Diversidade de espécies arbóreas é alvo de estudo
Jornal da UNICAMP
Campinas, 25 de abril a 1º de maio de 2011, ANO XXV, Nº 491
JEVERSON BARBIERI
Alvo de intensos debates
na literatura, os mecanismos responsáveis pela alta diversidade de espécies arbóreas
em florestas tropicais é um dos assuntos que mais intrigam os pesquisadores que
trabalham com biodiversidade. Os questionamentos acerca da coexistência de um
grande número de espécies variadas em espaços delimitados são uma constante. Na
expectativa de contribuir com o entendimento do processo, a bióloga Carolina Bernucci Virillo passou pouco
mais de três anos na Floresta Ombrófila Densa Atlântica,
localizada no município de Ubatuba, no litoral paulista, pesquisando quatro espécies
de árvores (embiruçu, bacupari, sapopema
e bicuíba). Dentre os inúmeros mecanismos propostos
por diversos autores, Virillo lançou mão de dois
deles: a dependência de densidade e a diferenciação de nichos, principalmente
por apresentarem um relativo suporte empírico já relatado na literatura.
“O objetivo da pesquisa
foi entender porque ocorrem tantas espécies de árvores em um único local, isto é,
porque as espécies que são melhores competidoras não excluem as espécies menos
adaptadas”, afirmou a pesquisadora. Estudos anteriores na área já indicavam a não
ocorrência do que é tratado pelos especialistas como “exclusão competitiva”, já
que em apenas um hectare de floresta podem ser encontradas até 200 espécies diferentes
de árvores. O trabalho resultou na tese de doutorado de Virillo,
orientada pelo professor Flávio Antonio Maes dos
Santos, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.
A escolha por quatro espécies
específicas se deu em razão do foco da pesquisa estar voltado para determinadas
populações e não de comunidades de árvores, onde se consideram todas as espécies
localizadas em espaço geográfico. Optou-se ainda por uma abordagem dinâmica,
considerando os eventos de mortalidade e recrutamento das populações, o que pode
fornecer informações mais completas do que quando se considera somente o número
de plantas de cada espécie em determinada área.
Com relação aos mecanismos
utilizados, Virillo explicou que “dependência de
densidade” significa observar ao longo do tempo a taxa de mortalidade de uma
espécie quando os indivíduos da mesma estão muito próximos, seja por competição
ou por atração de pragas. “Nessa situação de alta densidade de uma mesma espécie
ocorre maior mortalidade, abrindo espaço para a chegada de outras espécies”,
observou. No que diz respeito ao outro mecanismo, o de “diferenciação de nichos”,
parte-se de um pressuposto que cada espécie terá um habitat preferencial, onde
se desenvolverá melhor. O local de pesquisa “a floresta tropical” é um ambiente
muito heterogêneo em vários aspectos. Por exemplo, em relação a condições
topográficas, há áreas de topo de morro, encosta muito íngreme, e vales
associados a cursos d’água. Portanto, se cada planta se associar
a um habitat específico, seguramente surgirão muitas espécies.
O primeiro capítulo da
tese foi dedicado ao estudo da dependência de densidade. A bióloga contou que
encontrou evidência desse mecanismo quando as densidades são realmente altas. “Em
baixas densidades não encontrei evidências significativas da ocorrência da
dependência de densidade”, afirmou. Na opinião da pesquisadora, esse pode ser
um mecanismo importante para a manutenção da diversidade em florestas
tropicais, mas certamente não é o único.
Outros três capítulos da
pesquisa foram focados no mecanismo de diferenciação de nichos, nos quais a
autora avaliou duas características de habitat existentes na floresta, que são topografia
e condição de luz. No caso específico da topografia, acrescentou a pesquisadora,
ela está indiretamente relacionada com várias outras características do
ambiente. Por exemplo, um solo em uma área de vale certamente será mais úmido, consequentemente, isso afetará a disponibilidade de
nutrientes para as plantas naquele local. Com relação à luz, é feita uma medição
da porcentagem de abertura do dossel (“teto” da floresta). “Fazemos uma
fotografia com uma lente hemisférica (também chamada de olho de peixe) do solo para
cima. Esta é analisada com um software específico e então conhecemos a
porcentagem de luz que entra nos diferentes ambientes da floresta?”, explicou.
Essa caracterização do
ambiente em relação à topografia e a abertura de dossel foi realizada com o
intuito de checar se as variáveis demográficas tinham associação com as variáveis
ambientais, o que seriam evidências da preferência de habitat pelas espécies. O
resultado apontou que foram poucas as relações significativas para as variáveis
dinâmicas como mortalidade e recrutamento, porém, para três das quatro espécies
houve relação do número de plantas encontrado com a topografia. Já para a
abertura do dossel, as evidências encontradas foram bastante pontuais, não
produzindo um padrão indicativo de que as plantas se associam por locais mais
ou menos iluminados. As fotos, segundo a pesquisadora, foram feitas a cada
Virillo dedicou os dois capítulos finais para avaliar a
fenologia reprodutiva (produção de flores e frutos) e o crescimento das árvores
adultas, com o objetivo de verificar se a reprodução ou o
crescimento das plantas estavam associados com condições de habitat
específicas. Para isso, utilizou-se das cotas de 100 e
Publicação
Tese: Influência do microhabitat e da densidade e distância de vizinhos na
demografia de populações de espécies arbóreas
Autora: Carolina Bernucci Virillo
Orientador: Flávio Antonio
Maes dos Santos
Unidade: Instituto de
Biologia (IB)
Fonte de financiamento: Fapesp
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