PROGRAMA DE
FORMAÇÃO CONTINUADA — TEIA DO SABER
DIRETORIA DE
ENSINO – REGIÃO CENTRO
MÓDULOS I E II
CURSO
“METODOLOGIAS DE ENSINO DE DISCIPLINAS DA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA,
MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS DO ENSINO MÉDIO: FÍSICA, QUÍMICA E BIOLOGIA”
A Escola, a Criatividade e a Inovação na Sociedade
Pós-Industrial
Elian Alabi Lucci
http://www.hottopos.com/videtur21/elian.htm
Já é hora de as empresas perceberem que
vivemos numa nova sociedade e num novo sistema de produção que o anterior da
sociedade industrial (o fordismo está sendo substituído pelo toyotismo). Nesta
nova era, nova ordem ou nova civilização, os produtos mais consumidos (fruto do
envelhecimento da população e da exclusão do trabalho) já não dependem mais do
esforço físico, mas, sobretudo, do mental.
Vivemos hoje na era da informação, do
entretenimento (o que levou o grande pensador Guy Debord a falar em Sociedade
do Espetáculo), do design e da estética (vide o sucesso do botox e
outros que tais que já contagiam até os homens). Tudo isto para ser produzido
exige o quê? Idéias, intuição, visão... e, portanto, criatividade.
Nesse quadro, como poderíamos definir
criatividade?
Comecemos por um exemplo prático. Se você,
para sobreviver, precisa recolher latas diariamente e amassá-las para vendê-las
à empresas de reciclagem de lixo e de outros produtos descartáveis, o que você
faria? Provavelmente, pensaria em alugar uma prensa ou em pisar em cima das
latas até se cansar.
Veja a solução bastante criativa de um
modesto rapaz diante deste desafio. Observando na Avenida 9 de julho, uma via
altamente movimentada de São Paulo, que os ônibus se sucediam em curtíssimos
intervalos de tempo, ele pensou em colocar um punhado de latas num desnível
entre a calçada e o meio fio, de tal modo que os ônibus fizessem gratuitamente
esse serviço para ele. Assim ele pensou, assim ele fez. Todas as tardes, por
volta das 18 horas, ali está o jovem colocando as latas para os ônibus
amassarem. A cada ônibus que passa ele ajusta um pouco melhor um lote de latas
até ficarem em forma plana e, em seguida, lá vai ele colocar novas latas até
que também elas fiquem bem amassadas e prontas para serem vendidas.
O que este exemplo, tão prático, nos mostra
é que a criatividade está ao alcance de todos. Ele mostra também que todo mundo
pode ser criativo. Todos nós nascemos criativos, só que a capacidade de criar
fica latente, inibida em nós até que algo ou alguém exija que a exercitemos,
que a ponhamos em prática.
Este dramático momento - em que estamos
vivenciando uma mudança de paradigmas em direção a uma nova ordem
geo-política-econômica e social - exige de nós uma maior motivação no sentido
de ativar a criatividade para mantermos o emprego ou obter um posto nesta
sociedade da exclusão em que vivemos.
Quem percebeu isto, ainda recentemente, foi
o famoso sociólogo do trabalho, o italiano Domenico de Masi. Ele - em seu
famoso livro A Sociedade Pós-Industrial e o Ócio Criativo - associou
essas exigências da nova época ao maior tempo livre de que dispomos por conta
da exclusão promovida pela globalização, alimentada pela revolução tecnológica,
na qual estamos agora até ameaçados da exclusão do pensar...
De Masi percebe o maior número de horas
livres que passaremos a ter e lembra que, em outros tempos, em que isto também
se deu, este tempo livre foi bem aproveitado para o crescimento intelectual e
organizacional do homem. Foi assim, por exemplo, que surgiu a escola. E é
exatamente por meio da escola que devemos conscientizar nossos jovens e futuros
profissionais para que saibam desfrutar do tempo livre para o pensar e o criar.
A criatividade é que nos leva hoje a
buscarmos algo que todas as empresas na sociedade Pós-industrial precisam obter
e que recebe a denominação de inovação. É de Gary Hamel, um dos maiores nomes
da administração moderna, a sentença: “Você não consegue criar mais lucro sem
criar novas receitas. Se quiser gerar riqueza, a empresa tem de inovar”. E
Eduardo Ferraz nos diz: “A velha prática de copiar processos e importar
tecnologia tende a não dar certo com o aprofundamento da globalização. Somente
com produtos e serviços diferenciados é que nossas empresas conseguirão ganhar
os mercados lá fora”.
O Brasil ainda infelizmente padece de um
enorme atraso neste setor. Em relação a inovação tecnológica estamos
engatinhando. Daí a necessidade premente de incentivar a criatividade na
escola, na empresa e na própria administração pública. Para isto, ela se
faz necessária desde a idade mais precoce. Só para se ter uma idéia, em 2001,
as empresas brasileiras obtiveram a concessão de 125 patentes no Escritório de
Patentes e Marcas dos EUA. Nesse mesmo período, a Coréia do Sul obteve 3763
registros e Taiwan 6545.
A inovação baseada nas idéias e na
criatividade não se limita apenas a produtos. É possível também inovar em
diversos campos: desde os processos de fabricação até a relação com os
mercados.
Perguntados sobre como é possível
incentivar o potencial criativo das empresas aos líderes mais criativos e
inovadores da atualidade responderam: “faça da criatividade uma norma” (Craig
Wynnett); “não tenha medo do futuro” (Michael Dell): “combine paciência com
paixão”. (John Talley). Nesta última fórmula está a origem da verdadeira
motivação para buscar a criatividade e chegar a inovação; quando se tem paixão
tem-se motivação, persistência e determinação...
Mas a criatividade, que é muito importante
e necessária hoje para a resolução de problemas, é também de fundamental
importância para organizações e até para nações. Um exemplo disto é o que
retratou não há muito tempo o jornal O Estado de São Paulo, no caderno
“The Wall Street Journal of America” (20-12-02), ao abordar que a Argentina
começa a sair da crise que a abala nos últimos tempos, graças a uma visão
criativa de educadores e pais em uma de suas províncias.
BUENOS AIRES – (...) A crise desenterrou duas qualidades dos argentinos que haviam passado
despercebidas durante épocas melhores: a solidariedade e a criatividade, diz
Jorge Selser, cirurgião do Hospital Argerich. Quando ele não está ajudando a
administrar um refeitório público que alimenta 60 pessoas, Selser desenha
equipamentos médicos que podem substituir importados que hoje estão muito
caros. Ele criou um parafuso para ossos de US$1000 que funciona tão bem quanto
o importado de US$4000.
A criatividade exige, porém, um bom número
de qualidades por parte das empresas e dos profissionais; das escolas e dos
estudantes. Dentre essas qualidades estão o inconformismo, o bom humor e também
uma boa dose de entusiasmo e motivação.
Celso Campos, professor de Marketing da
Fundação Getúlio Vargas, acaba de publicar um livro primoroso, A Organização
Inconformista (Editora Fundação Getúlio Vargas), no qual ele procura
mostrar para as empresas de nosso país qual o caminho para vencer na
economia globalizada. O segredo, segundo Campos, está em um modelo de
organização inspirado no inconformismo e em funcionários necessariamente
inconformistas e criativos.
Para falarmos da persistência que leva a
criatividade e ao sucesso nos tempos pós-modernos, nada melhor do que a
história do fundador de um dos maiores impérios da indústria automobilística
mundial, Soichiro Honda.
Honda investiu tudo o que possuía em uma
pequena oficina. Trabalhou dia e noite, inclusive dormindo na própria oficina.
Para poder continuar nos negócios, empenhou as próprias jóias da esposa. Quando
apresentou o resultado final de seu trabalho a uma grande empresa, disseram-lhe
que seu produto não atendia ao padrão de qualidade exigido. O homem desistiu?
Não!
Voltou à escola por mais dois anos, sendo
vítima da pilhéria dos colegas e de alguns professores que o tachavam de
“visionário”. O homem desanimou? Não! Após dois anos, a empresa que o recusou
finalmente fechou o contrato com ele. Durante a guerra, sua fábrica foi bombardeada
duas vezes, sendo que grande parte dela foi destruída. Motivo para desespero?
Não! Ele reconstruiu a fábrica, que voltou a ser destruída, desta vez por um
terremoto. Mas, ele não desfalece e continua perseverando em seu trabalho! As
dificuldades continuam. Imediatamente após a guerra segue-se uma grande
escassez de gasolina em todo o país e Soichiro Honda não pode sequer sair de
automóvel ou comprar comida para a família. Criativo, ele adapta um pequeno
motor à sua bicicleta e sai às ruas. Os vizinhos ficam maravilhados. Decide
então montar uma fábrica para essa novíssima invenção. Como não tem capital,
resolve pedir ajuda para mais de quinze mil lojas espalhadas pelo país. Como a
idéia é boa, consegue apoio de mais ou menos 5 mil lojas, que lhe adiantam o
capital necessário para a indústria.
Hoje a Honda Corporation é um dos maiores
impérios da indústria automobilística mundial. Tudo porque seu fundador, não se
deixou abater pelos terríveis obstáculos que encontrou.
Voltando a Domenico de Masi, o ócio
criativo é a única forma de produzir idéias geniais e fazer com que essas
idéias fluam através de atividades que consigam unir aprendizagem,
reaprendizagem, trabalho e alegria. Note-se que para De Masi, não pode haver
criatividade em ambientes exclusivamente masculinos. Tal é sua convicção que
ele, ainda recentemente, recusou-se (deixando de ganhar polpudos honorários) a
dar uma conferência na General Motors, nos EUA, ao saber que não haveria uma
única mulher no auditório.
Finalmente para que a criatividade possa se
manifestar com mais eficácia, vale a observação de um dos seus mais importantes
pesquisadores na atualidade, Richard Florida, que nos diz, que tanto cidades
como organizações precisam oferecer condições para que a criatividade aflore
com intensidade. Essas condições segundo Florida são: um clima ou ambiente de
maior liberdade onde exista uma maior compreensão e respeito para com as
diferenças sociais e culturais das pessoas ou trabalhadores criativos. Em
outras palavras: os famosos três “T” que Florida propõe para o êxito da
classe criativa: Tolerância, Tecnologia e Talento.
Para Flórida, a classe criativa, que cresce
de modo veemente, é constituída por todos os tipos de profissionais que são
pagos para pensar e criar. Segundo ele e outras fontes bem atuais, só nos EUA,
encontramos hoje 40 milhões de pessoas fazendo parte da classe criativa.
Para concluir, oferecemos algumas
indicações de criatividade
Indicações para uma atividade criativa
1. Procure viver a vida. Como diz Vinicius
“A vida foi feita para viver”. Os criativos sabem harmonizar vida e trabalho.
2. Procure ler bastante. Como todos somos
“biografáveis”, é útil o confronto com “outras” biografias.
3. Cultive uma vida espiritual. A meditação
deve nos levar também a desenvolver valores lúdicos.
4. Ouça música, uma grande fonte
inspiradora de criatividade. O compositor é um grande observador que nos ensina
a interagir com o mundo e não apenas “ver o mundo passar”.
5. Procure ouvir mais do que falar.
Compartilhar as experiências dos outros é uma grande fonte de criatividade. Se,
utilizando uma ferramenta como alavanca, aumentamos poderosamente nossa
capacidade de erguer pesos, ouvindo alavancamos a criatividade.
Como você se sente
quando você
NÃO É OUVIDO |
É OUVIDO |
Desmotivado |
Fortemente motivado |
Inútil e Tolo |
Valorizado |
Aborrecido |
Motivado |
Diminuído e sem
importância |
Estimulado |
Insignificante |
Especial |
6. Procure assistir a desenhos animados.
Para muitos estudiosos da criatividade, o seu guru é o (infatigável) coiote do
desenho do Bip-Bip.
7. Procure conhecer as conquistas do
pensamento filosófico. Além da valiosa reflexão sobre o homem, elas podem
trazer – por paradoxal que possa parecer – até inspirações de ordem prática.