembro na cidade São Pedro (SP). Durante
nove dias, praticamente, 13 professores e 40 alunos de doutorado e
pós-doutorado, brasileiros e estrangeiros, participarão intensivamente de aulas
teóricas e atividades de campo, das 8 da manhã às 10 da noite. "É um
formato em que trabalhamos em imersão. Mas daremos brechas generosas para que
os alunos possam relaxar, pensar e discutir informalmente", promete o professor Thomas Lewinsohn,
do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, que coordena o evento juntamente com
os professores Paulo Guimarães Jr. e Paulo Inácio Prado, ambos do Instituto de
Biociências (IB) da USP.
A ESPCA é um programa da Fapesp que envolve cursos de curta duração em ciência
e tecnologia, com o financiamento de eventos que atraiam para São Paulo grandes
nomes da ciência, além de estudantes e profissionais do mundo inteiro
interessados em se transferir para instituições paulistas. A Escola sobre Redes
em Ecologia é uma realização da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e
Conservação (Abeco) e dos programas de Pós-Graduação
em Ecologia da Unicamp e da USP. A abertura oficial será às 20 horas de
sexta-feira.
Segundo Thomas Lewinsohn, a organização decidiu por
um formato diferente nesta ESPCA, que na maioria das edições anteriores,
envolvendo outras áreas do conhecimento, caracterizou-se
como ciclos de grandes conferências entremeadas por sessões de pôsteres ou
apresentações dos alunos. "Isso permite reunir centenas de participantes,
o que é impossível no nosso formato, pois os alunos trabalharão intensivamente,
desenvolvendo projetos em equipes. Creio que inovamos ao oferecer uma Escola
que é essencialmente de desenvolvimento teórico de aplicações, mas usando a
atmosfera dos cursos de campo - uma forte cultura das pós-graduações em
Ecologia".
O professor da Unicamp explica que a área de Redes em Ecologia está entre as de
maior interesse e de maior potencial de aplicação na pesquisa ecológica
recente. Nesta Escola serão focadas duas vertentes principais: as redes de
interações de espécies e as redes espaciais entre elementos de uma paisagem
ecológica. "No primeiro caso, analisamos, por exemplo, as relações entre
espécies de animais polinizadores e espécies de
plantas de uma comunidade natural. Podemos ter relações muito generalizadas, em
que o animal poliniza várias espécies de plantas, ou o inverso, uma planta
polinizada por várias espécies animais".
Por outro lado, acrescenta Lewinsohn, existem
relações muito especializadas, com apenas um par de espécies exclusivamente
associadas uma a outra. "Em ecossistemas tropicais, há uma espécie de
abelha que visita somente uma espécie de orquídea, que por sua vez só é
polinizada por aquela abelha. Enfim, a análise de redes entre espécies pede uma
estrutura matemática, sendo que esta área tem crescido muito
graças à física, com novas abordagens para analisar a organização e a dinâmica
de sistemas complexos".
Sobre a outra vertente, das redes espaciais, o coordenador da ESPCA explica que
muitas paisagens em áreas tropicais têm ficado mais heterogêneas por causa da
ocupação humana. "Quando se substitui extensas áreas de
florestas ou cerrados, parcialmente, por culturas agrícolas, pastagens
ou cidades, a paisagem fica bastante variada - e podemos analisar as relações
entre essas estruturas como um problema de rede, em que a dinâmica dos
ecossistemas é afetada não apenas pelos tipos de elementos, mas também pela
forma como eles estão dispostos na paisagem. Uma prioridade nas pesquisas é a
possibilidade de construção (ou reconstrução) de corredores naturais, a partir
da conexão desses fragmentos".
A interdisciplinaridade
O desejo de criar um ambiente de imersão influiu na escolha do local para a
realização da Escola, já que a estância de São Pedro possui uma paisagem bem
mais rural que Campinas, ao mesmo tempo em que o hotel (Fonte Colina Verde)
oferece todo o suporte logístico. "Sendo uma Escola teórica, trabalharemos
com bases de dados e precisaremos de boa conexão de rede para acessar
bibliotecas e programas. Entre os professores e alunos, temos biólogos com
experiência no estudo de redes reais no campo, outros biólogos com formação
mais teórica e matemática, e inclusive físicos. É um curso realmente
interdisciplinar", ressalta o professor da Unicamp.
Os 40 alunos foram selecionados em meio a 300 inscritos. Vinte são brasileiros
de diferentes instituições do país e os vinte estrangeiros
vêm de 12 países, como Argentina, Chile, Estados Unidos, Canadá,
Austrália, Inglaterra e Indonésia. Quanto aos professores, Thomas Lewinsohn informa que 11 deles participarão quase que
integralmente do curso, havendo outros dois convidados que virão para palestras
e para desenvolver temas específicos. "Cinco são estrangeiros, com
destaque para o professor Jordi Bascompte,
da Estação Biológica de Doñana (Espanha), primeiro
ecologista a receber o Prêmio Jovem Pesquisador Europeu, uma bolsa de enorme
prestígio".
O coordenador da ESPCA assegura que os professores são lideranças científicas
com produção expressiva. "Ao mesmo tempo são jovens, muito motivados e
cativantes, com envolvimento especial com seus trabalhos e grupos de pesquisa.
A expectativa é de que o contato com os alunos seja produtivo e estimulante
também por conta disso. Tenho confiança de que as Redes em Ecologia desta Escola
produzirão redes de colaboração para pesquisas futuras. Isso é quase inevitável
quando colocamos pessoas num ambiente favorável, discutindo ideias
e trabalhando conjuntamente". As informações completas sobre a ESPCA
Redes em Ecologia estão no site do evento.
http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/2011/09/15/escola-sao-paulo-sobre-redes-em-ecologia-sera-um-trabalho-em-imersao