IMPACTOS E PRESSÃO SOBRE OS REMANESCENTES DE MATA ATLÂNTICA
http://novo.sosmatatlantica.org.br/?secao=conteudo&id=3_6_5Após 500 anos de destruição ininterrupta, hora mais rápido, hora menos, os poucos remanescentes que restaram da Mata Atlântica continuam e continuarão sofrendo impactos até quase sua extinção total. Entre os principais motivos podemos destacar: a política desenvolvimentista da década de 1970, a poluição ambiental, o crescimento desordenado de quatro das principais capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte, a política de reforma agrária praticada na década de 1980, a falta de uma política florestal nacional, a prática de queimadas para a criação de novas áreas para pastagem, entre outros. Vamos a seguir analisar esses itens.
A política desenvolvimentista da década de 1970, incrementada pela visão militarista de grandes obras, construiu hidrelétricas, pontes, rodovias, barragens, usinas nucleares, incentivou a implantação de grandes conglomerados industriais, tais como Cubatão. Isso significou para a Mata Atlântica a perda de grandes áreas, além da sua contínua fragilização e fragmentação. Tal visão desenvolvimentista só foi encontrar os primeiros obstáculos já em meados da década de 1980, com o processo de reabertura política e o escasseamento dos empréstimos internacionais que financiavam as grandes obras.
Um dos problemas mais graves que a região da Serra do Mar sofreu na década de 1980, também em função da política desenvolvimentista, foi a implantação do pólo industrial de Cubatão, para a fabricação de aço, petróleo, cimento e produtos químicos. As consequências dessa política tornaram Cubatão sinônimo mundialmente famoso de catástrofe ecológica. Tais indústrias foram instaladas sem qualquer preocupação ou controle dos riscos ambientais, além de ter atraído para a região uma enorme quantidade de pessoas sem qualificação profissional que foram morar em favelas construídas sobre os manguezais e próximas das indústrias. A união desses dois elementos foi crucial para um aumento significativo de deslizamentos que passaram de 165 para 525 entre 1971 e 1985, causados pelas chuvas ácidas, além de uma catástrofe que provocou a morte de mais de duzentas pessoas, por conta de um vazamento de gasolina.
Um outro fator que tem contribuído para a diminuição dos remanescentes de Mata Atlântica é o crescimento desordenado das cidades. A demanda de matéria-prima, energia e espaço das cidades tem provocado cada vez mais o esgotamento da floresta. As últimas matas primárias existentes, protegidas ou não, estão sendo cortadas e vendidas. Os loteadores clandestinos agem nas brechas da falta de fiscalização, vendendo lotes baratos para a população de baixa renda, alegando uma futura regularização.
Em São Paulo, em 1997 um milhão de árvores foram retiradas da Serra da Cantareira, considerada a maior floresta urbana do mundo. Neste mesmo caminho, encontram-se as especulações imobiliárias do litoral para as casas de veraneio, com a apresentação de títulos de propriedade duvidosos, expropriações forçadas, apropriação de terras indígenas.
É nas áreas litorâneas que a Mata Atlântica sofre os maiores impactos. A especulação imobiliária, a pressão demográfica e a ocupação desregrada estimulam a degradação ambiental. O que atualmente se observa, além da ocupação clandestina, é a implantação de grandes complexos turísticos sem um planejamento ambiental devidamente orientado, novos condomínios que devastam as últimas áreas de restinga e matas de encosta. Nestes locais não são implantados sistemas de esgotamento sanitário, o que também acaba por prejudicar os poucos manguezais ainda existentes e também a fauna marinha da costa.
Dois destaques importantes que pressionaram para a ameaça de extinção da floresta foram as ações ou a falta de ações governamentais para a proteção Mata Atlântica. A política de reforma agrária da década de 1980 trouxe outros prejuízos para a Mata, já que neste período o INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária classificava a terra de matas como "subutilizada", não fazendo distinção entre floresta nativa e plantada. Neste período os proprietários de terras que se sentiam ameaçados pela prováveis desapropriações correram em vender o que restava de madeira em suas propriedades, ou então, queimavam suas reservas legais e a transformavam em pastagens.
O segundo destaque foi a falta de uma política florestal sistematizada. As unidades de conservação criadas nos últimos anos para proteger o que restava da floresta eram uma verdadeira mistura de conceitos: várias classificações diferentes, criadas de formas variadas por tipos de leis diferentes. Essa fragilidade legal abria espaço para que vários órgãos públicos se responsabilizassem por áreas de remanescentes, assim os recursos financeiros também eram dispersos, o que impedia a criação de um sistema de fiscalização único.
Muitas das unidades criadas não possuíam referência legal, ou seja, não se conhecia sua extensão, e por conseqüência seus limites, o que permitia as ações predatórias das serrarias, dos loteadores, dos pecuaristas, dos latifundiários e dos próprios governos que continuavam a implantar seus projetos sem avaliar os impactos ambientais. A burocracia também deu sua contribuição para diminuir a extensão da Mata Atlântica.
Um dos piores inimigos da floresta foi e continua sendo o fogo. A técnica adquirida no período da colonização, nunca foi abandonada pelos agricultores e pecuaristas, sejam eles grandes ou pequenos proprietários. Em 1986, 13% das terras de mata de Minas Gerais foram queimadas e em 1989 foi a vez de 300 km2 da floresta ao sul da Bahia. Por meio de inúmeras pesquisas, descobriu-se que até metade dos incêndios florestais ocorridos na mata são criminosos, o que significa dizer que a legislação não tem sido aplicada de forma eficiente.
O resultado de todos esses processos destrutivos é uma fragmentação cada vez maior da Mata Atlântica e a conseqüente perda da biodiversidade, seja pela perda de áreas significativas, seja pela diminuição da troca genética.
Bibliografia: