Paraná - AEN Agência Estadual de Notícias, 17/02/2005 -
Notícias do Dia/Agricultura
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Paraná amplia debate sobre os riscos dos transgênicos
O governador Roberto Requião afirmou nesta quarta-feira (16), durante o
encerramento do 1º Encontro Técnico de Soja Pura do Paraná, que manter a
soberania sobre a multiplicidade das sementes desenvolvidas pelos produtores
brasileiros é fundamental para a independência do Estado e do país.
"A soja transgênica representa a dominação dos nossos agricultores. Nossa
reação contra ela no Paraná não é apenas contra o monopólio da Monsanto mas
também para que possamos, progressivamente, evidenciar aos consumidores a
qualidade do que é produzido e exportado pelos produtores paranaense",
explicou.
O governador também lembrou que a soja transgênica produzida pelos agricultores
dos Estados Unidos vem, sistematicamente, perdendo espaço no mercado
internacional, em especial nos países da Europa. "Eles exportavam 16
milhões de toneladas e hoje não ultrapassam 9 milhões. Nós vamos crescer nesse
vácuo deixado pelo americanos porque temos qualidade".
Requião também lembrou que a produtividade da soja convencional cultivada no
Estado é maior que a da geneticamente modificada. "Se a produtividade da
soja transgênica fosse realmente fantástica, poderíamos até pensar em
plantá-la, mas a produtividade paranaense é uma vez e meia maior que a
americana e duas vezes superior à do Rio Grande do Sul", comparou.
Painéis – O 1º Encontro Técnico de Soja Pura do Paraná, organizado pelo governo
do Estado, foi aberto pelo vice-governador e secretário da Agricultura e do
Abastecimento, Orlando Pessuti. O objetivo foi ampliar os debates, junto aos
técnicos das Secretarias de Estado, sobre os riscos da soja transgênica.
Pessuti destacou que a postura de precaução adotada pelo governo do Paraná.
"Estamos apontado, de forma incansável, os riscos que agricultores estão
correndo diante de possibilidade de um lucro econômico imediato, sem antes
questionar e obter respostas mais seguras quanto aos possíveis danos que a soja
transgênica pode trazer ao meio ambiente e para a saúde humana", lembrou.
Também participaram do encontro o procurador de Justiça Saint-Clair Honorato
Santos; o secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Luiz Eduardo Cheida;
o delegado do Ministério da Agricultura no Paraná Valmir Kovaleski de Souza; o
professor Miguel Pedro Guerra, da UFSC; o representante da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) Silvio Valle; a advogada e consultora Andréa Lazzarini; o
professor e economista Victor Pelaez Alvarez, da UFPR; e o economista Jean Marc
Von der Werd.
Pesquisas - Segundo o professor Miguel Guerra, quando a soja transgênica foi
introduzida no Brasil, há menos de uma década, trouxe junto um conceito não
oficial de que o produto era adaptado às condições ambientais e de que seu
manejo seria mais econômico. "Porém, ao longo dos anos, o herbicida
indicado para o controle de pragas e doenças da soja geneticamente modificada
passou a apresentar cada vez menos resistência", afirmou. "É uma
constatação que vem comprovar a falta de pesquisa e de experimentos sérios
sobre o assunto".
O pesquisador Silvio Valle, da Fiocruz, uma das mais respeitadas instituições
de pesquisas no Brasil e no exterior, também alertou sobre a falta de segurança
nas pesquisas realizadas com a soja transgênica em outros países. Citou o caso
de estudos realizados por laboratórios privados norte-americanos e que deixam
muitas dúvidas.
Já o professor Victor Pelaes Alvarez destacou o impacto negativo do cultivo da
soja transgênica e o aumento no uso de herbicidas. Ele apresentou diversos
trabalhos científicos que mostram as vantagens da soja convencional.
Destacou a possibilidade de o Paraná utilizar a soja convencional e orgânica
como vantagem competitiva no mercado, por se tratar de um produto diferenciado.
O economista Jean Marc Von der Werd, da Assessoria e Serviço a Projetos em
Agricultura Alternativa, questionou a percepção dos agricultores quanto às
vantagens ou desvantagens de se plantar transgênicos. Disse que a única fórmula
para convencer o produtor é mostrar os efeitos do ponto de vista econômicos e
riscos para o bolso dele.
Biossegurança - A advogada e consultora Andréa Lazzarini Salazar defendeu a
rotulagem dos produtos transgênicos, afirmando que é um direito do consumidor e
necessário para a questão da saúde publica. Também criticou a comissão técnica de
Biossegurança, ao afirmar que ela é a primeira a não querer investigações
científicas sobre o tema.
"Infelizmente, Medidas Provisórias driblam a Justiça Federal para permitir
o plantio de soja transgênica no país", afirmou. Andréa também defendeu um
maior espaço na imprensa para um debate democrático sobre as vantagens ou não
da transgenia.
"Em 1999, 70% das matérias relacionadas sobre o assunto continham
posicionamento crítico. Em 2002, apenas 20%. Hoje, menos de 10% manifestam
algum posicionamento. Felizmente, o governo do Paraná dá um exemplo ao país ao
colocar o assunto de forma mais abrangente", concluiu.