PROGRAMA DE
FORMAÇÃO CONTINUADA — TEIA DO SABER
DIRETORIA DE ENSINO – REGIÃO CENTRO
MÓDULOS I E II
CURSO “METODOLOGIAS DE ENSINO DE DISCIPLINAS DA ÁREA DE
CIÊNCIAS DA NATUREZA, MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS DO ENSINO MÉDIO: FÍSICA,
QUÍMICA E BIOLOGIA”
PROJETO
PEDAGÓGICO: UM ESTUDO INTRODUTÓRIO
http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/gppp03.htm
Maria Adelia Teixeira Baffi — Mestre em
Educação - UFRJ
Doutoranda em Pedagogia Social - UNED
—Professora Titular FE/UCP
Petrópolis, 2002
Vivemos
a época da "cultura de projeto" em nossa sociedade, onde as condutas
de antecipação para prever e explorar o futuro fazem parte de nosso presente.
Essa influência do futuro sobre nossas adaptações cotidianas só faz sentido se
o domínio que tentamos desenvolver sobre os diferentes espaço cumpre a função
de melhorar as condições de vida do ser humano. Portanto, foi a partir desse
pensar inicial que surgiu este texto, com o objetivo de melhor compreender o significado
e o processo do projeto pedagógico.
Partindo do óbvio, como sugere Gadotti
(2001), a palavra projeto vem do verbo projetar, lançar-se para frente, dando
sempre a idéia de movimento, de mudança. A sua origem etimológica, como explica
Veiga (2001, p. 12), vem confirmar essa forma de entender o termo projeto que
"vem do latim projectu, particípio passado do verbo projecere,
que significa lançar para diante". Na definição de Alvaréz (1998) o
projeto representa o laço entre presente e futuro, sendo ele a marca da
passagem do presente para o futuro. Para Fagundes (1999), o projeto é uma
atividade natural e intencional que o ser humano uti1iza para procurar
solucionar problemas e construir conhecimentos. Alvaréz (op cit) afirma que, no
mundo contemporâneo, o projeto é a mola do dinamismo, se tomando em instrumento
indispensável de ação e transformação.
Boutinet (2002), em seu estudo sobre a
antropologia do projeto, explica que o termo projeto teve seu reconhecimento no
final XVII e a primeira tentativa de formalização de um projeto foi através da
criação arquitetônica, com o sentido semelhante ao que nele se reconhece
atualmente, apesar da marca do pensamento medieval "no qual o presente
pretende ser a reatualização de um passado considerado como jamais
decorrido" (p. 34).
Na tentativa de uma síntese, pode-se dizer
que a palavra projeto faz referência a idéia de frentes um projetar, lançar
para, a ação intencional e sistemática, onde estio presentes: a utopia
concreta/confiança, a ruptura/continuidade e o instituinte/instituído. Segundo
Gadotti (cit por Veiga, 2001, p. 18),
Todo
projeto supõe ruptura com o presente e promessas para o futuro. Projetar
significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um
período de instabilidade e buscar uma estabilidade em função de promessa que
cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo
pode ser tomado como promessa frente determinadas rupturas. As promessas tornam
visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores.
E o projeto com a qualificação de
pedagógico, qual é o seu significado? De repente, em meados da década de 90, a
idéia de projeto pedagógico vem tomando corpo no discurso oficial e em quase
todas as instituições de ensino, espalhadas nesse imenso Brasil. A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/94), em seu artigo 12, inciso
I, prevê que "os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns
e as do seu sistema de ensino, terno a incumbência de elaborar e executar sua
proposta pedagógica", deixando explícita a idéia de que a escola não pode
prescindir da reflexão sobre sua intencionalidade educativa. Assim sendo, o
projeto pedagógico passou a ser objeto prioritário de estudo e de muita
discussão.
Para André (2001, p. 188) o projeto
pedagógico não é somente uma carta de intenções, nem apenas uma exigência de
ordem administrativa, pois deve "expressar a reflexão e o trabalho
realizado em conjunto por todos os profissionais da escola, no sentido de
atender às diretrizes do sistema nacional de Educação, bem como às necessidades
locais e específicas da clientela da escola"; ele é "a concretização
da identidade da escola e do oferecimento de garantias para um ensino de
qualidade". Segundo Libâneo (2001, p. 125), o projeto pedagógico
"deve ser compreendido como instrumento e processo de organização da
escola", tendo em conta as características do instituído e do instituinte.
Segundo Vasconcellos (1995), o projeto pedagógico
é
um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafios do
cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada,
orgânica e, o que é essencial, participativa. E uma metodologia de trabalho que
possibilita resignicar a ação de todos os agentes da instituição (p. 143).
Para Veiga (1998), o projeto pedagógico não
é um conjunto de planos e projetos de professores, nem somente um documento que
trata das diretrizes pedagógicas da instituição educativa, mas um produto
específico que reflete a realidade da escola, situada em um contexto mais amplo
que a influencia e que pode ser por ela influenciado". Portanto, trata-se
de um instrumento que permite clarificar a ação educativa da instituição
educacional em sua totalidade. O projeto pedagógico tem como propósito a
explicitação dos fundamentos teóricos-metodológicos, dos objetivos, do tipo de
organização e das formas de implementação e de avaliação institucional (p.
11-113).
O projeto pedagógico não é modismo e nem é
documento para ficar engavetado em uma mesa na sala de direção da escola, ele
transcende o simples agrupamento de planos de ensino e atividades
diversificadas, pois é um instrumento do trabalho que indica rumo, direção e
construído com a participação de todos os profissionais da instituição.
O projeto pedagógico tem duas dimensões,
como explicam André (2001) e Veiga (1998): a política e a pedagógica. Ele
"é político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um
tipo de sociedade" (André, p. 189) e é pedagógico porque possibilita a
efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão
participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo". Essa
última é a dimensão que trata de definir as ações educativas da escola, visando
a efetivação de seus propósitos e sua intencionalidade (Veiga, p. 12). Assim
sendo, a "dimensão política se cumpre na medida em que em que ela se
realiza enquanto prática especificamente pedagógica" (Saviani, cit por
Veiga, 2001, p. 13).
Para Veiga (2001, p. 11) a concepção de um
projeto pedagógico deve apresentar características tais como:
a)
ser processo participativo de decisões;
b)
preocupar-se em instaurar uma forma de organização de trabalho pedagógico que
desvele os conflitos e as contradições;
c)
explicitar princípios baseados na autonomia da escola, na solidariedade entre
os agentes educativos e no estímulo à participação de todos no projeto comum e
coletivo;
d)
conter opções explícitas na direção de superar problemas no decorrer do
trabalho educativo voltado para uma realidade especifica;
e)
explicitar o compromisso com a formação do cidadão.
A execução de um projeto pedagógico de
qualidade deve, segundo a mesma autora:
a)
nascer da própria realidade, tendo como suporte a explicitação das causas dos
problemas e das situações nas quais tais problemas aparecem;
b)
ser exeqüível e prever as condições necessárias ao desenvolvimento e à
avaliação;
c)
ser uma ação articulada de todos os envolvidos com a realidade da escola,
d)
ser construído continuamente, pois com produto, é também processo.
Falar da construção do projeto pedagógico é
falar de planejamento no contexto de um processo participativo, onde o passo
inicial é a elaboração do marco referencial, sendo este a luz que deverá
iluminar o fazer das demais etapas. Alguns autores que tratam do planejamento,
como por exemplo Moacir Gadotti, falam simplesmente em referencial, mas outros,
como Danilo Gandin, distinguem nele três marcos: situacional, doutrinal e
operativo.
REFERÊNCIAS:
ANDRE,M. E. D. O projeto pedagógico como suporte para novas formas de
avaliação. IN. Amélia Domingues de Castro e Anna Maria Pessoa de Carvalho
(Orgs.). Ensinar a Ensinar. São Paulo, 2001.
BOUTINET, J. Antropologia do projeto. 5. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2002.
LIBNLO, J. C. Organização e Gestão da escola: teoria e prática. Goiânia:
Alternativa, 2001.
VASCONCELLOS, C. S. Planejamento: Plano de Ensino-Aprendizagem e Projeto
Educativo. São Paulo: Libertat, 1995.
VEIGA, I. P. A. (Org.) Projeto político-pedagógico da escola: uma
construção possível. 23. ed. Campinas: Papirus, 2001.
_______ . Escola: espaço do projeto político-pedagógico. 4. ed.
Campinas: Papirus, 1998.