01/08/04
Qualidade das águas; Poluição; Indicadores IQA – IAP - IVA
Reza em contas de um rosário. São os seixos que pacientemente rola.
Reza pelos irmãos rio e mar. Reza pelo amante solo, pela filha árvore e pelo filho bicho.
Reza humilde,... piedosa. Reza por todos nós. Reza por mim.
(Biól. H.B. de Pádua – Palestra:Fac. de Turismo/Bonito, 2003)
Na Bacia do Alto Paraguai, (BAP-Mato Grosso do Sul), que inclui rios desde o Taquari, na divisa com Goiás, até o outro extremo, na região de divisa com o Paraguai, em Antônio João, 44% das águas estão em ótimas condições; 14% boas; em 11% dos pontos de análise a qualidade é aceitável; 20% ruim e 11% péssima. Nestes trechos, de avaliação com pior desempenho, a poluição foi provocada também pela própria natureza, que com enchente trouxe vegetação para o leito. A decomposição prejudicou o oxigênio, fator de avaliação da qualidade. É o caso do rio Apa, em Bela Vista, e o Paraguai. Os 20% ruins foram identificados no Pantanal e em áreas urbanas. No caso são 188 mil quilômetros quadrados de área, (Campo Grande News, 2004)
Nesta BAP, a preocupação é com a Sub-Bacia do rio Miranda. Ela inclui rios de áreas urbanas, como Aquidauana. Nela é constatada a poluição provocada por atividade industrial (destilarias, frigoríficos e laticínios) e irrigação. Quando o monitoramento começou, em 1992, foram identificadas 343 atividades com potencial poluidor. O esgoto doméstico é outro agravante, (Campo Grande News, op.cit.).
Atualmente são seis as Sub-Bacias da BAP: a do rio Apa; do rio Correntes; do rio Miranda; do rio Nabileque; do rio Negro; do rio Taquari. (BRASIL & SEMA/IMAP, 2002)
Em BRASIL & SEMA/IMAP (op cit.) no relatório "Bacia Hidrográfica do rio Formoso/MS", esta inserida na Sub-Bacia do rio Miranda, encontramos, com aplicação do IQA-Índice de Qualidade da Água, que considera nove variáveis físicas, químicas e biológicas, (pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, fósforo total, nitrogênio total, coliformes fecais, temperatura, turbidez e resíduo total), e seus respectivos parâmetros como relevantes, os seguintes resultados:
(rio Formoso = 4 pontos; - córrego Bonito = 4 pontos;
córrego Saladeiro = 1 ponto; - córrego Restinga = 1 ponto)
(*) A área da Bacia do rio Formoso é de 1334 km2, ocupando 27% da área total do município de Bonito/MS.
O relatório acima conclui que o rio Formoso foi o que mais contribui para a qualidade ótima, enquanto que o córrego Bonito, um dos afluentes da margem esquerda do rio Formoso, foi o que mais contribuiu para qualidade aceitável, ruim e péssima, isso no contexto da Bacia Hidrográfica do rio Formoso..
Também que o córrego Bonito ao longo dos anos de 1996 a 2001, próximo a sua nascente, apresenta água considerada boa ; quando porém adentra o perímetro urbano do município, a água perde qualidade, chegando ao nível de qualidade ruim. Após receber as águas dos córregos Restinga e Saladeiro, (pela sua margem esquerda), seu nível de qualidade volta a se elevar, até à foz, no rio Formoso, aí já com qualidade boa, de acordo com o IQA, concluindo que tais afluentes contribuem para melhoria do córrego Bonito/Bonito-MS, (BRASIL & SEMA/IMAP, 2002).
No "Relatório de Atividade", apresentado como resultado do Projeto Mini Curso I – março/03, "Águas Continentais, Caracterização, Usos e Monitoramento da Qualidade", desenvolvido em BONITO/MS, através dos dados obtidos pelas determinações físicas e análises químicas as águas de duas estações, uma na nascente do córrego Restinga e outra já num trecho do córrego Bonito, esta já após ter recebido, (na direção à montante), as água dos córregos Saladeiro e Restinga, como também os despejos da ETE/Bonito, (PÁDUA & MEDINA, 2003), vê-se:
Estações |
Estação 01 08hs 30min às 10hs. |
Estação 02 10hs 20min às 11hs 30min |
||
Variáveis (*) (unidade) |
Ponto 01 |
Ponto 02 |
Ponto 01 |
Ponto 02 |
Temp. ar (oC.) |
24,9 |
22,0 |
29,8 |
29,8 |
Temp.água (oC) |
22,0 |
24,0 |
22,0 |
24,0 |
pH (UpH) |
6,80 |
6,91 |
7,38 |
7,35 |
Dureza em carbonatos (mgCaCO3/l) |
250,50 |
214,71 |
286,28 |
232,60 |
Amônia total (mgN-NH3/l) |
< 0,6 |
0,6 |
4,2 |
4,2 |
Nitrito (mgNO-2/l) |
> 0,0 |
> 0,0 |
1,0 |
1,75 |
Ferro total (mgFe/l) |
< 0,5 |
< 0,5 |
< 0,5 |
< 0,5 |
(*) Amostragens, determinações e análises: em 28/04/04 – das 08 hs. até as 12 hs.
Os dados obtidos nas duas estações, cada uma com dois pontos de amostragem, sendo a primeira, a Estação 01, representada pela origem ou nascente de um córrego afluente da margem esquerda do córrego Bonito, (córrego Restinga), que percorre todo um lado da área urbana, recebendo impactos diversos, e a outra estação, Estação 02, (córrego Bonito), representando a área receptora total dos impactos urbanos de Bonito/MS, evidenciam possível carga de poluentes, principalmente orgânicos, visto os resultados das análises de amônia total e nitrito, comparativamente. A distância entre as duas estações é de 5720 metros lineares.
Segundo o CECA/MS – Conselho Estadual de Controle Ambiental – Deliberação nº 03/97, o rio Formoso e seus afluentes até a confluência com o córrego Bonito, se enquadra na "Classe Especial", e os demais trechos seguintes deste rio e outros corpos d’água da Bacia do rio Formoso, na "Classe 2". #Particularmente, este autor, pede licença e contesta o enquadramento dessas águas nas "classes acima", visto serem divisões estabelecidas para classificação das "águas doces" e não das "águas salobras", estas últimas como deve ser o caso das águas da região de Bonito/MS, na sua maioria, o que se estabelece segundo a resolução CONAMA, nº20, de 18/06/86.
As águas da região da Serra da Bodoquena/MS, lado que se inclina para leste, na porção centro-sul do Estado de Mato Groso do Sul, na borda do Pantanal do Nabileque, sofrem influência de uma unidade geomorfológica composto por rochas carbonáticas, onde predominam exposições dos calcários calcíticos-dolomíticos, (PÁDUA, 2002).
Nas análises realizadas, período de 2001/2, em amostras recolhidas nos rios Mimoso, Perdido, Formoso e córrego Formosinho, também em algumas nascentes e de um lago de uma gruta, (Mimoso), da região de Bonito/MS, os valores apresentaram-se bastantes elevados para as variáveis alcalinidade total, dureza em carbonatos e dureza total, enquadrando-as como de "dureza moderada, duras e muito duras" e com pH sempre acima de 7,0, (PÁDUA, op cit), apresentando "gosto salobre", vejamos:
Valores obtidos, para variáveis físicas e químicas, em águas naturais de alguns locais da Região de Bonito/MS-Br, em 2001/2.
(PÁDUA, 2002) hbpáduaVariáveis
TºC Turb. pH DH KH D.n.carb. Alcal. NH... Ferro PO4+NTU pH mg/l mg/l mg/l mg/l mg/l mg/l mg/l
======================================================================================
(jan-fev/02)
(out./01)
_________________________________________________________________________________________________
(jan-fev/02) 278,0 ________________________________________________________________________________________________
(maio/02)
_________________________________________________________________________________________________
(jan-fev/02) 242,0 _________________________________________________________________________________________________
(jan-fev/02) 138,6
_________________________________________________________________________________________________
(maio/02)
__________________________________________________________________________________________________
(jan-fev/02) 245,0
__________________________________________________________________________________________________
(jan-fev/02)
________________________________________________________________________________
Recentemente, PÁDUA & SILVA (no prelo), em 01/abril/04, realizaram amostragens de água, determinações físicas, (pH e transparência) e análises químicas, (amônia total-NH3/NH+4, nitrito-NO-2, dureza em carbonatos-KH), entre outras, numa rápida excursão por locais ou estações distribuídas pelo: - área urbana percorrida pelo córrego Bonito,(5 estações), incluindo uma logo após o despejo da ETE/Bonito; - 4 estações dispostas pelo rio Formoso, (região em Bonito com atividade ecoturística), sendo a última pouco antes do seu encontro com o rio Miranda; - e uma única estação no próprio rio Miranda, pouco antes, (montante), desde receber as águas mais transparentes do rio Formoso.
Quanto a variável pH, os valores obtidos pelas estações do córrego Bonito variaram de 7,35 (ponto antes da ponte na entrada da cidade de Bonito/MS), até < 8,0 (já na foz do córrego Bonito). Nas estações no rio Formoso esta variável foi de 8,0 até < 8,0, no sentido de montante à jusante. No rio Miranda, antes de receber as águas do rio Formoso o pH foi 7,5.
A concentração de amônia total-NH3/NH+4, na estação situada mais à montante, no córrego Bonito, foi de 4,2 mgNH3/l, para os 2 pontos, um antes e outro logo após a ponte de entrada da cidade. Esta estação reflete os despejos urbanos recebidos à sua montante. O valor aumenta para < 7,0 mgNH3/l, na estação que recebe o despejo da ETE e na estação a jusante desta. A amostra d’água oriunda da estação situada após receber as águas dos córregos Restinga e Saladeiro, apresentou < 5,0 mgNH3/l, (estação ainda sob ações da zona urbana). Decai para um valor de < 0,5 mgNH3/l, pouco antes de despejar suas águas no rio Formoso, (foz do córrego Bonito). As amostras dos rios Formoso e Miranda sempre apresentaram concentrações de < 0,5 mgNH3/l.
A variável nitrito-NO-2, nos dois pontos da primeira estação do córrego Bonito,
(na entrada da cidade de Bonito/MS), foi de 1,75 NO-2mg/l, (antes da ponte) e 1,0 NO-2/l, (após a ponte); - quando este córrego recebe os despejos da ETE/Bonito, esta variável atinge o valor de 2,8 NO-2mg/l, para ir decaindo no sentido jusante, até atingir um valor pouco acima que 0,0 NO-2mg/l. Tal valor permanece nas amostras das estações do rio Formoso. Na estação do rio Miranda, pouco antes de receber as águas do rio Formoso, a concentração apontada foi de < 0,25 mg NO-2/l.
A dureza em carbonatos-KH apontada nas águas amostradas se apresentou com valor elevado. Para o córrego Bonito, na primeira estação foi de 232,60 mgCaCO3/l, (logo antes da ponte na entrada da cidade), e de 286,28 mgCaCO3/l, (logo após a ponte). Na amostra recolhida após receber os despejos da ETE, a água do córrego Bonito apresentou valor igual à 246,8 mgCaCO3/l, (* segundo afirmação de um operador dessa estação, utiliza-se o calcário no processo de tratamento do esgoto). Nas 3 estações seguintes, (córrego Bonito), os valores vão de 179,00 mgCaCO3/l, para 162,50 mgCaCO3/l até 142,42 mgCaCO3/l, esta última situada pouco antes da desembocadura das águas no rio Formoso; - já no rio Formoso os valores foram de 178,10 mgCaCO3/l, na primeira estação depois de receber as águas do córrego Bonito, decaindo para 142,42 mgCaCO3/l e depois para 124,42 mgCaCO3/l, porém elevando-se para 160,41 mgCaCO3/l, na sua foz, antes do encontro com o rio Miranda . A concentração para dureza em carbonatos-KH na amostra d’água do rio Miranda foi de 106,84 mgCaCO3/l, a mais baixa encontrada.
A transparência das águas, determinada pela imersão do Disco de Secchi, foi total nos pontos das estações visitadas, menos no rio Miranda, com capacidade de visualização do Disco de Secchi, de até 25 cm. Não se considerou a transparência, (imersão do Disco de Secchi), no ponto da estação em frente ao despejo da ETE/Bonito, pela própria movimentação das águas.
Interpretando tais resultados, verifica-se que embora as águas dessa região recebam ações na área urbana, por exemplo durante o percurso do córrego Bonito, (cidade de Bonito/MS), nos pareceu ainda existir certa capacidade de recuperação ou depuração natural nesses sistemas, pela presença de desníveis, concentração de minerais carbonatados, etc., sem que os efeitos nocivos da então "poluição" começem a se fazer sentir mais drasticamente.
Esses trajetos com cachoeiras e corredeiras, além da disponibilidade constante dos calcários oferecidos pelos solos naturais da região, favorecendo disposição dos carbonatos nas águas. Ocorre rápida aglutinação e deposição de partículas orgânicas e inorgânicas, oferecendo assim constante e teimosa transparência, com manutenção do pH à níveis de neutralidade, pela formação dos bicarbonatos tamponadores, (PÁDUA & SILVA, no prelo).
Tais conclusões são recolhidas analisando o comportamento das variáveis levantadas, sob os dados obtidos para pH, amônia total, nitrito, dureza em carbonatos e a própria transparência das águas. (PÁDUA & SILVA, op cit.).
Obs.: - como informação e comparação, apresentamos à avaliação avaliação das águas interiores" do Estado de São Paulo, segundo o "Relatório de qualidade ambiental de São Paulo-Lei nº 9509/97-2003, (SEMA-DOESP vol. 114, nº108-08/06/04):
SEMA/SP, 2003 - ÁGUA - IQA - Avaliação da qualidade das águas interiores
período de 1998 - 2002, em 147 pontos monitorados:
- 10% "qualidade ótima"; - 81% "qualidade boa";
- 24% "qualidade aceitável"; - 19% "qualidade ruim";
Essa avaliação da qualidade das águas interiores do Estado de São Paulo, ainda contempla apenas o IQA – Índice de Qualidade das Águas, e deve servir como "série histórica do período 1998-2002". Atualmente a CETESB/SP esta substituindo este índice por dois outros índices, aos quais passam a integrar substâncias tóxicas e metais pesados. São eles: IAP – Índice de Qualidade da Água Bruta para Fins de Abastecimento Público, que agrega os resultados do IQA com o Índice de Substâncias Tóxicas e parâmetros de variáveis que afetam a qualidade organoléptica da água; e o IVA – Índice de Proteção da Vida Aquática, que considera a presença de contaminantes, medida pelo teste de toxicidade à vida aquática, e duas variáveis essências para a biota, o pH e o oxigênio dissolvido, representando não só as características ecotóxicológicas, como também o estado trófico dos corpos d’água.
Também, PÁDUA et al, (1984), em relatório apresentado pela CETESB/SP, procurava classificar as águas interiores do Estado de São Paulo, especialmente visando à preservação da vida aquática, em 92 pontos, distribuídos pelas 29 bacias hidrográficas, já apontava, baseado nas variáveis levantadas e parâmetros estabelecidos, segundo o IQA:
Qualidade das águas do Estado de São Paulo para desenvolvimento e preservação de peixes – em 29 bacias hidrográficas – de 1983
Referencias bibliográficas (consultadas e apontadas)(voltar) Branco, S.M., - Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária,3ª ed.; SP/SP; CETESB/ASCETESB, 1986, 640 p.:il.; 22 cm Brasil & SEMA/IMAP, -Bacia hidrográfica do rio Formoso. Campo Grande/MS; Min. do Meio Ambiente, Agência Nacional das Águas; SEMA/IMAP-Gerencia de Recurso Hídricos de Mato Grosso do Sul (coord). 2002, 66p Campo Grande News . – Notícias Site PortalBonito; Bonito/MS. Informações de Luiz Mário Ferreira – IN: Levantamento da Qualidade das Águas, 2002, (não publicado), IMAP-Inst.de Meio Ambiente/Pantanal/MS. www.portalbonito.com.br/notícias.htm (jun./03) Pádua, H.B. de, - Águas com dureza e alcalinidade elevada. Observações iniciais na Região de Bonito/MS-registro de dados – 2001/2 – alguns conceitos e comportamentos ambientais – parte 01; Bonito/MS. 2002, 64p. – http://www.portalbonito.com.br/estudos.htm; www.ruralnet.com.br/artigos/trabalhos; www.jundiai.com.br/abrappesq/artigo do mês/artigos Pádua, H.B.de; Piva, S. A E.; Boldrini, C.V. , - Qualidade das águas do Estado de São Paulo para desenvolvimento e preservação de peixes; SP/SP; CETESB/SP. Congresso Bras. de Eng. Sanit. e Ambiental, 12. Camboriú/SC; 1983, 37p. biblioteca@cetesb.sp.gov.br Pádua, H.B. de Pádua & Medina Jr., P. B., - Relatório de Atividade, Águas Continentais: Caracterização, Usos e Monitoramento da Qualidade– (Curso I), Bonito/MS. Resultado da atividade teórica e prática dos alunos e professores; 2004, 17p disponível: www.portalbonito.com.br/estudos.htm; www.ruralnet.com.br/artigos/trabalhos Pádua, H. B. de Pádua & Silva, R.R. da, - Águas urbanas da região de Bonito/MS- Rápida excursão. (no prelo), Bonito/MS; abril/2004 Papa, J. L. - Poluição de corpos d’água. Pirassununga/SP. Acqua Engenharia e Consultoria S/C Ltda. Pirassununga SP Brasil - http://www.tratamentodeagua.com.br/consulta.htm (consulta pela internet-jun/04) SEMA-SP, - Relatório de qualidade ambiental de São Paulo-Lei nº9509/97-2003, (Sec. do Meio Ambiente/Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental – Diário Oficial do estado de São Paulo, vol.114,nº108-08/06/04). disponível: www.ambiente sp.gov.br; www.cetesb.sp.gov.br |
Helcias Bernardo de Pádua
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