Poluição ambiental por metais
Bruna Kawai, Caroline
Urias, Ludmila Leonel, Muriel Almado
Acredita-se que os metais
talvez sejam os agentes tóxicos mais conhecidos pelo homem. Há aproximadamente
2.000 anos a.C., grandes quantidades de chumbo eram
obtidas de minérios, como subproduto da fusão da prata e isso provavelmente
tenha sido o início da utilização desse metal pelo homem.
O elevado desenvolvimento
industrial ocorrido nas últimas décadas, tem sido um
dos principais responsáveis pela contaminação de nossas águas e solos, seja
pela negligência no seu tratamento antes de despejá-las nos rios ou por
acidentes e descuidos cada vez mais freqüentes, que propiciam o lançamento de
muitos poluentes nos ambientes aquáticos.
Dentre estes poluentes
podemos citar os metais pesados, outro grande problema para a saúde humana.
Metais pesados são elementos químicos metálicos, de peso atômico relativamente alto, que em concentrações elevadas são muito tóxicos
á vida. As atividades industriais, têm introduzido
metais pesados nas águas numa quantidade muito maior do que aquela que seria
natural, causando grandes poluições. Para se ter uma idéia disso, basta lembrar
que os metais pesados fazem parte dos despejos de grandes indústrias, em todos
os países do mundo. A ação dos metais pesados na saúde humana é muito
diversificada e profunda. Entre os mais perigosos estão o mercúrio, o cádmio
(encontrado em baterias de celulares), cromo e o chumbo. Os metais pesados
diferem de outros agentes tóxicos porque não são sintetizados nem destruídos
pelo homem. A atividade industrial diminui significativamente a permanência
desses metais nos minérios, bem como a produção de novos compostos, além de
alterar a distribuição desses elementos no planeta.
A presença de metais muitas
vezes está associada à localização de regiões agrícolas e industriais;
proibindo a produção de alimentos em solos contaminados com metais pesados.
Todas as formas de vida são afetadas pela presença de metais dependendo da dose
e da forma química. Muitos metais são essenciais para o crescimento de todos os
tipos de organismos, desde as bactéérias até mesmo o
ser humano, mas eles são requeridos em baixas concentrações e podem danificar
sistemas biológicos.
Classificação dos metais
Ocorrência dos metais pesados
Metal |
Fontes Principais |
Chumbo |
- indústria de baterias automotivas, chapas de metal
semi-acabado, canos de metal, cable sheating, aditivos em gasolina, munição. |
Cádmio |
- fundição e refinação de metais como zinco, chumbo e cobre |
Mercúrio |
- mineração e o uso de derivados na indústria e na agricultura |
Cromo |
- curtição de couros, galvanoplastias. |
Zinco |
-metalurgia (fundição e refinação), indústrias recicladoras de chumbo. |
Efeitos
dos metais pesados
Metal |
Chumbo (Pb) |
Mercúrio (Hg) |
Cádmio (Cd) |
Efeito na saúde |
Provoca alterações no sangue e na urina, ocasionando doenças
graves e em alguns casos, invalidez total e irreversível. Ocasiona problemas
respiratórios. Provoca alterações renais e neurológicas. As principais
alterações são no desenvolvimento cerebral das crianças, podendo provocar o
idiotismo. Apesar de menos agressivo na água do que no
ar, depositado nos ossos, musculaturas, nervos e rins, provoca estado de
agitação, epilepsia, tremores, perda da capacidade intelectual e anemia. |
Afeta o sistema nervoso central, provocando lesões no córtex e
na capa granular do cérebro. Alterações em órgãos do sistema cardiovascular. Acumula-se no sistema nervoso,
principalmente no cérebro, medula e rins. Provoca perda de
coordenação dos movimentos, dificuldade no falar, comer
e ouvir, além de atrofia e lesões renais, urogenital e endócrino. |
Provoca alterações no sistema nervoso
central e no sistema respiratório. Compromete ossos e rins. Ocasiona edema pulmonar, câncer pulmonar e irritação no trato
respiratório. Analogamente ao
mercúrio afeta o sistema nervoso e os rins. Provoca perda de
olfato, formação de um anel amarelo no colo dos dentes, redução na produção
de glóbulos vermelhos e remoção de cálcio dos ossos. |
Efeito no meio ambiente |
Polui o solo, a água e o ar e desta forma contamina os organismos
vivos, devido a seu efeito bioacumulativo, em toda a cadeia alimentar (trófica). |
É absorvido pelos organismos vivos e vai-se acumulando de
forma contínua durante toda a vida. Pela contaminação da água ou do solo,
entra com facilidade na cadeia alimentar, representando um perigo para o
homem que se alimenta de peixes ou aves dessas áreas. |
Contamina o solo, o ar, a água e o lençol freático. É bioacumulativo em toda a cadeia
alimentar (trófica), provocando intoxicação nos
seres humanos quando
ingerirem peixes contaminados com cádmio. |
Os efeitos tóxicos dos metais sempre
foram considerados como eventos de curto prazo, agudos e evidentes, como anúria e diarréia sanguinolenta, decorrentes da ingestão de
mercúrio. Atualmente, ocorrências a médio e longo prazo são observadas e as
relações causa-efeito são pouco evidentes e quase sempre subclínicas.
Geralmente esses efeitos são difíceis de
serem distinguidos e perdem em especificidade, pois podem ser provocados por
outras substâncias tóxicas ou por interações entre esses agentes químicos.
A manifestação dos efeitos tóxicos está
associada á dose e pode distribuir-se por todo o organismo, afetando vários
órgãos, alterando os processos bioquímicos, organelas e membranas celulares.
Acredita-se que pessoas idosas e crianç as sejam mais susceptíveis às substâncias tóxicas.
As principais fontes de exposição aos metais tóxicos são os alimentos,
observando-se um elevado índice de absorção gastro-intestinal.
A mídia escrita e falada tem noticiado a contaminação de adultos, crianças, lotes e vivendas
residenciais, com metais pesados, principalmente por chumbo e mercúrio.
Contudo, a maioria da população não tem informações precisas sobre os riscos e
as conseqüências da contaminação por esses metais para a saúde humana.
O caso de Bauru-SP, é um dos exemplos dessa contaminação. A Indústria de
Acumuladores Ajax, uma das maiores fábricas de
baterias automotivas do país localizada no km112 da Rodovia Bauru-Jaú,
contaminou com chumbo expelido pelas suas chaminés 113 crianças, sendo
encontrados índices superiores a 10 miligramas/decilitro.
Foram constatados ainda a
contaminação de animais, leite, ovos e outros produtos agrícolas, resultando em
um enorme prejuízo para os proprietários. Um dos casos mais interessantes foi o
de uma criança de 10 anos, moradora de um Núcleo Habitacional localizado
próximo à fonte poluidora. Desde os 7 meses de idade
sofria de diarrpeia e de deficiência mental. Somente
após suspeitas dessa contaminação, em 1999, quando amostras do seu sangue foram
enviadas a dois centros toxicológicos nos Estados Unidos, é que foi constatada
a intoxicação por chumbo, urânio, alumínio e cádmio.
A cidade de Paulínia, em SP
e o bairro Vila Carioca também foram contaminados pela Shell Química do Brasil.
Em Paulínia, dos 166 moradores submetidos a exames, 53% apresentaram
contaminação crônica e 56% das crianças revelaram altos índices de cobre,
zinco, alumínio, cádmio, arsênico e manganês. Em adição observou-se também, a
incidência de tumores hepáticos e de tiróide, alterações neurológicas,
dermatoses, rinites alérgicas, disfunções gastro-intestinais,
pulmonares e hepáticas.
Dos 2,9 milhões de
toneladas de resíduos industriais perigosos gerados anualmente no Brasil,
somente 600 mil toneladas recebem tratamento adequado, conforme estimativa da
Associação Brasileira de Empresas de Tratamento, Recuperação e Disposição de
Resíduos Especiais (ABETRE). Os 78% restantes são depositados indevidamente em
lixões, sem qualquer tipo de tratamento.
Recentemente a companhia Ingá,
indústria de zinco, situada a
Como a placenta é permeável
a esses metais, mesmo ainda no útero materno as crianças podem ser atingidas,
nascendo já contaminadas. Em Cubatão, baixada Santista, Estada de São Paulo,
houve há cerca de dez anos, denúncias de um alto índice de anencefalia
(ausência de cérebro) em recém-nascidos e este problema estaria relacionado com
a emissão industrial de metais pesados, notadamente o chumbo.
As pesquisas na época não
chegaram a ser conclusivas, mas a suspeita permanece até hoje, tanto que se
teme que fenômeno semelhante volte a ocorrer em outros pólos industriais, como
em Araucária, no Estado do Paraná.
Exemplos de processos utilizados para redução da
contaminação
- Monitorização
da contaminação de um curso de água natural por metais pesados através de
musgos aquáticos: A
contaminação por metais pesados de aqüíferos superficiais pode ser avaliada
através da utilização de musgos como biomonitores,
dadas as capacidades de acumulação e perda de metais
reveladas por estes organismos em resposta a variações na concentração dos
mesmos elementos em cursos de água. Com este trabalho, que integrou o projeto
com financiamento europeu com sigla RIVERMOD, pretende-se avaliar a contaminaçção de um curso de água natural da região sul do
país em que é lançado um efluente industrial. Para isso, o trabalho se faz com
recurso a transplantes de Fontinalis antypiretica, uma espécie de musgo aquático abundante
em alguns rios e ribeiros do país, mas que não está presente no rio
- Dupla de
microorganismos pode livrar os rios de metais pesados: Um insólito casal, formado por uma
bactéria e uma levedura, pode facilitar a descontaminação
de rios, lagos e ribeirões brasileiros que “adoeceram” gravemente por causa da
poluição. O “casal”, que cresce junto numa relação simbiótica,
é capaz de separar metais pesados (como mercúrio, chumbo) da água, livrando os
rios da contaminação causada por resíduos industriais e até esgoto doméstico.
A associação dos
microorganismos está em estudos no Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec) e Universidade Católica do Distrito Federal, com
recursos dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e de Minas e
Energia.
O trabalho, desenvolvido
por Patrícia Pimentel, é acompanhado de perto pelo especialista em prospecção
do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Alfred Leroy Trujillo. “Gastei boa parte de minha vida profissional
procurando por esse microorganismo”, empolga-se Alfred. Ele conta que a
associação entre bactérias e leveduras capazes de garantir a precipitação de
metais pesados era desconhecida. “Sabíamos que algas são capazes de fazer, em
parte, esse trabalho, mas a surpresa é descobrir uma bactéria que se une a uma
levedura para fazê-lo”, supreende-se. Alfred comenta
que a associação de microorganismos foi isolada no Córrego Rico, em Paracatu
(MG). O projeto, agora, é garantir a reprodução do “casal” em escala
industrial, para utilizá-lo em outros mananciais contaminados por metais
pesados. “O microorganismo e a levedura são capazes de precipitar os metais
pesados, separando-os da água", explica o especialista.
Se a reprodução em grande
escala for possível e as pesquisas seguirem o rumo esperado, os microorganismos
poderão ser utilizados na indústria, para descontaminar
esgotos antes de despejá-los nos rios.
Outra possibilidade é permitir
a utilização comercial dos metais que estão na água sob a forma líquida. O
“casal” é capaz de alterar o estado físico desses mineriais,
tranformando-os em sólidos.