SOCIEDADE DE RISCO - I
Luiz Eduardo Cheida
Paraná,
16 de junho de 2006
(Luiz Eduardo Cheida é Médico. Foi
Prefeito de Londrina de
Os 20% dos
terráqueos mais ricos consomem 80% de toda matéria-prima e energia produzidas
anualmente. A mais elementar aritmética demonstra que seriam necessário 5 planetas para dar a todos o estilo de vida que essa
minoria desfruta.
A coisa não tende a melhorar: estudos sinalizam para uma taxa de
20% da população mundial morando em favelas, até o ano de 2020.
A exclusão crescente desta significativa parcela da humanidade é a
mesma que obriga, por exemplo, um agricultor descapitalizado
cortar a mata ciliar de sua propriedade para vendê-la como carvão. Mesmo
sabendo que está cortando os dedos, após já ter cedido os anéis, ele o faz
porque o instinto de sobrevivência é mais forte que qualquer lógica preservacionista.
Este, e incontáveis fatos similares, demonstra que equilíbrio
ambiental e exclusão social são incompatíveis. Pobreza e equilíbrio ambiental
não casam. Não podem caminhar juntos. Impossível querer um mundo equilibrado
imaginando que a problemática ambiental será resolvida pela ciência e pela
tecnologia. A questão ambiental é uma questão social.
Por outro lado, a apropriação da natureza, por parte da outra
parcela da humanidade, é realizada com o intuito de acumular. Esta apropriação
distribui de forma desigual os benefícios e os prejuízos resultantes. E, quanto
mais globalizado o mundo, mais global se torna este modelo. Não é mais uma
cultura, em um reinado longínquo, quem pratica toda sorte de estupidez
ambiental. Nem mais outra cultura, que tem para com o mundo vivo o necessário
respeito que os fazem uno.
Agora, no planeta globalizado, as culturas mesclam-se. Fundem-se
aos mercados emergentes. Embaralham seus tempos biológicos com o tempo
histórico das novidades científicas e a tecnológicas. Dessa verdadeira sopa
cultural emerge um modelo único de exploração de recursos naturais:
ambientalmente predatório e socialmente excludente.
Um exemplo nacional é o do empresário rural. Enquanto aquele
agricultor descapitalizado destruía sua propriedade para comer, este a
consome para acumular. O faz quando, por exemplo, substitui por capim parte da
Floresta Amazônica, com o intuito de criar boi, produzindo o bife mais caro do
planeta.
Equilíbrio ambiental e concentração de riquezas também são
incompatíveis. Não podem, à exemplo da exclusão
social, caminhar juntos. Uma vez mais, a questão ambiental é uma questão
social.
Os riscos ambientais do planeta decorrem da própria intervenção
humana.
Embora nossos genes estejam impregnados de mensagens instintivas
que nos opõem ao mundo natural (medo de fogo, pavor de cobra, receio de escuro)
já não é mais contra a natureza que devemos lutar. É em oposição às concepções
e atitudes da sociedade humana que devemos nos bater. São elas que colocam em risco a sobrevivência da civilização e do próprio
planeta.
Somos uma verdadeira sociedade de risco.
Mas, de que forma devemos nos contrapor ao risco? Através de um
novo sistema de normas, de um novo sistema de valores, de um novo sistema que codifique
uma nova moral e novos preceitos éticos.
O braço da depredação não se move por si. Ele, como todas as
ações humanas, só se movimenta porque determinados conceitos o
impulsionam.
Então, se queremos reduzir os riscos, tratemos de modificar os
conceitos.
E rápido!