INTERLOCUTIO
Interlocutio. Do latim, do verbo interloquor: conversar com
alguém, ter um interlocutor.
Interlocutio é
o movimento que me impulsiona em meio à solidão das multidões. Passos de gente
que vai e vem, carregando histórias de vida fascinantes
e impenetráveis. Olhares que quase não se entreolham,
que não demonstram interesse em transpor as gigantescas barreiras interpessoais da cidade que engole a tudo e a todos.
No metrô abarrotado, nunca pensei que fosse tão real a
sensação de solitude em meio a tantas pessoas. Uma
sensação real, penetrante e ameaçadora. Caminho entre corpos de olhares
amorfos, distantes em seus problemas e angústias. Interlocutio.
Ouso adivinhar o que lhes corre pelo pensamento. Medo, talvez. Quem sabe
indiferença? Sonhos, visões, vontade de viver maior que a certeza da morte que
ronda. Serão as mesmas preocupações que tiram o meu sono nos melhores momentos
da madrugada? Nunca irei saber. Não há com quem compartilhar minhas
inquietações e curiosidade sem fim.
A solidão não poupa dias, capacidade física,
disposição espiritual e estado de alma. Ela é um ente invasivo,
que toma posse de cada pedaço do cerne vivo.
A alma viaja na velocidade do pensamento. A solidão
duplica essa velocidade.
Os passos vêm e vão, carregando tantas histórias. Interlocutio. Dialogo com minhas próprias histórias,
fragmentadas em tantos dissabores, aprendizados, decepções e vitórias. Dialogo com
minha anima, passiva e latente. Temerosa
para se manifestar e derrubar meu animus racional. A solidão é maior que a racionalidade?
Interlocutio. Mais passos. Mais inquietações.
No meio do vagão de metrô lotado, um menino, solto,
sem medo de mostrar um sorriso tão grande quanto sua ingenuidade infantil. Sem
medo de ser livre, sem medo de ser só. Sem medo de ser tão-somente um menino. A
solidão não o põe em grilhões, não o trancafia em traumas, não o faz virar um
notívago em busca de respostas para a existência. Sua solidão o faz ser mais
forte. A minha me torna mais fraco, mais dependente. Mais doente. Mais carente
de mim mesmo.
O
menino,
tão livre no vagão do metrô,
manteve-me preso por uma eternidade.
Interlocutio...