http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=19056&action=reportagem
Assim como manejo florestal,
desenvolvimento sustentável é mais um daqueles termos mágicos, que têm poder de
mover muitas pessoas, de fazer dinheiro e fama, e de ocultar a dura realidade.
São, porém, vazios de conteúdo na maior parte das vezes em que são usados.
gDesenvolvimento sustentávelh é oco sempre que aplicado do ponto de vista de
negócios, pois o capitalismo, o modelo econômico vigente na maior parte do
planeta, não é sustentável por definição, uma vez que exige expansão
exponencial contínua, e não há mágica que faça esse sistema vir um dia a sê-lo.
O termo foi consagrado em 1987 pela
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como
Comissão Brundtland. Foi definido e é aceito hoje
como gaquele [modo de desenvolvimento] que atende às necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas
próprias necessidadesh.
Muito bem, releia com atenção a
definição acima. Agora, a pergunta que coloco é a seguinte: é possível aplicar
esse belo ideal na vida real e na maior parte dos elementos do cotidiano, sem
hipocrisia e de forma integral e ainda assim evitar um colossal impacto no
sistema capitalista?
Vejamos. Primeiro, quando falamos em
ggerações futurash, estamos nos referindo a todas elas, aos tataranetos
dos tataranetos dos nossos tataranetos, certo? Estudos mostram, porém,
que o homem já utiliza os recursos naturais oferecidos pela Mãe Terra num ritmo
muito superior à capacidade do planeta de repô-los.
O manejo florestal, já muito
debatido neste espaço, é uma das áreas onde o termo gsustentávelh mais aparece.
Nada mais é que uma forma de continuar destruindo a floresta de maneira mais
gaceitávelh. A proposta é mais ou menos a seguinte: vamos continuar arrancando
essas árvores tão lucrativas, mas, como agora esse papo de ecologia vive
atrapalhando nossos negócios, para não ter que parar de lucrar, contratamos
meia dúzia de biólogos e engenheiros florestais que vão definir parâmetros –
nunca devidamente comprovados – que demonstrem o quanto
dá para matar da floresta de forma que ela não sinta tão duramente o impacto.
Estes profissionais gabaritados
estarão em nossa folha de pagamentos e, mesmo que os parâmetros não sejam
seguros – e quem afirme que eles são 100% confiáveis estará faltando com a
verdade –, faremos um marketing danado em torno disso e assim as pessoas podem
dormir tranqüilas, com a certeza de estarem adquirindo um produto gverdeh.
Concorre para o sucesso da
estratégia a menção de prazos longos tendo em conta as nossas vidas, como
ciclos de corte de 25, 30 ou 40 anos, os quais, no entanto, são ínfimos do
ponto de vista das espécies florestais e da maturação dos ecossistemas.
A seguir, transcrevo um parágrafo de
um recente gRelatório de Sustentabilidadeh de uma
grande empresa do agronegócio, que ilustra bem a
idéia central deste artigo:
gA sustentabilidade
é um fator que facilita o acesso ao capital, permite reduzir custos e maximizar
retornos de longo prazo do investimento, previne e reduz riscos, além de
estimular a atração e a permanência de uma força de trabalho motivada, entre
outros aspectos. Esses mesmos elementos contribuem para fortalecer nossa
reputação, credibilidade e imagem, concorrendo assim para manter e aumentar o
valor da Empresa para os acionistas e a sociedade em geralh.
Como é possível claramente
constatar, não há nada escondido, está tudo às claras: a preocupação com o meio
ambiente é simplesmente retórica, uma vez que o capitalismo percebeu que a
questão ambiental poderia atrapalhar os negócios. Não existe a verdadeira
compreensão da questão, ou, se existe, as razões para preservar estão perdendo
para as razões para lucrar.
Compreender os porquês da
preservação significaria aceitar que não há possibilidade de compatibilidade
entre o nível atual de consumo e a dita sustentabilidade.
Se todos na Terra tivessem um padrão de consumo semelhante ao dos países
desenvolvidos, o caos chegaria bem mais rápido ou, possivelmente, já estaria
instalado.
Ainda que as desigualdades mundiais
continuem tal como estão (o que parece mais provável), excetuando-se a ascensão
da China, não há recursos suficientes para alimentar o sistema por muito tempo.
Mesmo que todas as empresas adotassem os mais rigorosos controles das gISOs 14000 da vidah sobre os danos
que causam ao meio ambiente. Tal como a floresta, que viveria alguns anos a
mais com o manejo florestal, mas terá morte tão certa quanto teria sem o
manejo, o meio ambiente não pode suportar eternamente um sistema que tem por
prerrogativa consumi-lo até que não reste nada que não possa ser convertido
diretamente em dinheiro – seja madeira, metais, água - ou que não seja veículo
para se fazer dinheiro.
O irônico de tudo isso é perceber
que o capitalismo é um sistema auto-destruidor (e
estamos falando aqui apenas das questões ambientais), que ignora este fato dado
o seu caráter imediatista. Mas não se pode perder tempo com questões menores... O que conta aqui é
a multiplicação do o vil metal.