Zero Hora, Porto Alegre, 22 de fevereiro de
2005. Geral - Questão Agrária
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Matemática verde
Assustado com a repercussão da morte de Dorothy Stang, o governo foi
obrigado a agir no afogadilho para conter a violência e a ocupação ilegal da
Amazônia. Protocolado ontem sob regime de urgência, o projeto que define regras
para a concessão de exploração de florestas encontra resistências. O entrave
está na bancada ruralista, com 80 parlamentares. - Somos contra a violência,
mas não vamos ficar de braços cruzados - diz um dos líderes da bancada, Luis
Carlos Heinze (PP).
Os ruralistas estão temerosos em relação ao pacote ambiental do governo, que
criou unidades de preservação no norte do país. A preocupação é a possibilidade
de terem que deixar suas terras. Logo que assumiu à presidência da Câmara,
Severino Cavalcanti (PP-PE) foi procurado pela União Democrática Ruralista
(UDR). Embora não tenha a força do passado, a UDR ainda representa a linha
conservadora do ruralismo. A grande tarefa do governo será evitar que o debate
se esvaia em questões ideológicas. De um lado, o governo tenta evitar que
antigos aliados como os sem-terrra conflagrem a região com protestos. De outro,
terá de quebrar as resistência dos ruralistas.
Os deputados-fazendeiros já torcem o nariz para o fato de o projeto ter sido
confeccionado pela equipe da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Colecionadora de derrotas no governo, Marina coloca em jogo sua sobrevivência
no cargo com a votação do chamado pacote verde. Escolheu a dedo inclusive o
negociador do governo, o deputado Beto Albuquerque (PSB), que no passado
divergiu dela, conquistando bom trânsito com os ruralistas desde que defendeu o
projeto de Biossegurança, que liberou o plantio de transgênicos.