ASPECTOS TÉCNICOS DA PERÍCIA AMBIENTAL
http://www.gpca.com.br/gil/art94.htm
Compilado por Gil Portugal
Nas últimas
décadas a preocupação com o meio ambiente tem aumentado, não só a nível mundial mas também no Brasil. Para ser mais breve, basta citar o
relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Nosso
Futuro Comum -, de 1987 e a Agenda 21, elaborada pela Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992. Nestes documentos estão expressadas as preocupações mundiais, bem como as
nossas. No Brasil afora o interesse governamental, contamos ainda com a
preocupação civil em geral e em especial das organizações não-governamentais (ONGs). Pela parte governamental
temos em vários estados, por exemplo: os Promotores de Meio Ambiente e as
Delegacias Especiais de Meio Ambiente. Assim sendo, cabe aos Institutos de
Criminalística (ou correspondentes) preparar devidamente seus Peritos para
elaborarem Laudos Periciais na Área Ambiental. Não se pode deixar de considerar
que o meio ambiente é composto de fatores sócio-econômicos (cultura, religião,
nível social, raça, etc.), fatores abióticos (clima, hidrologia, geologia, geomorfologia, etc.) e fatores bióticos (microorganismos,
flora e fauna). De um modo geral, o Perito atua mais nos fatores abióticos e bióticos,
entretanto, em alguns casos, os fatores sócio-econômicos podem desempenhar
papel preponderante.
SEQÜÊNCIA
NATURAL PARA CONFECÇÃO DE LAUDOS DE MEIO AMBIENTE
Esta seqüência
a ser descrita trata-se evidentemente de um caso hipotético, na realidade, na
maioria dos casos não se tem ou não são necessários todos os elementos abaixo
listados. Para cada caso específico são importantes os itens mais relacionados
com o problema ambiental em estudo.
1. EXAME
DO LOCAL
1.1. Localização
da Área
Plotar
a área a ser periciada mapograficamente
e em escala(s) compatível(s). Utilizar preferencialmente as coordenadas geográficas
em UTM.
1.2. Situação
Legal da Área
Verificar
se a área é pública ou privada, a qual unidade(s) da federação pertence. Descrever
sucintamente a que se destina e qual o seu uso atual.
1.3. Clima
Realizar
o levantamento climatológico regional.
1.4. Recursos
Hídricos
Inventariar
os recursos hídricos superficiais e subterrâneos e mapear os corpos d’água.
1.5. Geomorfologia e Geologia
Descrever
o relevo e relacionar os recursos minerais.
1.6. Solos
Mapear os
solos, com considerações sobre a pedologia e a edafologia.
1.7.Vegetação
Descrever
a mapear as principais formas de vegetação. Listar as plantas, principalmente
as de interesse econômico. Constatar a ocorrência de espécies raras ou endêmicas.
1.8. Fauna
Levantar
principalmente os vertebrados, dando ênfase às espécies endêmicas, raras,
migratórias e cinergéticas.
1.9. Ecossistemas
Identificar
e descrever os principais ecossistemas da área, no seus
componentes abióticos e bióticos.
1.10. Áreas
de interesse histórico ou cultural
Listar e
descrever locais de interesse histórico, culturais e jazidas fossilíferas que estejam num raio de
1.11. Área
de Preservação
Constatar
se o local descrito está inserido em área protegida por lei (Parques
Nacional ou Estadual, Estação Ecológica, Reserva Biológica, etc.).
1.12. Infra-estruturas
Descrever
as infra-estruturas existentes no local (núcleo habitacional, telefonia,
estrada, cooperativas, etc.).
1.13. Atividades
previstas, ocorridas ou existentes na área
Relatar
as tecnologias a serem utilizadas nas fases de implementação e operação do
empreendimento. Listar insumos e equipamentos.
2. DISCUSSÃO
2.1. Diagnóstico
Ambiental da área
2.1.1. Uso atual da terra
Constatar o uso atual da terra, dar o
percentual utilizado pela agropecuária.
2.1.2. Uso atual da água
Constatar
o uso atual da água, bem como obras de engenharia (canal, dique, barragem,
drenagem, etc.). Verificar se ocorrem fontes poluidoras.
2.1.3. Avaliação da situação
ecológica atual
Realizar
o levantamento das ações antrópicas anteriores e
atuais, bem como relatar a situação da vegetação e fauna nativas. Com os dados
obtidos inferir sobre a estabilidade ecológica dos ecossistemas da área.
2.2.4. Avaliação sócio-econômico
Analisar
a situação sócio-econômica da área, através de uma metodologia compatível com a
realidade regional.
2.2. Impactos
Ambientais esperados para a área
2.2.1. Impactos ecológicos
Listar e
analisar os impactos ecológicos, levando em consideração a saúde pública e a
estabilidade dos ecossistemas naturais, principalmente se estão
em áreas protegidas por lei.
2.2.2. Impactos sócio-econômicos
Avaliar
os impactos sócio-econômicos da área, levando em consideração os aspectos médicos
e sanitários
2.2.3. Perspectivas
da evolução ambiental da área
Inferir
sobre qual seria a evolução da área com ou sem o empreendimento.
2.3. Considerações
Complementares (quando for o caso)
2.3.1. Alternativa tecnológicas
e locacionais
Optar por
alternativas menos impactantes para o meio ambiente,
tanto em termos tenológicos como locacionais.
2.3.2. Recomendações
para minimizar os impactos adversos e incrementar os benéficos
Listar as
recomendações específicas para minimizar os impactos negativos e incrementar os
benéficos.
2.3.3. Recomendações
para o monitoramento dos impactos ambientais adversos
Desenvolver
e implantar programas de biomonitoramento, de
controle de qualidade da água, de controle de erosão, etc.
2.4. Apreciação
dos quesitos
Como
geralmente há quesitos formulados pelo Promotor, Juiz ou Delegado, neste
subitem eles deverão ser claramente discutidos e esclarecidos.
3. CONCLUSÃO
Deve ser
elaborada de forma sucinta mas, sempre que possível,
conclusiva, abrangendo os aspectos ambientais anteriormente discutidos.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O Perito
Criminal deve evitar ao máximo de entrar no mérito estritamente legal da questão
ambiental, isto é, citar lei, artigo, parágrafo, etc. Qualquer deslize "legal"
que o Perito venha por ventura cometer poderá comprometer todo o trabalho
durante o julgamento da questão. A Perícia de Meio Ambiente, assim como qualquer trabalho na área ambiental, deve ser preferencialmente
efetuada por uma equipe multidisciplinar de Peritos, e que atuem interdisciplinarmente. Em função disto, os Institutos de
Criminalística devem procurar diversificar as formações universitárias dos seus
membros.