O hidrogênio como opção energética |
por Gerhardt Ett |
Por se tratar de um recurso não renovável, seu alto valor de mercado e a diminuição das reservas mundiais, o petróleo tende a perder importância como fonte geradora de energia. Esses fatores são mais que suficientes para justificar investimentos em pesquisas que possam indicar fontes substitutas e que gerem um impacto ambiental menos ruidoso, pois, como se sabe, os gases resultantes da queima de petróleo são altamente poluentes. A utilização do hidrogênio vem sendo apontada por pesquisadores do mundo inteiro como uma das alternativas mais viáveis.
Ao ser usado como fonte de energia numa Célula a Combustível (CC), o hidrogênio libera energia e não produz poluentes. A reação química resultante da operação gera, além de maior quantidade de energia (em comparação com o petróleo), calor e vapor de água pura. Outra vantagem é que o hidrogênio pode ser obtido a partir da eletrólise da água, da reforma-vapor de hidrocarbonetos leves (cadeias carbônicas situadas entre o metano e a nafta), gaseificação de resíduos agrícolas, dissociação do metanol, etanol e do gás natural.
Em regiões onde não existe rede elétrica, é possível produzir energia através de células fotovoltáicas, energia eólica, pequenas centrais elétricas (PCH's), ondas do mar e uma infinidade de outras fontes não constantes. A energia obtida por esses meios e aplicada em eletrolizadores produziria hidrogênio de alta pureza que, uma vez armazenado, poderia ser convertido em energia elétrica através das CCs de forma constante.
O início das pesquisas de Células a Combustível teve início com Sir William Grovem, há mais de um século. Com o grande desenvolvimento na área de materiais nos últimos 15 anos, essa tecnologia, associada à crescente exigência de baixo impacto ambiental, tornou-se muito promissora. Em médio prazo, ela representa uma alternativa tanto para motores a combustão (unidades móveis), como para geradores de energia de médio porte (100kW) e até em plantas de alguns MW de potência (unidades estacionárias).
·
O que são Células a Combustível?As CCs são baterias (pilhas) que convertem energia química diretamente em energia elétrica e térmica. Elas possuem uma operação contínua graças à alimentação constante de um combustível. A conversão ocorre por meio de duas reações químicas parciais em dois eletrodos separados por um eletrólito apropriado: a oxidação de um combustível no ânodo e a redução de um oxidante no cátodo, indicadas nas reações (1), (2) e (3):
ânodo: H
Escolhendo-se, por exemplo, o hidrogênio como combustível e o oxigênio como oxidante, tem-se na denominada célula ácida a formação de água e a produção de calor, além da liberação de elétrons livres, que podem gerar trabalho elétrico. Um esquema simplificado de uma CC ácida é apresentado no final desta página, na figura (1)
Os prótons produzidos na reação anódica são conduzidos pelo eletrólito até o cátodo, onde se ligam aos ânions O
2-, formando água. Diferentemente dos motores a combustão, que têm sua eficiência teórica (máxima) determinada pelo ciclo de Carnot, a eficiência teórica das CCs é dada pelo quociente entre a energia livre de reação D Gr e a entalpia da reação D Hr segundo a equação (4).h eletroquímico = D Gr/D Hr (4)
A eficiência dada pela equação (4) tem uma fraca dependência da temperatura quando comparada à dada pelo ciclo de Carnot. Assim, as CCs possibilitam a obtenção de altas eficiências, ou seja, um melhor aproveitamento do combustível, mesmo e especialmente em baixas temperaturas. Na prática, obtêm-se eficiências de 55% a 60% para o sistema de CC global. Deve-se, porém, salientar que instalações convencionais modernas, com turbinas a gás otimizadas, também já atingem valores de eficiência de 53 %. Por isso, tem-se que esse indicador, isoladamente, não é a principal vantagem de sistemas de geração de energia com CC, mas sim o seu inerente fator ecológico, além de serem silenciosos, compactos e de fácil manutenção. Por estas razões, vislumbra-se um mercado para sistemas de CC para geração de energia com aplicações localizadas de até alguns MW de potência, como, por exemplo, em hospitais, condomínios residenciais, repartições públicas, etc.
· Tipos de Células a Combustível
Existem vários tipos de CCs, classificadas segundo o tipo de eletrólito que utilizam e, conseqüentemente, a sua temperatura de operação. A tabela (1) relaciona os tipos desenvolvidos até o presente e suas características principais, vantagens, desvantagens e aplicações mais relevantes. Os modelos de células, classificados segundo a sua temperatura de operação, envolvem materiais constituintes distintos e técnicas de construção diversas.
Tabela 1 – Tipos, características e aplicações das CCs | |||||
Tipo (*) |
Eletrólito |
Faixa de temp. ° C |
Vantagens |
Desvantagens |
Aplicações |
PEMFC |
Polímero |
20-120 |
Alta densidade de potência |
Custo da membrana e catalisador |
Veículos |
PAFC |
H3PO3 |
160-220 |
Maior desenvolvimento |
Controle da porosidade do eletrodo |
Unidades |
MCFC |
Carbonatos fundidos |
550-660 |
Tolerância a CO/CO2 |
Corrosão do cátodo |
Unidades estacionárias |
SOFC |
ZrO2 (zircônia) |
850-1000 |
Alta eficiência |
Problemas de materiais |
Unidades estacionárias |
(*)
PEMFC (Proton Exchange Membran Fuel Cell), PAFC (Phosphoric Acid Fuel Cell), MCFC (Molten Carbonate Fuel Cell) e SOFC (Solid Oxid Fuel Cell)
As vantagens das CCs aumentam quando se tem por finalidade a geração de energia móvel, caso das células de baixa temperatura, onde a sua eficiência fica bem acima da dos motores convencionais. A aplicação deste tipo de CC é, então, a tração automotiva. Todas as montadoras de veículos estão desenvolvendo projetos nessa área e as que mais têm se destacado são: Ford, DaimlerChrysler, GM, BMW, Honda, Daihatsu, Nissan e Toyota.
A tração elétrica por esse meio, contudo, necessita alcançar os seguintes objetivos de desenvolvimento para tornar economicamente viável sua aplicação em veículos de passeio, utilitários e ônibus:
a) atividade catalítica suficientemente alta dos eletrocatalisadores anódicos para que se obtenham densidades de potência em torno de 300 mW/cm2;
b) grau de eficiência energética em torno de 60%. (motor diesel: 30%, Ciclo Otto 20%);
c) temperatura de trabalho suficientemente alta (pelo menos 130ºC ) como pré-requisito de um sistema de refrigeração aceitável do ponto de vista de custo inicial e,
d) construção e custo operacional baixo, em torno de 200US$/kW para a célula e equipamento periféricos.