DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVE: REALIDADE OU
HIPOCRISIA?
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
VERDADE OU MENTIRA?
Danilo di
Giorgi, 15/05/2006
http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=19056&action=reportagem
Assim como manejo florestal, desenvolvimento sustentável é mais um daqueles
termos mágicos, que têm poder de mover muitas pessoas, de fazer dinheiro e
fama, e de ocultar a dura realidade. São, porém, vazios de conteúdo na maior
parte das vezes em que são usados. gDesenvolvimento sustentávelh é oco sempre
que aplicado do ponto de vista de negócios, pois o capitalismo, o modelo
econômico vigente na maior parte do planeta, não é sustentável por definição,
uma vez que exige expansão exponencial contínua, e não há mágica que faça esse
sistema vir um dia a sê-lo.
O termo foi consagrado em 1987 pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, também conhecida como Comissão Brundtland.
Foi definido e é aceito hoje como gaquele [modo de desenvolvimento] que atende
às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações
futuras atenderem às suas próprias necessidadesh.
Muito bem, releia com atenção a definição acima. Agora, a pergunta que coloco é
a seguinte: é possível aplicar esse belo ideal na vida real e na maior parte
dos elementos do cotidiano, sem hipocrisia e de forma integral e ainda assim
evitar um colossal impacto no sistema capitalista?
Vejamos. Primeiro, quando falamos em ggerações futurash, estamos nos referindo
a todas elas, aos tataranetos dos tataranetos dos nossos tataranetos, certo? Estudos
mostram, porém, que o homem já utiliza os recursos naturais oferecidos pela Mãe
Terra num ritmo muito superior à capacidade do planeta de repô-los.
O manejo florestal, já muito debatido neste espaço, é uma das áreas onde o
termo gsustentávelh mais aparece. Nada mais é que uma forma de continuar
destruindo a floresta de maneira mais gaceitávelh. A proposta é mais ou menos a
seguinte: vamos continuar arrancando essas árvores tão lucrativas, mas, como
agora esse papo de ecologia vive atrapalhando nossos negócios, para não ter que
parar de lucrar, contratamos meia dúzia de biólogos e engenheiros florestais
que vão definir parâmetros – nunca devidamente comprovados – que demonstrem o quanto dá para matar da floresta de forma que
ela não sinta tão duramente o impacto.
Estes profissionais gabaritados estarão em nossa folha de pagamentos e, mesmo
que os parâmetros não sejam seguros – e quem afirme que eles são 100%
confiáveis estará faltando com a verdade –, faremos um marketing danado em
torno disso e assim as pessoas podem dormir tranqüilas, com a certeza de
estarem adquirindo um produto gverdeh.
Concorre para o sucesso da estratégia a menção de prazos longos tendo em conta
as nossas vidas, como ciclos de corte de 25, 30 ou 40 anos, os quais, no
entanto, são ínfimos do ponto de vista das espécies florestais e da maturação
dos ecossistemas.
A seguir, transcrevo um parágrafo de um recente gRelatório de Sustentabilidadeh de uma grande empresa do agronegócio, que ilustra bem a idéia central deste artigo:
gA sustentabilidade é um
fator que facilita o acesso ao capital, permite reduzir custos e maximizar
retornos de longo prazo do investimento, previne e reduz riscos, além de
estimular a atração e a permanência de uma força de trabalho motivada, entre
outros aspectos. Esses mesmos elementos contribuem para fortalecer nossa
reputação, credibilidade e imagem, concorrendo assim para manter e aumentar o
valor da Empresa para os acionistas e a sociedade em geralh.
Como é possível claramente constatar, não há nada escondido, está tudo às
claras: a preocupação com o meio ambiente é simplesmente retórica, uma vez que
o capitalismo percebeu que a questão ambiental poderia atrapalhar os negócios. Não
existe a verdadeira compreensão da questão, ou, se existe, as razões para
preservar estão perdendo para as razões para lucrar.
Compreender os porquês da preservação significaria aceitar que não há
possibilidade de compatibilidade entre o nível atual de consumo e a dita sustentabilidade. Se todos na Terra tivessem um padrão de
consumo semelhante ao dos países desenvolvidos, o caos chegaria bem mais rápido
ou, possivelmente, já estaria instalado.
Ainda que as desigualdades mundiais continuem tal como estão (o que parece mais
provável), excetuando-se a ascensão da China, não há recursos suficientes para
alimentar o sistema por muito tempo. Mesmo que todas as empresas adotassem os
mais rigorosos controles das gISOs
14000 da vidah sobre os danos que causam ao meio ambiente. Tal como a floresta,
que viveria alguns anos a mais com o manejo florestal, mas terá morte tão certa
quanto teria sem o manejo, o meio ambiente não pode suportar eternamente um sistema
que tem por prerrogativa consumi-lo até que não reste nada que não possa ser
convertido diretamente em dinheiro – seja madeira, metais, água - ou que não
seja veículo para se fazer dinheiro.
O irônico de tudo isso é perceber que o capitalismo é um sistema auto-destruidor (e estamos falando aqui apenas das questões
ambientais), que ignora este fato dado o seu caráter imediatista.
Mas não se pode perder tempo com questões menores... O
que conta aqui é a multiplicação do o vil metal.
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