http://www.sul-sc.com.br/afolha/pag/thomas_Kuhn.htm
O estudo de Thomas
Kuhn, A estrutura das Revoluções Científicas, é o texto que
trouxe à tona o uso do conceito de paradigma nos anos 1970/80, aplicado à
história do fazer científico.
Um primeiro aspecto que chama a atenção é o fato do autor dirigir sua análise
sob a perspectiva de que a visão paradigmática tenciona orientar a quem se
prepara para ingressar na atividade científica. Diz explicitamente que “o
estudo dos paradigmas [...] é o que prepara basicamente o estudante para ser
membro da comunidade científica na qual atuará mais tarde”, p. 31.
Isso significa que esse candidato a cientista irá estudar modelos do campo
científico de seu interesse a fim de moldar-se nos fundamentos da “ciência
normal” (Kuhn) desse campo. Aliás o significado clássico de paradigma em
Platão, por exemplo, é a idéia de modelo. Uma vez moldado ao modelo, o novo
cientista domina uma espécie de mapa do conhecimento limitada à sua zona de
escolha. Enfim, ele tem a assimilação de um roteiro. Isto ocorre desse modo
porque “...uma comunidade científica, ao adquirir um paradigma, adquire
igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma
for aceito, poderemos considerar como dotados de uma solução possível”, p. 60.
Percebe-se, numa análise mais detida, que o conceito de paradigma, aqui
recuperado, associa-se à atividade de busca visando a transformação e a ampliação
do conhecimento. Com isso, aproxima-se bastante da idéia do mapa do
conhecimento dominado por um dado grupo. À idéia deste mapa do conhecimento
está associada a idéia da existência de um patamar básico de conhecimentos que
existiriam como necessários para dar suporte à concepção e à recepção das
questões científicas. Tal circunstância, conforme Kuhn, vai ser demonstrada
pela investigação histórica da comunidade acadêmica. Ele vai dizer que uma
investigação atinente à comunidade científica “de uma determinada
especialidade, num determinado momento, revela um conjunto de ilustrações
recorrentes e quase padronizadas de diferentes teorias nas suas aplicações
conceituais, instrumentais e na observação”, p. 67. E, diz também, que tais
ilustrações são “os paradigmas da comunidade, revelados nos seus manuais,
conferências e exercícios de laboratórios”, p. 68
No aprofundamento de sua discussão, Kuhn observa um conjunto de fenômenos que
conforma os candidatos a pesquisadores à formação de uma falsa idéia de linearidade
da evolução de seu respectivo campo especializado, que funcionaria como um
fundo não dialetizado do saber daquele domínio dando-lhe certeza do perfil do
conhecimento mais correto. Com isso, forma-se a crença nesse saber que, sendo
seguido como verdadeiro, levará imediatamente a uma resistência às mudanças.
Quando tais certezas vêm a se embaralhar e as explicações para os fenômenos
começam a ser contraditadas, ou quando outras explicações são apresentadas em
eventos científicos com tendência à aceitação e quando as práticas de
laboratório seguem principalmente teorias mais recentes e adotam outros
procedimentos metodológicos, produzindo resultados científicos mais facilmente
aceitos, está instalado outro paradigma.
De outro lado, a perspectiva Kuhniana tende a ser drástica quanto à forma de
ruptura que o novo paradigma provoca na comunidade científica. Para ele,
“quando a comunidade científica repudia um antigo paradigma, renuncia
simultaneamente à maioria dos livros e artigos que o corporificam, deixando de
considerá-los como objeto adequado ao escrutínio científico”, p. 209. Isso, não
quer dizer, naturalmente, que a ruptura se dá de imediato. No entanto, pode
significar uma guinada de fato, especialmente se for olhado como Kuhn
estabelece o conceito-síntese de paradigma. Sua concepção é a de que “um
paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente,
uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma”, p.
219.