DUZENTAS UNIVERSIDADES
Rogério L. F. Werneck*
No final de 2004, o suplemento de educação superior do Times de Londres publicou pela primeira vez o ranking
das 200 melhores universidades do mundo
(http://www.thes.co.uk/worldrankings/).
Listas desse tipo podem ser objeto de discussões infindáveis, mesmo quando
envolvem instituições de um único país.
O espaço para controvérsia se torna bem mais amplo quando se comparam
instituições em escala mundial, com base em critérios inevitavelmente simplistas. Mas, mesmo tendo
em conta as inegáveis limitações, o
ranking merece reflexão. Especialmente no Brasil. Não há nenhuma instituição brasileira incluída entre
as 200 universidades listadas pelo
Times.
A ordenação está baseada em cinco indicadores. O mais importante, com peso de 50%, provém de pesquisa de opinião
envolvendo 1.300 professores universitários
de 88 países, nos cinco continentes. Cada entrevistado foi instado a se manifestar sobre a qualidade
acadêmica de diferentes instituições em
áreas de conhecimento e regiões geográficas que lhes fossem familiares. Não se informa como foi feita a
seleção dos entrevistados. O segundo indicador, com peso de 20%, é uma medida
de impacto de produção científica,
baseada em número de citações por pessoal docente, com utilização de um banco de dados que - o
próprio Times reconhece – tende a favorecer
instituições mais fortes em tecnologia, áreas biomédicas e ciências naturais de um modo geral. O
terceiro indicador, também com peso de 20%, é simplesmente o número de
professores por aluno. Dois outros indicadores,
cada um com peso de 5% - presença de estudantes estrangeiros e de professores estrangeiros -, aferem o grau
de internacionalização de cada universidade. É perfeitamente possível
contestar cada um desses critérios, discutir a confiabilidade das informações
utilizadas e propor alternativas. Mas
isso não tira o mérito da iniciativa de se construir o ranking. Os resultados são instigantes. E o que menos
importa é a posição exata que cada instituição ocupa no ranking.
As instituições norte-americanas dominam boa parte da lista, ainda que menos
maciçamente do que se poderia imaginar. Entre as dez primeiras universidades, há duas britânicas e uma
suíça: Oxford, Cambridge e o Instituto
Federal de Tecnologia de Zurique. Entre as 50 primeiras, há 20 universidades
norte-americanas. As outras 30 deixam transparecer, em certa medida, o viés anglo-saxão do olhar londrino
que presidiu a elaboração da lista. Nem
tanto pela presença de oito universidades britânicas, mas pela inclusão de nada menos do que seis
instituições australianas. Há também três canadenses. Da Europa continental não
mais do que cinco instituições entre as
50 primeiras. Duas francesas, duas suíças e uma alemã. Da Ásia, três universidades da China (duas de Hong Kong e a
Universidade de Beijing),três de Cingapura, duas do Japão e o Instituto de
Tecnologia da Índia. Nas 50 primeiras, não há instituições dos demais países
europeus, nem nenhuma universidade da
América Latina ou da África.
As 150 instituições restantes, que compõem a lista completa de 200 universidades,
incluem outras 41 norte-americanas, 21 britânicas e sete australianas. Do mundo anglo-saxão, há ainda
três neozelandesas e uma irlandesa.
Aparecem também na lista mais 16 instituições alemãs e mais cinco francesas,
bem como oito instituições holandesas, cinco suecas e 15 outras universidades européias, localizadas na
Bélgica, Dinamarca, Noruega, Finlândia,
Áustria, Itália, Espanha e Rússia. Da Ásia, entram na lista mais quatro
universidades do Japão e mais seis da China (duas de Hong Kong),além de três da
Coréia do Sul, duas da Malásia, duas de Israel e uma de Taiwan. Da África,
nenhuma. E da América Latina, apenas uma, classificada em 195.º lugar. A Unam, Universidade Nacional Autônoma
do México.
O ranking apenas deixa bem claro o que já se sabia. Embora o sistema universitário brasileiro tenha ilhas de
excelência e áreas de grande competência,
falta ao País uma rede de universidades de classe mundial. A questão é o que fazer a respeito. Que
desempenho terão as universidades brasileiras
quando ranking similar, e possivelmente mais criterioso, for feito daqui a 25 anos?
Para que a performance seja menos pífia, vão ser necessários muito esforço e
políticas públicas inspiradas no que tem dado certo na experiência
internacional, e não no que comprovadamente tem dado errado. Mas, nessa área,
ainda falta ao governo a lucidez necessária para evitar descaminhos e levar adiante projeto mais ambicioso.
*Rogério L. Furquim Werneck, economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor-titular do Departamento
de Economia da PUC-Rio
economia@estado.com.br
http://txt.estado.com.br/editorias/2005/02/11/eco006.html